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1000 dias entre o Paraguai e a Bolívia

Por Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Bandeira paraguaia, comum nas ruas em tempos de bicentenário e Copa América.

Terceiro dia no Paraguai ecomeçamos a nos sentir um pouco mais integrados à sua cultura. Já comemosempanadas, tomamos uma Pilsen e provamos as famosas chipas! O Paraguai estácomemorando este ano o Bicentenário da Independência. Todas as casas, comérciose prédios públicos estão enfeitados com as cores da bandeira nacional: azul,vermelho e branco. Chegamos em um momento em que o país está forte, orgulhoso ese preparando para as festividades no mês de julho. Oportunamente o time defutebol paraguaio estava passando por uma boa fase, depois de eliminar o Brasilna Copa América. Sem ressentimentos torcemos e gritamos “FuerzaParaguai!”, mas infelizmente os Uruguaios foram mais competentes elevaram a taça.

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Igreja Jesuíta na cidade de Villarrica, Paraguai.

A semana começou na cidadehistórica fundada em 1570, Villarrica nos foi indicada por uma argentina queconhecemos na Chapada dos Veadeiros. Infelizmente a sua arquitetura colonialnão está bem preservada, há resquícios dela aqui e ali, como as ruas de pedra,a igreja e casarios antigos, mas não estão preservados como mereceriam. Aindaassim, é um ótimo ponto de apoio no caminho entre as Missões e Assunção e setiver um pouco mais de tempo, pode-se aproveitar para conhecer as cachoeiras doParque Ybycuí, que fica há uns 40 minutos de carro.

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Rio Paraguay e suas viviendas temporárias, Asunción – Paraguai.

Assunção é uma cidade de 1,2milhões de habitantes às margens do Rio Paraguay. O centro histórico sedesenvolveu ali e ainda é o centro político da capital, porém à beira rio ficamas favelas, também conhecidas como viviendas temporárias, já que estãosujeitas à alta do rio. A melhor forma de conhecer o centro histórico écaminhando. Aqui fica claro o contraste entre a riqueza e a pobreza do povoparaguaio. Avistamos o rio e logo abaixo as favelas, não muito diferentes dasque encontramos em Recife, Rio ou Salvador. O policiamento nas ruas é grande,quase ostensivo, ficando clara a preocupação com a segurança na região. Assimsendo, continuamos caminhando, nos sentindo ainda mais seguros, pelo centrolimpo e arborizado e chegamos ao imponente Palácio do Governo, em estágio finalde restauração. Logo em frente fica o Centro Cultural Manzana de La Riviera, umconjunto de casas antigas restauradas que deu espaço a um museu sobre ahistória da cidade de Assunção, salas de exposição e um restaurante com vistapara o Palácio. Vale a visita. Como estamos próximos da comemoração doBicentenário da Independência, declarada em 20 de julho de 1811, todos osedifícios públicos estão passando por restaurações e reformas, lindos por forae fechados por dentro.

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Palácio do Governo Paraguaio, em restauração para as comemorações do Bicentenário da Independência. Asunción – Paraguai

Assim nos despedimos da capitalcomeçamos o nosso roteiro em direção à Bolívia. Saímos de Assunção em direção àSucre, são mais de 1,4 mil quilômetros de muitas paisagens pela frente. Aprimeira etapa é famosa entre os expedicionários e motociclistas que seaventuram por terra até o Atacama. A Rota 9, também conhecida como Transchaco,no Paraguai é muitas vezes evitada por viajantes, já que cruza uma das áreasmais ermas e quentes do país. Outro motivo é a afamada corrupção dos policiaisparaguaios, que sempre arranjam um jeitinho de ganhar em cima dos viajantesestrangeiros.

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Campanha do Ministério do Turismo – “Eleja os melhores banheiros nas estradas”.

Neste trecho, nos deparamos comuma ótima campanha feita pelo Ministério de Turismo do Paraguai em conjunto comuma operadora de telefonia: “El baño es el reflejo de la cocina. No consuman donde los baños no estén en buenas condiciones”. O cartaz nos convida atirar fotos (com o celular) e postar no facebook e twitter da campanha,elegendo os melhores banheiros da rota. Além de criar a conscientização nas redes de postos de gasolina, criam uma interação entre os viajantes e a empresa de telefonia e ao final todos saem ganhando! Sensacional! Deveríamos fazer umacampanha igual no Brasil.

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Filadélfia, cidade de colonização alemã em pleno Chaco, Paraguai.

A surpresa que tivemos nestecaminho foi a cidade de Filadélfia. Quando nós poderíamos imaginar que em uma região onde vive apenas 3% da população paraguaia vamos encontrar uma colôniaalemã? Esta região foi colonizada entre 1927 e 1947 por grupos de menonitas canadenses, soviéticos e ucranianos-alemães que buscavam refúgio da guerra e um espaço em que tivessem liberdade religiosa e administrativa. O governoparaguaio os cedeu este espaço, pensado ser seco e improdutivo, para que se estabelecessem. Hoje a região é a principal fornecedora de produtos lácteos dopaís. O alemão é falado por todos, o espanhol já é encontrado entre os mais jovens e o guarani, também é usado por alguns fazendeiros.

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
El Chaco Paraguaio, região de clima seco no norte do Paraguai.

No segundo dia pela Transchaco cruzamos a região conhecida como Chaco Seco, área de clima semi-árido que lembra muito o nosso grande sertão. Esta região foi disputada pela Bolívia e Paraguaina Guerra do Chaco, desconhecida por nós, mas muito importante na história destes dois países, que perderam, juntos, mais de 80 mil vidas. A guerra peloterritório começou por uma suspeita de que ali haveria petróleo. Grandes empresas do ramo tomaram partido e financiaram a guerra: a Shell, pelo lado Paraguaio, que foi o vencedor; e a Standart Oil, do lado Boliviano. No entanto, nem piche foi encontrado.

A Transchaco é o ponto de acessoaos três dos principais parques nacionais, o Defensores Del Chaco, no extremo norte do país, o Medanos del Chaco, à noroeste e o Parque Nacional TenenteAgripino Enciso, este mais próximo da nossa rota à Bolívia. Neste trecho não hánada, apenas fazendas e propriedades rurais. São quilômetros e quilômetros semencontrar um posto de gasolina ou uma venda. Após um pernoite no ParqueNacional Tenente Agripino Enciso, finalmente cruzamos a fronteira com a Bolívia.

Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Cruzamos a fronteira Paraguai e Bolívia.

Foram mais de 10 horas de viagem,grande parte delas dentre os trâmites burocráticos nos postos de imigração eaduanas de ambos os países. Na Bolívia há pedágios e postos de controle doexército praticamente a cada 100 km. Passamos rapidamente por Villamontes echegamos até Monteagudo, já na subida para o altiplano boliviano. Esta região pertence ao estado de Santa Cruz, que lidera um movimento separatista no país. Coincidência ou não, estas são cidades organizadas, limpas e muito diferentesda região de La Paz, que conhecemos em outras viagens, anos atrás. A Bolívia se apresenta um novo país, melhor, mais organizado e com toda a diversidade cultural e os belos cenários já reconhecidos por turistas do mundo todo.

Na próxima semana vamos explorar o altiplano boliviano. Seguiremos para a cidade de Sucre, conhecida como a cidade branca, primeira capital do país. Potosí, a 4.060m de altitude,considerada a cidade mais alta do mundo e Tarija, já quase na fronteira com a Argentina.

Veja também o site dos nossosviajantes no www.1000dias.com.

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