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Conquistar o principal prêmio de um Festival com o porte da Berlinale não é coisa pouca. O Brasil já concorreu algumas vezes e trouxe para casa o cobiçado troféu em 1998 com “Central do Brasil” e em 2008 com ‘Tropa de Elite”.
Nesta 70ª edição do Festival está na disputa novamente com “Todos os Mortos”, de Marco Dutra e Caetano Gotardo, que foi filme foi muito bem recebido na concorrida sessão para a imprensa e à noite será mostrado em sessão de gala no Palácio dos Festivais.
A última vez que o Brasil concorreu foi em 2017 com “Joaquim”, de Marcelo Gomes.
Os diretores assinam o roteiro a quatro mãos, que conta a trajetória de duas famílias: uma branca, os Soares, e outra negra, os Nascimentos. Passados onze anos da assinatura da Lei Áurea, a trama esboça um panorama da sociedade republicana em construção no Brasil, marcada pelas chagas da escravidão.
Dutra e Gotardo se conheceram há 21 anos ainda calouros do curso de Cinema da USP e construíram carreiras paralelas na última década com produções de terror e agora se uniram para realizar o filme, que tem um excelente início de carreira.
Ainda sem data de estreia no Brasil, o filme com outros 17 títulos dirigidos por nomes de peso como Philippe Garrel, Tsai Ming-liang, Sang-Hoo Hong, Christian Petzold e Abel Ferrara, entre outros.
Em entrevista conosco, Dutra e Gotardo falaram sobre o filme e o significado dessa seleção por um festival tão exigente como Berlim e ainda mais na oficial concorrendo ao Urso de Ouro.
Cada um por sua vez, os diretores discorreram sobre a origem dessa história de época envolvendo memórias, passado e presente.
“Nós nos debruçamos sobre um período específico da história de São Paulo: os anos de 1899 e 1900. A ideia foi visitar essa época para investigar nela as origens de algumas relações e fraturas sociais que existem ainda hoje”, contou Dutra, complementado por Gotardo. “As personagens foram sendo criadas e recriadas aos poucos, a cada reescrita e, em especial, no contato com os atores, já quando estávamos perto de filmar”.
A realização de “Todos os Mortos” demandou um longo processo que começou em 2013, mas a participação em Berlim compensa todas as dificuldades que tiveram.
“Estamos muito felizes de estreá-lo na competição da Berlinale ao lado de nomes como Tsai Ming-Liang e Abel Ferrara – é um grande privilégio. Além disso, somos parte de um grupo grande de brasileiros que está presente na seleção deste ano em suas diversas mostras. É um momento importante para a arte e para a cultura no Brasil e estarmos todos na Berlinale é uma demonstração da nossa força criativa”, ressaltaram os diretores que, embora achem difícil prever reações, estão bastante otimistas quanto à receptividade dos espectadores.
“Estamos ansiosos para ver que diálogo ele vai criar com o público, em especial o brasileiro. É muito difícil prever a receptividade, mas felizmente esse contato já está acontecendo”, afirmou Dutra com a aquiescência de Gotardo.
Em um ano com tantas mudanças no festival e turbulências que afetam a arte, é difícil mesmo arriscar previsões quanto ao Urso de Ouro, mas é importante destacar que “Todos os Mortos” dialoga muito bem com o perfil da Berlinale e da mostra, marcada nesta edição por produções que desafiam convenções e pela diversidade.