Se cerveja artesanal fosse uma religião com certeza o Empório Alto dos Pinheiros, em São Paulo, seria uma espécie de “meca” nacional. Não faltariam fabricantes, caseiros ou profissionais, que fariam suas fabricações voltados para lá. Outros com certeza se veriam na obrigação de visitar o EAP uma vez por semana. Afinal, uma vez na vida é pouco para provar tanta coisa boa.
Atualmente, o local conta com mais de 43 torneiras de chope (algumas são plugadas ocasionalmente) e cerca de 400 rótulos. Muito para a maioria dos lugares, mas pouco perto dos mais de 800 que a casa já teve. Isso porque ela está em constante movimento e mudança.
O EAP já foi premiado diversas vezes por diferentes júris e publicações como um ótimo estabelecimento cervejeiro. Só na Veja – Comer e Beber foram nove indicações desde 2011, três vencidas na categoria “Carta de Cervejas” e duas em “Chope”. Também foi eleito pelo site americano Thrillist como um dos 21 melhores locais para beber cerveja no mundo – sendo o único do Brasil e da América Latina.
Mas o EAP não nasceu cervejeiro e a construção dessa imagem não é de hoje. Em 2008, quando abriu, era um empório gastronômico, com produtos variados e de qualidade, que tinha também uma rotisserie e restaurante, conta o sócio proprietário Paulo Almeida. Nesse momento, eram apenas 40 rótulos de cervejas importadas e cerca de 10 nacionais. “Aos poucos, os clientes foram pedindo e a cerveja cresceu, tomando conta dos espaços dos outros produtos.”
“Era um projeto da minha esposa. Quando nasceu nossa filha ela fez uma pós-graduação estudando assuntos com alimentos orgânicos, inserção no mercado, agricultura familiar… Disso veio a ideia de abrir um empório. Eu já dava meus palpites e, quando um dos sócios saiu, me colocaram no negócio”, diz Paulo, que divide a sociedade com a esposa, Roberta Teixeira da Costa, e o sogro, Roberto Teixeira da Costa. Paulo inclusive brinca que já estava
um pouco predestinado a ser dono de bar. Cursou Economia e Artes Cênicas simultaneamente, mas não concluiu nenhuma das graduações. No entanto, atuou como iluminador de teatro e produtor durante anos. Também foi dono de casa noturna, o que garantiu alguma experiência nesse tipo de negócio. Há muita gente que considera que o Paulo é um dos segredos do sucesso do EAP, assim como sua capacidade de estar antenado ao mercado e suas mudanças.
A grande virada
Segundo Paulo, a primeira grande mudança do EAP foi em 2010, fazendo da cerveja a protagonista da casa. Ele marca até o fato que simbolizou isso: o primeiro encontro dos frequentadores do Brejas, um site e fórum sobre cervejas que posteriormente virou referência no assunto no país. “Foi um sucesso. Fizemos mais quatro depois disso.” Muita gente que estava aprendendo sobre cerveja na época se conheceu nesses eventos. Ou seja, eles ajudaram a formar uma das bases do movimento de cervejas artesanais do Brasil.
“Tinha toda aquela empolgação do começo. De sentir que aquilo era uma revolução mesmo. Hoje, a maioria das pessoas dessa época já trabalha com cerveja”, diz. “A gente viveu o movimento. É como se o EAP fosse um desses entusiastas”, completa. E, de certa forma, era mesmo, por meio da figura do Paulo. A medida em que novas cervejas apareciam, ele corria atrás para trazer para a casa. Com isso, também veio outra fase, onde o consumidor passou a estudar mais, a pedir um serviço correto da cerveja, demandar mais variedade e surgiram os cursos de sommelier.
Das antigas às novas fases
Paulo diz que foram muitas fases pelas quais o EAP passou, sempre crescendo. Em uma delas aconteciam lançamentos de cerveja quase que diariamente por lá. “Eu acho que isso até passou um pouco da conta”, diz. Ele explica que já houve uma época em que havia escassez ou inexistência de certos estilos de cerveja no Brasil e fazia sentido lançar a cerveja em primeira mão no EAP. Mas hoje há muitos produtos que entram e saem tão rápido que se você não provou, não prova mais. “É um mercado novo. Deve estar na adolescência”, diz.
Atualmente o EAP até briga para não ser mais “o lugar que tem tudo”, fama que conquistou atendendo a essa demanda por anos. Isso porque os tempos mudaram e o mercado cresceu. Há mais players onde o consumidor pode comprar cervejas, como brewpubs, lojas online e clubes de cerveja. Além disso, seria impossível ter todos os rótulos, já que devem existir entre 15 e 20 mil rótulos, segundo Paulo. Em razão disso e da crise dos últimos anos, a solução foi focar em um nicho de consumidores mais especializados. “Tem gente que usa o termo ‘geek’, tem gente que não gosta. Mas é nerd de alguma forma, no sentido de estar sempre avançando no conhecimento”, diz.
Apesar disso, Paulo estima que 90% do público que frequenta o EAP é de entrada. “Mas existem vários tipos de público de entrada também. Existe aquele que gosta de ostentar sua cerveja artesanal em um local chique e aquele que quer beber em um lugar onde tenha barbudo cheirando copo, um lugar autêntico”, brinca. Ele explica que essa autenticidade, assim como ouvir o cliente sempre, são alguns dos segredos do sucesso. Paulo não tem escritório. Ou trabalha de casa ou do salão, sempre ouvindo o que os frequentadores querem, comprando cervejas novas, remodelando o espaço. “Esse é um bar de dono, não um bar de gerente. E é por isso que não abrimos filiais. Não daria certo”, finaliza. De certa forma, o EAP evoluiu assim como Paulo em seu gosto pela cerveja. E isso é claro para ele. “Sou o cliente do meu próprio bar. Compro a cerveja aqui quando ela me emociona de algum modo”, conta. Para o futuro, ele diz que espera ter energia e inspiração para continuar surpreendendo, reconquistando o cliente sempre. Desse jeito, Paulo, o EAP continuará sendo a “Meca”. Talvez não mais como o lugar que tem tudo, mas como aquele que mais agrada quem é verdadeiramente apaixonado por cerveja.
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