Um dos clichês mais comuns nos debates sobre o aborto é a tentativa de vincular qualquer um que se oponha à legalidade da prática a uma suposta direita política, necessariamente religiosa, e omissa em relação aos direitos das mulheres. A construção do estereótipo parte da ideia de que quando alguém se declara pró-vida, necessariamente também adere a uma série de outras convicções apresentadas com uma forte carga negativa.
Para um debatedor honesto é fácil perceber a fragilidade das afirmações, mas nada como exemplos para trazer à tona o óbvio. Com exceção dos ideólogos militantes, as pessoas não pensam conforme caixinhas de ideias pré-definidas, aderindo a tudo que tem o rótulo de “progressista” ou “conservador”. Especialmente quando se trata da defesa da vida humana, é a coerência e a racionalidade que leva gente muito diferente a se unir pela proteção dos bebês e embriões que ainda estão no ventre materno.
No Brasil, um dos símbolos mais conhecidos desse desprendimento é a ex-senadora e ex-candidata à presidência da república Heloísa Helena. Socialista assumida, ela admitiu em entrevistas que um dos motivos que a levou a abandonar o partido que fundou – o PSol – foi a tentativa de fazê-la acatar a defesa do aborto, indo contra sua consciência. Mesmo sem abandonar a defesa de políticas tradicionalmente ligadas à esquerda, ela foi uma das estrelas na Marcha Pela Vida, que ocorreu em Fortaleza, em novembro do ano passado. Atualmente ela trabalha com a também ex-senadora Marina Silva que, assim como Heloísa, é contra a descriminalização do aborto.
Nos Estados Unidos, algumas instituições parecem ser ainda mais emblemáticas. Um exemplo é o grupo Democrats for Life, formado por políticos e filiados ao partido Democrata, mas que discorda da posição majoritária do partido no que diz respeito à legalidade do aborto. O fato de contar com um presidente norte-americano abertamente a favor da prática parece não intimidar a convicção de seus membros.
A organização Feminists for Life é outro exemplo de que a defesa da vida desde a concepção não exclui o engajamento pelos direitos civis das mulheres. O texto sobre a missão da FFL, exposta em seu site, explica com simplicidade e clareza o vínculo entre uma causa e outra.
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Se você acredita na força das mulheres e do potencial de cada vida humana
Se você se recusar a escolher entre mulheres e crianças
Se você acredita que nenhuma mulher deve ser obrigada a escolher entre sacrificar seus planos e sua educação ou sacrificar seu filho
Se você rejeita a violência e a exploração
Junte-se a nós para desafiar a satus quo
Porque as mulheres merecem melhores escolhas
Bem-vindo a Feminists for Life
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