Para as mil pessoas que estão na fila de transplante de córneas no Paraná o assunto é muito sério. Para os familiares dessas pessoas também. E ainda deve preocupar todos que estão sujeitos, num futuro breve, a depender de uma combinação de solidariedade humana e boa vontade governamental.
É preciso ressaltar que o descarte de córneas é inevitável. Na média mundial, quatro em cada dez não são aproveitadas.
Mas um relatório inédito preparado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária mostra que há muito a ser feito para melhorar o sistema no país e principalmente no estado.
Afinal, somente falhas no processo podem explicar o fato de 289 córneas não terem sido usadas no ano passado porque não foram transplantadas dentro do prazo de validade (de 14 dias).
O relatório aponta também que é necessário reavaliar os testes usados para verificar a contaminação do doador por hepatite B. De acordo com os exames realizados, mais da metade do que foi descartado no estado estava infectado com a doença. O alto índice – dez vezes maior que o encontrado na população – pode ser um indicativo de que os testes estão errados. E deveriam ser mudados.
Mais que problemas, o relatório indica que há solução. E para os paranaenses que aguardam na fila do transplante de córneas por mais de um ano deve ser difícil saber que ali no estado vizinho, São Paulo, a espera é de 15 dias. Tudo isso porque foi investido em algo que custa relativamente muito pouco: criação e treinamento de várias equipes de captação.
E o investimento tem retorno garantido. Porque além de diminuir o sofrimento para o paciente e para a família pelo tempo de espera, cai também a despesa previdenciária resultante de manter pessoas por tanto tempo fora do mercado de trabalho e, muitas vezes, dependendo de benefícios públicos.
Você conhece alguém que espera transplante? Algum familiar seu foi abordado, em caso de morte de um parente, para autorizar a doação de córneas? O governo faz o que deve para promover a doação e o transplante?