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Mil dias pelas Américas: as peculiares ilhas Turks e Caicos

Arquivo pessoal
Pier em Grace Bay, principal praia de Provo.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Depois de 10 dias nas Bahamas, seguimos para um novo país, ou quase. Na verdade, Turks e Caicos ainda são administradas pelo Reino Unido, apesar de terem o dólar como moeda oficial. Essas ilhas, que parecem ser uma continuação das Bahamas, possuem uma área de pouco mais de 1000 km², menor do que muitos municípios brasileiros.

A população é de apenas 20 mil pessoas, mas a quantidade de turistas é capaz de duplicar esse número. E do que todos eles estão atrás? Na sua maioria, dos enormes resorts que existem em Providenciales, a maior cidade do país. Provo, como é mais carinhosamente chamada, era uma vilazinha desconhecida do mundo até o final dos anos 70 quando um plano de desenvolvimento a transformou num canteiro de obras de grandes empreendimentos turísticos.


Em questão de poucos anos, passou do séc XIX (nem carros havia ali) para o séc XXI. Hoje, oferece hotéis e resorts de primeira classe, além de restaurantes super-requintados para turistas que vem, na sua maioria, dos EUA, Canadá e Inglaterra. Todos eles atrás do conforto de resorts e suas praias de areias brancas e águas cristalinas.

E foi pelas águas cristalinas e não pelos resorts que nós chegamos ao país. Essas águas oferecem alguns dos melhores mergulhos de todo o Caribe. Visibilidade de até 50 metros e a presença de tubarões, golfinhos, arraias, tartarugas e até mesmo baleias, além de uma riqueza incrível de corais é o que faz esses mergulhos tão famosos.

Pena que nós chegamos algumas semanas atrasados para ver as baleias da espécie jubarte que vem à essas ilhas para dar a luz. De janeiro a março, fazem a alegria daqueles que tem a sorte de mergulhar com elas ou mesmo apenas vê-las de seus barcos.


Crianças brincam durante o pôr-do-sol na Pelican Beach, em North Caicos.

Por dois dias mergulhamos em Provo. Mergulhos incríveis. Mas não queríamos só isso, queríamos ver o país também. Queríamos ver mais gente além de turistas e de empregados de hotéis, restaurantes ou lojas. Para isso, fomos visitar duas outras ilhas do país, North Caicos e Middle Caicos.

Em North Caicos, de carro alugado, transitamos em mão inglesa por estradas onde passam poucos carros por dia. A ilha tem menos de 2 mil habitantes. Visitamos ruínas de antigas “plantations”, equivalente inglês dos nosso antigos engenhos. Apesar de também usarem escravos como mão-de-obra, aqui se plantava algodâo. Foi a cultura trazida pelos ingleses que lutaram pelo lado do rei na guerra de independência americana e que tiveram de emigrar de lá. No duro e pobre solo do Caribe, essa cultura só durou uma geração e as plantations tiveram de ser abandonadas, deixando suas ruínas para serem admiradas por nós.

Da pousada que ficamos, em frente à praia, com um clima muito parecido com a Ilha do Mel, assitimos a um lançamento noturno de foguete na Flórida, a centenas de quilômetros dali. Foi uma visão incrível, o cél iluminado em plena noite. Aquele foguete sobre nossas cabeças, no meio de uma ilhazinha perdida no oceano, foi para nos lembrar que vivemos no séc XXI, em plena época de globalização.

Em Middle Caicos, conhecemos a mais bela praia da nossa viagem até agora: Dragon Cay. As formações rochosas faziam lembrar a nossa Fernando de Noronha, mas a água, com tonalidades do verde esmeralda ao azul turquesa, era ainda mais bonita.


Ana com Daniel e Sara, o casal que luta para preservar a cultura de Turks e Caicos.

Como nada é tão perfeito assim, durante nossa estadia na ilha, tivemos de enfrentar um exército de milhões de borrachudos. Se não fosse pelo vento e pelo repelente, não teríamos conseguido. Principalmente na visita a uma caverna que era um dos centro de uma cultuta indígena há muito completamente desaparecida. Os culpados? Os espanhóis, que logo após o descobrimento da América, através da escravidão e das doenças trazidas ao novo mundo, no curso de apenas uma geração, dizimaram completamente todos os antigos habitantes desse paraíso. Seriam os pernilongos a vingança dessa cultura destruída?

E para evitar que uma outra cultura seja destruída, Daniel e Sara estão lutando. Ele, natural da ilha, que tem apenas 200 habitantes, e ela, canadense, organizam hoje a população da ilha em uma cooperativa, para valorizar o artesanato local e a comida da própria terra. Ensinam nas escolas a cultura local e torcem para que esta ilha não seja tomada de assalto pela mesma febre de resorts que tomou Providenciales. Tivemos o prazer de passar uma tarde com esse casal, discutindo seus projetos e os nossos.


Casas em Tik Huts, em Middle Caicos.

Assim, deixamos Turks e Caicos, felizes de conhecer sua incrível beleza, acima e abaixo d’água. Felizes em descobrir que se pode comer em restaurantes de primeiro mundo, mas que o país também tem uma alma, uma cultura, pessoas de verdade e que tem gente séria lutando para que tudo isso seja preservado.


Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros.

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