Por Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Nesta semana exploramos o sul da Bolívia, passando pela histórica Sucre, capital constitucional do país; por Potosí, a mais alta cidade do mundo e por Tarija, centro da região produtora de bons vinhos bolivianos. Em seguida chegamos à Argentina, à pequena cidade de Tilcara, em meio às magníficas paisagens da Quebrada de Humahuaca.
Foi em Sucre que foi declarada a independência da Bolívia, há quase 200 anos. Lá também se reunia o congresso da nova nação, pelo menos ao longo do século 19. Mas a cidade de La Paz foi ganhando mais força econômica ao longo do tempo e, com isso, para lá foram transferidas as sedes do poder executivo e legislativo. Mas isso foi feito sem que se alterasse a constituição boliviana, que continua determinand Sucre como sua capital. Por isso, a estranha situação de um país com uma capital de fato, La Paz, e outra constitucional, Sucre.
A cidade é uma das mais belas do país, com o centro antigo muito bem preservado e com quase todas as suas construções pintadas de branco. A cor vem da cal utilizada para defender seus habitantes das pragas que assolavam o país. Com o tempo, a cor se tornou marca registrada de Sucre e hoje, por lei, deve ser mantida. Por suas ruas estreitas circulam carros em trânsito caótico e milhares de estudantes, já que Sucre tem muitas universidades.
No meio de tudo isso, turistas de todo o mundo frequentam seus cafés, restaurantes e museus, emprestando um ar cosmopolita à cidade. Uma das maiores atrações é o Parque Cretáceo, construído no local onde foram encontradas centenas de pegadas fossilizadas de dinossauros que viveram na região. Um parque muito bem estruturado com maquetes em tamanho real que muito nos impressionaram.
De Sucre seguimos para Potosí, a cidade mais alta do mundo, aos 4 mil metros de altitude. Por dois séculos, além de ter esse título, também era considerada a cidade mais rica das Américas, quiçá do mundo. Afinal, é ali que está o Cerro Rico, montanha de onde se extraíram centenas de toneladas de prata ao custo de milhares de vidas de indígenas submetidos ao trabalho forçado nas minas. Toda essa prata seguiu para a Espanha, a grande potência colonial da época, mas também sustentava uma economia que atraiu 200 mil pessoas para viver na cidade, isso ainda no século 17.
Quando a prata finalmente se esgotou, a cidade entrou em decadência, afinal ninguém mais queria viver naquela altitude. Mas, algumas décadas depois, a mineração da prata foi substituída pela mineração de estanho e a cidade viveu novo boom econômico. Hoje, além das atividades de mineração, é o turismo que também traz muitas divisas. Gente do mundo inteiro chega para conhecer as famosas minas de Potosí e o árduo trabalho dos que ainda hoje passam horas e horas por ali, tentando fazer o seu sustento. Uma realidade nua e crua que certamente marca aqueles que a conhecem de tão perto.
Além das minas, Potosí também tem muitos outros atrativos para quem a visita. As construções históricas, como suas igrejas, são belíssimas. Suas ruas e restaurantes são sempre muito movimentados, um desfile da cultura andina e também de todas aquelas que estão ali só de passagem. A paisagem ao redor da cidade, em pleno altiplano boliviano, é absolutamente magnífica. Àquela altura, as cores são mais fortes e os contornos mais nítidos. Montanhas e desertos se mesclam numa combinação perfeita, paisagens de encher os olhos.
Em meio a isso tudo, lagoas termais que já atraiam os incas do Peru, há mais de cinco séculos, com suas águas e barros medicinais. Nadamos em uma delas, o “Ojo del Inca”. Enquanto do lado de fora a temperatura era de menos de 10 graus, dentro da água tínhamos confortáveis 30 graus. Difícil mesmo foi sair da água…
Rumando para o sul, em direção a Argentina, paramos também em Tarija, cidade que atrai muitos brasileiros para suas universidades. É uma cidade diferente das outras que vimos na Bolívia, com ruas largas e arborizadas e um trânsito ordenado. A maior atração são os deliciosos vinhos da região e também a saborosa culinária que foi desenvolvida para acompanhar esses vinhos.
A baixa altitude também foi um refresco para o corpo, depois de tantos dias acima dos 3 mil metros. Outra coisa inesquecível foi a beleza da estrada que une as duas cidades, tão cheia de paisagens impressionantes. O interessante é que esta estrada está sendo asfaltada pela empreitera brasileira OAS.
Finalmente, deixamos esse belo país para trás e entramos na pátria dos hermanos, a Argentina. Chegamos justo numa das mais belas regiões do país, a província de Salta, com suas montanhas coloridas, vales colossais cavados por antigas geleiras e o famoso tren de las nubes, uma das mais altas linhas férreas do mundo.
Nós seguimos diretamente para a Quebrada de Humahuaca, principal corredor de passagem desde tempos coloniais entre a Argentina e a Bolívia. “Quebradas” são esses vales escavados por antigas geleiras e que hoje são leitos de pedra por onde passam pequenos rios e também as estradas criadas pelo homem. São paisagens completamente distintas daquelas que temos no Brasil e por isso tanto nos impressionam.
Ali se pode visitar ruínas de antigas civilizações pré-incaicas, assim como antigos campos de batalha da sangrenta guerra de independência argentina, no início do século 19. A pequena cidade de Tilcara oferece pousadas charmosas a preços muito convidativos para nós, brasileiros. E a fria noite é esquentada com lareiras e deliciosos vinhos locais, tornando a estadia ainda mais agradável.
Na próxima semana, continuaremos explorando o norte da Argentina, a badalada cidade de Salta e seus alredores, como a pequena vila de San Antonio de los Cobres, a mais alta do país, a mais de 4 mil metros. É para lá que o famoso tren de las nubes leva turistas numa jornada entre as montanhas. Depois, seguiremos um pouco mais ao sul, onde pretendemos passar para o Chile por aquele que é considerado o mais belo dos “pasos” pelos Andes, o San Francisco, a mais de 4.700 metros de altitude, por entre lagoas coloridas e montanhas nevadas.