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Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Chegamos à região da Cerra do Cipó, em Minas Gerais, no início da noite terça com o intuito de passar uns dois dias gostosos por lá. Mas uma boa conversa, naquela mesma noite, com um profundo conhecedor daquela região nos fez mudar de idéia. Meio desconfiados no início, mas profundamente agradecidos ao fim de quatro dias dos mais intensos possíveis, deixamos o Cipó de alma lavada e espírito leve em direção à capital do estado. É a vantagem de uma viagem longa onde o tempo todo podemos mudar nossos planos esticando ou encurtando estadias.

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A gente já sabia da beleza da região antes de chegar. Além disso, vindos de tantas outras regiões bonitas e cheias de cachoeiras, a Serra do Cipó nos parecia mais do mesmo. Ledo engano! A quantidade de atrações é enorme, a quantidade e a diversidade de cachoeiras são incríveis e o povo da região é acolhedor e cheio de histórias. Isso sem contar o sabor da comida e do melhor queijo de Minas e, consequentemente, do Brasil.

Conversando com o Gustavo, que trabalha na ONG que criou e administra o Caminho Real, elaboramos um roteiro de quatro dias para que víssemos algumas das mais belas atrações da região. Brinquei com ele que, após essa “maratona do Cipó”, como passamos a chamar esses quatro dias, poderíamos dizer que tínhamos conhecido o “mínimo do mínimo” da região, ao que ele respondeu:”Nada disso! Se vocês conseguirem completar a maratona, terão visto o máximo do mínimo!”.

Bom, iniciamos a nossa maratona pelo lado da Serra do Intendente, um parque estadual que fica do lado leste da Serra do Cipó. É lá que estão as megacachoeiras de Minas Gerais, várias com mais de 100 metros de altura e uma delas, a maior do estado e terceira do país, com mais de 270 metros de altura. É a mãe de todas as cachoeiras da região, a jóia da coroa do Cipó. Deixamos ela por último, até para irmos nos acostumando com grandes cachoeiras e grandes canyons também.

E assim foi. Estivemos no primeiro dia na cachoeira Rabo de Cavalo, nome derivado do desenho que o vento faz com as águas que caem de mais de 150 metros de altura e no Canyon do Peixe Tolo, nome que faz alusão aos peixes que enfrentam o rio corredeira acima, na época da piracema e chegam lá no alto exaustos e confusos, meio tolos mesmo. As caminhadas de acesso são no próprio leito do rio, saltando de pedra em pedra, sempre ladeados por paredes com 100, 200, às vezes 300 metros de altura. É um cenário meio jurássico, onde nos sentimos pequenos perto da natureza, mas abençoados por estar lá para poder admirar e sentir aquela paisagem.

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No segundo dia, ainda na Serra do Intendente, fomos à cachoeira Congonhas e de lá para a mais famosa, a cachoeira do Tabuleiro. Nadar no seu poço ladeado por aquelas paredes gigantescas e ver a água caindo lá de cima é uma experiência inesquecível. Faz até com que esqueçamos o frio da água. Incrível também foi ver um vídeo sobre a mesma cachoeira, no período de chuvas. Pensando bem, não é a mesma cachoeira não. Só tem o mesmo nome.

A quantidade de água que cai lá de cima é impressionante. Parece até Foz do Iguaçu, só que quatro vezes mais alto. Lindo de se ver, mas impossível de chegar perto. Essa foi a vantagem de termos visitado numa época de seca. Pudemos entrar em todos os canyons, mesmo os mais estreitos, e nadar em todos os poços.

O terceiro dia da maratona já foi no próprio parque nacional, próximo à pequena cidade de Serra do Cipó, antiga Cardeal Alves. Ela acabou mudando de nome, se rendendo à fama do nome da região. No parque, optamos por fazer uma caminhada de pouco mais de 20 km que começa na parte alta da serra e vai descendo para o vale junto com um dos rios do parque. Ali as cachoeiras não são tão grandes, mas não poderiam ser mais bonitas. O interessante é que quando mudamos de rio, apesar de estarem tão próximos, muda-se também a coloração das águas. De um verde esmeralda passamos para um tom mais amarelado, água rica em minérios. Cada uma com sua beleza! Bela também é a paisagem do alto do parque, campos a se perder de vista, céu claríssimo, aquele ar puro do alto das montanhas. Com tanta coisa para se ver e sentir a gente nem percebe os 20 km passando…

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Finalmente, no quarto dia fomos para o pequeno distrito de Lapinha da Serra, recém descoberto para o turismo. Iniciamos o dia com uma maravilhosa caminhada para a Cachoeira do Bicame, que chegou a ter seu poço esvaziado há mais de 150 anos para se procurar diamantes no seu leito. Não sei se acharam, mas o poço hoje está lá, majestoso e convidativo para aqueles que não tem medo de água fria.
Aliás, hoje nós estamos neste grupo. Principalmente depois de termos conhecido o guia que nos levou para a última atração da nossa maratona do Cipó. De canoa, o guia nos conduzindo como um gondoleiro, atravessamos uma lagoa para chegar à uma região cheia de pinturas rupestres com 7 mil anos de idade. O guia, uma personagem saída dos livros de Guimarães Rosa, enriquecia nosso passeio com casos e causos, além de várias frases de efeito, sempre naquele sotaque mineiro arrastado, até meio difícil de entender. A melhor das frases foi: “O frio e o medo, eles tem o tamanho que a gente dá para eles.” Jóia, não?

Bem, depois de tanto ar puro e correria na nossa maratona, viemos “descansar” na cidade grande. Belo Horizonte está a apenas 100 km da Serra do Cipó. Sorte dos “belorizontinos”. Aqui viemos para a primeira e merecida revisão da Fiona, após dez mil quilômetros de estradas, mil deles enfrentado muita poeira e terra. Estamos aproveitando para conhecer melhor a capital mundial dos botecos e dos semáforos, seu atrativo mercado municipal, a Praça da Liberdade renovada, um pedaço de Paris dentro de BH, seus parques e igrejas. A Fiona já está limpinha e renovada e nós ainda temos muito para ver por aqui…

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Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.