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No último mês, duas matérias me apresentaram a uma história pouco comentada nos círculos da memória curitibana: a da presença dos judeus na cidade, a partir do final do século 19, com acento maior a partir da Segunda Guerra.

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O que uma reportagem sobre a história de uma casa e de uma família pode mudar na vida dos leitores? Ora, muda a relação com a rua, com o espaço, quiçá com a própria memória. A moradia da Riachuelo, 407 – uma Unidade de Interesse de Preservação em vias de desabar – é o endereço do que os especialistas chamam de “pequena história”. A expressão se refere àqueles fatos modestos, cotidianos, mas que são representativos da mentalidade de uma época.
Dora e Jaime – à revelia da rotina de trabalho na Casa Paris – eram dois sobreviventes. Talvez por isso tenham feito de seu endereço o entreposto para jovens judeus, que ali encontravam a mesa farta, mas também a alegria a irreverência do dono da casa. Jaime é descrito pelos sobrinhos Geni Wilner e Bernardo Rzeznik, herdeiros do 407, como um homem alegre, dado ao carteado, irreverente. Em miúdos, traduziu em sua vida o encontro com o Novo Mundo, longe das agruras do nazismo.

Na esteira do encontro com Sabine, Geni – a sobrinha que Dora e Jaime queriam como filha – e Bernardo acabou levando a um quarto personagem: o ex-secretário da prefeitura e de governo, hoje comerciante, Gerson Guelmann. Ele reúne material para escrever a história de Salomão Guelmann, o homem que recebeu dezenas de judeus foragidos do Terceiro Reich. Sua ação em prol dos foragidos merecia ser contada nas escolas. Talvez não o façamos por timidez ou por ignorância.

Terminada a reportagem, o desejo é que Gerson termine logo seu livro e nos dê a oportunidade de conhecer em profundidade a luta desse Oscar Schindler à curitibana.
Em tempo. Personagens não faltam na comunidade judaica. Gerson, por exemplo, é dono de uma pequena rede de lanchonetes especializada em esfihas, uma iguaria árabe. Margarita Wasserman – que ajudou a reconstruir a memória dos Lerner – se tornou escritora já na terceira idade. É dela o conto a viva-voz que acompanha a reportagem. Geni Wilner, a sobrevivente, ainda observa a casa da Riachuelo, 407 pela janela. Tem saudade do marido Izaac Wilner, morto há dez anos, a quem cita a cada minuto. Mas avisa que pede a ele que não a chame para estar com ela. Gosta muito de estar por aqui – precisamente na Riachuelo, à revelia de todos os problemas que têm. Essa é a marca dos sobreviventes.