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Um primo e o crack, aos 11 anos
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A história de João*, 13 anos, (foto) é uma entre tantas que escutei ao longo das entrevistas para a série sobre o crack, que a Gazeta do Povo vem publicando desde domingo, e que ficou de fora da edição impressa de hoje, que fala do efeito devastador da droga na infância. São histórias de famílias desestruturadas, más influências, separação e morte. Não tanto pelos efeitos nocivos da droga em si, mas pela violência que essa pedra traz com ela.

Marcelo Elias/Gazeta do Povo
João: efeito devastador da droga.

Há cinco meses na Chácara dos Meninos de 4 Pinheiros, em Mandirituba, região metropolitana, João experimentou o crack com 11 anos de idade com um primo um pouco mais velho. Fez furtos e roubou para sustentar o vício recém-adquirido. “Meu primo traficava e teve um dia que nós compramos R$ 1 mil em pedra. Passei a noite inteira fumando”.

Ele diz que não lembra muito bem dos momentos que passou com o primo, no uso das drogas. Está na 3.ª série, não pela primeira vez, e diz que “no geral” tem se concentrado e conseguido “fazer bem as coisas”. Com, ao menos, outros seis irmãos, afastados da mãe, cada um em um abrigo, João sente falta, principalmente da irmã de 3 anos, com quem chegou a ficar por sete meses em outro abrigo antes de vir para a chácara.

Com a mãe moram, atualmente, apenas um irmão mais velho, de 18 anos, e um bebê, que acaba de nascer. Quanto às drogas, João diz, bastante seguro, que não quer mais e que não sente vontade. Sua meta desde que chegou na chácara é ser motorista de caminhão, objetivo que está fixado no Painel dos Sonhos do refeitório da chácara, onde os meninos colam figuras e desenhos sobre o que querem ser quando crescer.

Na mira do tráfico

Ontem liguei para a psicóloga Caroline Fernanda Rocha, da Casa de Recuperação Água da Vida (Cravi), para saber como estavam os meninos que entrevistei para a série sobre o crack, que a Gazeta do Povo vem publicando desde domingo e que hoje mostra o efeito devastador sobre a infância.

Ela me disse que todos estavam bem, menos Daniel*, um garoto bonito de
15 anos, mas com tamanho de 11 (uma provável consequência do uso de maconha e crack, tanto por ele, quanto pela mãe durante a gestação) que está na matéria de hoje da série.

Caroline me disse que foi após uma conversa com a tia, que é quem cria Daniel, que ele ficou perturbado e acabou fugindo. Ele estava em tratamento há apenas poucas semanas e durante a entrevista demonstrou ainda bastante insegurança e negação em relação ao vício. Caroline me disse que teme que ele volte a usar drogas como antes e pior, que está ameaçado de morte no local onde vive, em Almirante Tamandaré.

*nomes fictícios

Leia a série sobre o crack, publicada na Gazeta desde domingo, e deixe abaixo sua opinião sobre a reportagem

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