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Mil dias pelas Amérias: de Mangue Seco à Chapada Diamantina
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Fotos: arquivo pessoal
Rodrigo e Ana no alto do Morro do Pai Inácio na Chapada Diamantina,BA.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira.

O longo litoral baiano tem trechos batizados de diferentes nomes, como forma de organizar e facilitar a divulgação turística. A Costa do Descobrimento, a Costa do Dendê, a Costa do Cacau e, entrando nessa brincadeira, apelidamos o litoral norte como Costa das Tartarugas, ressaltando uma de suas maiores belezas naturais.

Não foi à toa que o litoral norte foi o local escolhido para a primeira base do Projeto TAMAR – Projeto TArtarugas MARinhas – na Praia do Forte. De Arembepe até Mangue Seco, nos meses de setembro a março 5 espécies de tartarugas marinhas desovam nas praias deste litoral. As tartarugas cabeçuda, oliva, verde, pente e couro são as espécies encontradas no litoral brasileiro.

Essas espécies ainda estão em extinção, porém o trabalho realizado pelo TAMAR já avançou muito, o esforço para a mudança cultural dos pescadores e caiçaras foi a principal sacada para o sucesso do projeto. Nestes 30 anos de Projeto TAMAR, a população de tartarugas marinhas está em franca recuperação e as comunidades do seu entorno tiveram suas vidas alteradas.


Cachoeira do Sossego na Chapada Diamantina, Lençóis –BA.

Hoje muitos pescadores e suas famílias trabalham nas bases do TAMAR como tartarugueiros, costureiras, educadores ambientais e até as crianças como guias-mirins. O trabalho desenvolvido é maravilhoso e se tornou uma potência.
Continuando pela Costa das Tartarugas, seguimos viagem para Mangue Seco, uma vilazinha de pescadores tranquila na divisa entre os estados de Sergipe e Bahia.

O acesso mais utilizado é através da cidadezinha de Pontal em Sergipe, atravessando o Rio Real até a vila. Outra forma de acessar é através da Costa Azul, um povoado um pouco mais ao sul que dá acesso à praia, por onde o carro ou bugs trafegam na maré baixa. A caminhada da vila até a praia é tranquila, são 15 minutos pela praia às margens do rio, passando pelo mangue e sobre as dunas, que formam a paisagem onde foi filmada a novela Tieta.

O pôr-do-sol visto do alto das dunas de Mangue Seco com uma vista fantástica 360° é imperdível. O mar de um lado, do outro o futebol sobre as dunas, o rio, a vila, o manguezal e seus bancos de areia que afloram na maré baixa. Aos poucos o visual todo mudou de cor e foi ficando prateado, iluminado pela lua crescente. Bela despedida do litoral, já que esta semana iniciamos o nosso roteiro pelo interior do nordeste.


Gruta do Lapão na Chapada Diamantina. Lençóis – BA.

A viagem de Mangue Seco até Lençóis é sensacional, para os que curtem uma estrada. São mais de 500km entre mar, rio, coqueiros, pequenos povoados, caatinga, cactos e, de repente, não mais que de repente: Chapada Diamantina!

A Chapada Diamantina possui várias cidades históricas, fundadas no ciclo do diamante entre os séculos XVIII e XIX, que servirão como base para a nossa aventura. O Parque Nacional da Chapada Diamantina foi criado em 1984 em uma área em que predominava a atividade de mineração e garimpo, com o intuito de preservar uma das mais abençoadas paisagens brasileiras. São centenas de cachoeiras, rios de águas avermelhadas e formações rochosas das mais variadas que embelezam o fantástico cenário.

Começamos explorando os arredores da cidade de Lençóis, nosso primeiro dia de caminhada foi até a Cachoeira do Sossego, quase 2h de trilha, boa parte dela subida, passando por paisagens lunares. O rio foi esculpindo as pedras e formando recantos lindos. Próxima parada: Ribeirão do Meio. Pedras roliças que foram amalgamadas com areias coloridas e formam um tipo de rocha com um colorido muito diferente e fazem a paisagem ainda mais surreal. Lindíssima na parte alta e diversão garantida no seu tobogã natural!


Projeto Tamar, Praia do Forte – BA.

O segundo dia de caminhada nos levou até a Gruta do Lapão, uma caverna formada pelo desabamento de rochas de quartzo em meio à terra árida e os campos rupestres da chapada. A caminhada dura em torno de 3 horas no total, mesmo sem formações calcárias a beleza cênica da gruta vale o esforço. Fechamos o dia conhecendo o rio que dá nome à cidade, Rio Lençóis, suas panelas, a Cachoeirinha e a Cachoeira Primavera. Não poderíamos ir embora de Lençóis sem conhecer os seus principais cartões postais: Morro do Pai Inácio, Poço do Diabo, Pratinha e Gruta da Lapa Doce. Este roteiro é tão famoso que e também é conhecido aqui como Roteiro 1! O Morro do Pai Inácio, com a vista mais famosa da Chapada Diamantina, incluindo o Camelo e o Morrão, guarda ainda a lenda de Pai Inácio, um escravo que se enamorou da Sinhá e teria conseguido salvar sua vida fingindo pular deste morro.

O Poço do Diabo é uma ótima parada para um banho refrescante nas suas águas coca-cola. Adiante a Pratinha oferece passeios de flutuação na área de luz da gruta, tirolesa, passeio de caiaque e uma infra-estrutura de restaurantes e até pousada. Suas águas com mais de 60m de visibildade e temperatura de 24°C atraem milhares de turistas que lotam o balneário particular.

Encerramos nossa estada em Lençóis na Gruta da Lapa Doce, uma caverna calcaria com formações magníficas! Estalagtites formam anjos e dinossauros, enquanto as estalagmites mostram o chapéu mexicano e a imensa coruja formada no meio do salão. Tudo isso preservado pelo sonho um geólogo idealista, proprietário da terra, que lutou muito para a manutenção da área, através de pesquisa e conscientização da comunidade local.


Bugueiros trazem turistas de Aracaju. Mangue Seco – BA.

Dizem que o sertão vai virar mar, mas para nós o mar já virou sertão! De Mangue Seco à Chapada Diamantina, do mar para as cachoeiras, rios e grutas maravilhosas desse sertão verde e cheio de vida. Vamos embora de Lençóis, mas continuamos na Chapada, ainda temos muito sertão pela frente!

Próxima Semana:
Continuaremos explorando a Chapada Diamantina, agora no Capão, Vale do Pati, Mucugê até Igatú. Uma semana de muitas caminhadas e paisagens fantásticas.

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