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Mil dias pelas Américas: a Cidade Maravilhosa
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Fotos: Arquivo pessoal
Ana de braços abertos sobre a Guanabara, no Cristo Redentor.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

O Rio de Janeiro é uma cidade de muitas faces, cultural, histórica, gastronômica, isso tudo além de todos os atrativos naturais, montanhas, praias, lagoa e rios. Não é a toa que tem o título de cidade maravilhosa! É vitrine do Brasil para o mundo e por isso recebe milhares de estrangeiros, hoje não apenas turistas, mas muitos que escolheram viver no Rio de Janeiro. Nunca vimos tantos gringos pelas ruas, fazendo compras, levando seus cachorros para passear, enfim, vivendo não apenas passeando. É a onda do pré-sal, Olimpíadas em 2014, Copa do Mundo em 2016, todos os investidores estrangeiros estão de olho no Brasil e se antecipam a todas as oportunidades. O mercado imobiliário apenas valoriza, apartamentos multiplicaram de preço e cada morro pacificado dobra os valores da região ao seu redor. Se há um momento para investir, o momento é agora ou era a cada minuto que está passando.

Tivemos uma semana para explorar o Rio e começamos pelas praias. O Rio nos inspira a ter uma vida saudável. É uma delícia pegar praia no Leblon logo cedo, praia vazia, aquele ar fresco da manhã, sol na temperatura ideal. Um passeio de bicicleta na orla do Leblon até o Forte de Copacabana, vento na cara, pessoas saudáveis correndo, se exercitando. O Forte é belíssimo, prédio antigo com exposição externa de aparatos militares tendo ao fundo a linda vista da Praia de Copacabana e do Pão de Açúcar. Logo depois da Barra, encontramos a Prainha, uma das faixas de areia preferidas dos surfistas e artistas globais, onde os papparazzis fazem a festa nos fins de semana. Chegamos lá já eram quase 15 horas, mas pudemos aproveitar um pouco do sol mais saudável do dia.


Rodrigo e Ana na Vista Chinesa, em plena Floresta da Tijuca.

Buscando uma das indicações gastronômicas alternativas da cidade, seguimos em direção à Grumari, procurando o Restaurante do Bira, famoso por seus deliciosos pratos e vista belíssima da Restinga de Marambaia. A estrada que sai da Prainha para Grumari está fechada para obras, pois teve diversos deslizamentos de terra, no entanto encontramos um caminho que seguia por dentro até Guaratiba. A região é conhecida pelos diversos restaurantes de frutos do mar. Uma vista maravilhosa com o sol se pondo, mas infelizmente quando chegamos no Bira foi que descobrimos que só funciona de 5ª a domingo. Já tínhamos uma segunda indicação, caso isso acontecesse, o restaurante da Tia Palmira, mãe do Bira, que também estava fechado.

Procurando por lá e assuntando com os moradores foi que descobrimos o Quintal da Praia, pouco antes do morro de Grumari. Frutos do mar frescos e preços convidativos para os padrões cariocas. Outra boa dica gastronômica são os restaurantes e bares de Santa Tereza. Um bairro antigo muito indicado pelos guias de viagem internacionais como o local alternativo para se hospedar no Rio. Além de um belo hotel e um casario antigo que aos poucos está sendo comprado e reformado, principalmente por estrangeiros, o bairro possui diversos restaurantes e bares deliciosos. Caminhamos pela Rua Aprazível, nos refrescando na garoa, voltamos pela rua do bonde até o restaurante onde almoçamos com a ótima companhia do Fabinho e da Denise. Boa forma de passar o tempo em dias de chuva.

O Rio possui também uma longa participação na história do Brasil. O centro histórico do Rio de Janeiro conta a história do Brasil em seus prédios, ruas e avenidas, desde o Brasil Colonial até a República. Começamos nosso roteiro pela Praça Floriano e Cinelândia, que já foi cenário para manifestações de mães que tiveram seus filhos sequestrados e/ou desaparecidos. Na mesma praça encontramos o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que foi restaurado há pouco tempo e estava com a ópera Romeu e Julieta em cartaz, bilheteria esgotada. Caminhamos pela 13 de maio até o Largo da Carioca lotado de camelôs e logo avistamos o prédio da Petrobrás e ao lado o prédio do BNDES, impossível não notar o contraste da riqueza destas duas instituições instaladas em meio àquela loucura do centro de uma cidade como o Rio. Na mesma calçada onde os grandes e engravatados empresários brasileiros passam para ir ao BNDES levantar milhões para suas empresas, nós vemos um mendigo chafurdando no lixo, comendo o que restou da marmita de outrem.

Centro é sempre aquele misto de lojas, muita sujeira, camelôs, história sendo reformada ou ainda abandonada. Muitos monumentos históricos estão sendo recuperados, depois do Teatro Municipal foi a vez do Convento Santo Antônio, nossa próxima parada. O convento data de 1608, um dos mais antigos do Rio, toda sua estrutura está sendo restaurada, incluindo a igreja do convento, com a imagem do altar de Santo Antônio impressa em uma lona que protege o trabalho de restauração que está em andamento. Ao lado fica a capela da Ordem Terceira de São Francisco, esta com talho mais tardio e totalmente adornada em ouro. Embora seja belíssima, ostenta uma riqueza absurda, principalmente se comparada à sua vizinha que nomeia o convento.


Igreja da Terceira Ordem Franciscana, no Convento Santo Antônio.

Uma paradinha para o almoço na Confeitaria Colombo nos fez lembrar Buenos Aires, café antigo de dois andares, espelhos imensos e decoração art nouveau. Re-energizados, continuamos o nosso tour em direção à Praça Tiradentes, passando pelo Real Gabinete Português de Literatura, que possui uma biblioteca de estantes em madeira recobrindo as paredes dos três andares de livros antigos e valiosíssimos, como a edição princeps de “Os Lusíadas” de Camões. Um pouco à frente enfrentamos o nada deserto Saara, região com milhares de lojas de variedades paraguaias e chinesas, até alcançar finalmente as ruas da Lapa, conhecida pela sua vida noturna. Ali próximo já avistamos a Catedral Metropolitana, já votada a mais feia construção da cidade do Rio de Janeiro. Feia por fora, imponente por dentro. Seus vitrais se destacam meio ao concreto e seus 20 mil lugares se perdem abaixo dos 90 metros de altura da sua capela. Fechando o circuito passamos pelos também em reforma Arcos da Lapa, antigo aqueduto da cidade. Sinceramente, ele parecia mais charmoso velhinho.


Arcos da Lapa reformado: o antigo aqueduto da capital fluminense (com o prédio da Petrobrás, ao fundo).

Chegou a vez das montanhas do Rio, uma das mais lindas atrações e onde encontramos o mais famoso ponto turístico brasileiro, o Cristo Redentor. Ele começou a ser projetado em 1922, seu primeiro projeto era de um Cristo segurando em uma das mãos uma cruz e em outra o mundo. Ainda bem que repensaram o projeto, pois queriam que o monumento fosse facilmente identificado como um símbolo cristão. A partir daí o próprio Cristo passou a ser a cruz, com o Rio de Janeiro simbolizando o mundo. Ele foi inaugurado em 1932, passando posteriormente por diversas reformas e restaurações, sendo a última delas bem recente. Impossível não abrir os braços perante esta vista.

Nosso próximo destino foram as Paineiras, em meio à Floresta da Tijuca, passando pelas quedas d´água e vistas maravilhosas, incluindo a Vista Chinesa, construção com estilo oriental que tem como vista a Pedra da Gávea, Pão de Açúcar e a Lagoa Rodrigo de Freitas, belíssima parada. Dado também curioso é que a Floresta da Tijuca é a maior floresta em área urbana do mundo. Toda a área era utilizada para a plantação de café e em 1861, preocupado com o abastecimento de água da cidade, D. Pedro II começou o reflorestamento da Floresta da Tijuca, que já teve mais de 90 mil mudas plantadas e diversas espécies animais reintroduzidas, desde gafanhotos até bichos-preguiça e micos-estrela. Dali avista-se facilmente a Pedra da Gávea e a Pedra Bonita, local este onde se encontra a rampa de vôo livre.

Voar é um desejo antigo para todos os humanos, um feito perseguido por muitos e por isso hoje existem várias formas de simular esta façanha. Eu já saltei de pára-quedas e paraglider, vôos deliciosos, mas em momento algum a sensação é a mesma do Peter Pan. Depois de tanto procurar a melhor forma de materializar este sonho, hoje decidi voar de asa delta. O Rio de Janeiro sem dúvida é um dos cenários ideais para se realizar este sonho. Estava ansiosa, pois o vento não estava muito católico e obviamente dependia dele para ter sucesso nesta incursão. Foram quase 30 minutos de espera, o vento a favor não estava virando e para a decolagem precisávamos dele justamente no sentido oposto, ou pelo menos que ele parasse. Tínhamos que correr muito. “Posso confiar em você?” perguntou o piloto, “Pode!” respondi. Pernas pra que te quero, foi uma janelinha minúscula de vento e nós corremos, corremos para voar. Quando damos o primeiro passo no ar, a asa perde altitude até estabilizar e acelerar, uhhhhh, que friozinho na barriga! Parece aquela decida de montanha-russa, já saí gritando, “Wohoooooo! Delícia!”, enquanto Ricardo dizia, “Não quero nunca mais ter uma decolagem assim! Obrigada meu Deus!” Aí que eu vi que o negócio tinha sido estranho, empolgada nem percebi que passamos raspando no morrinho abaixo da rampa… já pensaram!?! Nem eu! Eu só quis curtir a vista e pela primeira vez a real sensação de estar voando. Abrir os braços e sentir o vento contra o meu rosto! A praia abaixo, o Corcovado à esquerda e a Pedra da Gávea à direita, indescritível! Foi uma das melhores sensações que já tive na vida! Curti cada minuto e logo estava eu com frio na barriga novamente, enquanto o Ricardo começava a preparar o pouso.


Ana e o piloto Ricardo em voo livre sobre São Conrado.

Esta é uma cidade que não se pode dizer que conhece se não visitar também as famosas noites cariocas. São muitas as opções, de barracões das escolas de samba, funk, até boates luxuosas e a alternativa Lapa. Obviamente, pelo nosso perfil, nossa escolha foi conhecermos o lugar mais badalado da Lapa, o Rio Scenarium e outro dia encontrarmos amigos em um boteco no Leblon.


Samba na badalada noite do Rio Scenarium, na Lapa.

Despedida do Rio de Janeiro foi uma das mais difíceis, pois além de sabermos que foi a última base familiar que encontraremos por um longo período, deixamos de fazer muitas atividades. Escalar a Pedra da Gávea, o Pão de Açúcar, um passeio de barco pela baia, além de deixar o Festival de Cinema do Rio sem ter visto um filme sequer, isso sem contar os amigos que não conseguimos encontrar. Bem, não podemos ter tudo na vida, vamos seguir viagem sabendo que um dia voltaremos. Saímos do Rio passando pela maior ponte brasileira, uma obra de engenharia absurda da década de 70, a Ponte Rio-Niterói. Atravessamos a ponte para o que alguns dizem ser uma das cidades mais privilegiadas do Brasil, pois tem a melhor vista do Rio de Janeiro. A vista realmente é lindíssima, principalmente do Museu de Arte Contemporânea, o MAC. Obra conhecidíssima de Oscar Niemeyer, o MAC fica localizado na região do Ingá, em um rochedo à beira mar com o Pão de Açúcar e o Corcovado ao fundo, belíssimo!


Museu de Arte Contemporânea, obra de Oscar Niemeyer, em Niterói. O prédio foi edificado em forma circular, para valorizar a magnífica paisagem carioca. Foram necessários cinco anos para erguer a estrutura de quatro pavimentos.

Uma hora e meia depois chegamos à península de Armação de Búzios. Decidimos ficar hospedados na Praia dos Ossos, nem tão longe da tranquilidade, nem tão perto do agito. Uma caminhada pela Orla Bardot, assim conhecida por ter sido destino de Brigitte Bardot nos anos 60, e chegamos à Rua das Pedras, centro turístico comercial de Búzios. Lojas de biquínis e hawaianas são facilmente encontradas em cada esquina, mescladas entre lojas de marcas caríssimas e boates internacionais descoladíssimas como a Pachá e o Café Del Mar. Chegamos aqui numa tranquila segunda-feira, logo após a etapa do Campeonato Brasileiro de Surf, que aconteceu nos quatro dias anteriores na Praia de Geribá. Ainda vimos alguns turistas, mas sem dúvida somos muito sortudos de poder conhecer a Vila de Búzios nesta tranquilidade. Depois de almoçarmos, caminhamos pela Orla Bardot, pela Praia dos Ossos até a Praia Azeda.


Esculturas de pescadores na Orla Bardot, em Búzios.

Vimos os últimos raios de luz na Azedinha, aprendendo um pouco sobre a pesca artesanal com o Idanir que estava ali, pacientemente cercando um cardume de sardinhas. Ele nos contou que ficou mais de 15 dias aguardando os cardumes adultos chegarem, até que na semana passada conseguiu tirar 16 toneladas, que fartura! Sejam bem vindos à Búzios!

Próxima Semana
Vamos explorar a península de Búzios e as praias do litoral sul capixaba.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.

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