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1000 dias chega ao Atacama
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Por Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Vicuñas no caminho ao Paso San Francisco, Argentina.

Começamos a semana com um objetivo: atravessar a fronteira entre a Argentina e o Chile. Nosso plano inicial era atravessarmos por um dos mais belos pasos ao Chile, o Paso San Francisco. Pegamos estrada de Fiambalá até Las Grutas, onde fica o complexo fronteiriço, 130 quilômetros de um cenário espetacular! Entre montes nevados, dunas de areia, morros coloridos, lagoas, vicuñas e apenas nós na estrada. Mais um indicativo de que a fronteira não iria abrir, mas a esta altura já não importava, só a maravilhosa paisagem andina já faziam a viagem valer à pena.

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Imprevistos acontecem: pneu estourado atrasou cronograma em mais de cinco horas.

O “plano b” logo teve que entrar em ação e já no caminho em direção ao Paso de Jama, tivemos outra surpresa: um pneu estourado! Ele não apenas furou, ele desmontou completamente! Nada que 5 horas de espera e muitas idas e vindas não resolvam a situação. Enfim, o cronograma da viagem acabou atrasando, dormimos esta noite em Purmamarca e no dia seguinte pegamos o carro em direção à fronteira. Susques é um lugarejo no estado de Salta na Argentina, que fica há 130km da fronteira com o Chile. Está a 4.100m de altitude e neste inverno foi registrada a mínima de -20°C, no mês de julho, quando o paso ficou fechado por quase um mês. A temperatura estava variando entre -8°C em Susques e chegou a ficar em -4°C na estrada. Chegamos à fronteira entre a Argentina e o Chile a 4.400m e -9°C.

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Neve fecha a estrada do Paso San Franciso em direção ao Chile.

A fronteira só estava abrindo entre 8h30 e 10h30, pois a travessia do lado chileno seria feita em comboio devido à quantidade de neve ainda existente na estrada. Pacientemente chegamos aos 4.750m, montanhas, lagos maravilhosos, vicuñas e muita neve depois, começamos a avistar um horizonte ao longe. Uma imensa planície terracota. Sim, é ele… o Deserto do Atacama!

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Igreja matriz da cidade de São Pedro do Atacama, no Chile.

São Pedro do Atacama é um dos destinos mais caros do Chile. Na entrada, a impressão que temos é de uma cidade muito pobre e feia. As ruas são de terra e meio bagunçadas. As casas são todas de adobe, telhado de palha, pequenas por fora, mas grandes por dentro. As cores que faltam do lado de fora saltam aos olhos dentro das pousadas, restaurantes e nos artesanatos. A praça central é super convidativa, uma igreja toca branca e de arquitetura rústica, com detalhes em madeira de cardón e a uma simplicidade perfeita. Este pequeno oásis no meio do deserto recebe ao ano mais de 100 mil turistas! Não é à toa, os cenários espetaculares entre uma imensa planície seca e marrom, cercada de montanhas andinas e vulcões nevados, salinas e lagoas salpicadas de flamingos cor-de-rosa são, sem dúvida alguma, diferente de tudo que estamos acostumados.

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Lua cheia no Vale de La Luna, no Chile.

O Vale da Lua é a mais conhecida atração, há apenas 15 minutos de carro da cidade. Formações rochosas como as Três Marias, paredões areníticos e suas imensas dunas, cavernas e cânions. Ao final do dia todos fazem uma espécie de peregrinação ao topo da duna para assistir ao pôr do sol. É curioso como este fenômeno acontece, independente de onde esteja, o ser humano repete rituais de contemplação à mãe natureza. Enquanto o sol se punha de um lado, a lua cheia nascia do outro, um espetáculo duplo e inesperado.

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Aldeia de Tulor, uma das atrações da capital arqueológica do Chile.

Aproveitamos o holofote natural para continuarmos a explorar o Vale da Lua, agora com menos turistas e mais exclusividade.
As civilizações pré-colombianas também fazem parte da história do Deserto do Atacama. Não por acaso São Pedro também é conhecida como a capital arqueológica do Chile. Nas suas proximidades existem diversos sítios arqueológicos, como a Pukará de Quitor, as pinturas rupestres de Rio Grande e as ruínas da Aldeia de Tulor.
No Salar do Atacama, perto do povoado de Toconao, encontra-se um dos lugares mais impressionantes da região. A Lagoa Cháxa (leia-se tcháqsá), está localizada no Setor Soncor do salar e dentro da área da Reserva Nacional Los Flamencos. A 2.300m são mais de 320 mil hectares onde podemos observar os cristais de sal formados pela evaporação das águas salgadas subterrâneas. O horário preferido dos tours para este passeio é o final da tarde, pois além do espelho d´água proporcionar um colorido espetacular, é o horário de alimentação da principal atração do parque: os flamingos. São três tipos na região, o Andino (Parina Grande), o Flamingo Chileno (Flamenco Chileno) e o Flamingo James (Parina Chica).

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Belíssimo salar a caminho do Chile, Paso de Jama.

Localizada em uma depressão Antiplanica, São Pedro do Atacama está a 2.438m, entre a Cordilheira Domeyko e a pré-cordilheira Andina. As montanhas nevadas marcam o seu horizonte, sendo o Licancabur o principal personagem dos postais e fotos da cidade. Licancabur é um vulcão com 5.590m de altura e no formato cônico mais tradicional que estamos acostumados a ver em desenhos animados. Lindo e imponente, ele marca a paisagem e é personagem de uma história muito curiosa. Reza a lenda que Licancabur e seu vizinho Juriques (5.704m) se apaixonaram pela distante montanha de Quimal (4.278m), localizada na Cordilheira de Domyenko. Na disputa, Licancabur enfurecido teria decepado a cabeça de Juriques, reinando pleno como o vulcão bonitão na cordilheira andina.

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Trekking no Cerro Toco, acima dos 5.000m de altitude.

Com uma cadeia de montanhas como esta foi impossível São Pedro não ter se tornado também um oásis para os montanhistas. Assim decidimos fazer um trekking de um dia, procurando a montanha de mais fácil acesso, o Cerro Toco. Um detalhe, de toco ele não tem nada, são 5.604m de altura. Partimos dos 4.800m e em duas horas fomos até as minas de enxofre abandonadas, aos 5.300m. Andamos muito mais do que o planejado e ainda assim não chegamos ao cume, já que o acesso à trilha principal estava fechado pela neve.

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Geisers El Tatio, os mais altos do mundo.

Fechamos a passagem pela região do Deserto do Atacama com mais uma paisagem interplanetária. São 99km até o Complexo Termal de Tatio, onde encontramos os Geysers mais altos do mundo, a 4.320m. Uma paisagem exótica, diferente de tudo que já havíamos visto na vida. Torres de fumaça de 5, 10m de altura espalhadas em uma baixada entre montanhas nevadas e vulcões extintos. A temperatura do vapor pode chegar a 85°C no complexo que é composto por 40 geysers, 60 termas e 70 escapes de fumaça nos apenas 3km2.

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Flamingos se alimentam na Laguna Cháxa.

Aqui tudo é imenso, todo o cenário tem proporções andinas! Montanhas imensas e vales profundos enganam nossos olhos e fazem desse cenário real, um filme de ficção no mundo das maravilhas.
Próxima Semana
Pegamos uma estrada alternativa rumo ao Salar do Uyuni, passando pelo Parque Nacional da Fauna Andina Eduardo Avaroa, já na Bolívia. São lagoas de diferentes colorações, vulcões ativos, termas e diversas salinas até chegar ao maior salar do mundo.

Veja também o site dos nossos viajantes no site.

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