Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Se a semana anterior da nossa viagem pelas américas foi o período das cachoeiras e, antes dela, tivemos a semana das fazendas, a semana “urbana”, a semana das praias e a semana das cavernas, essa foi, sem dúvida, a semana das montanhas. E foi em grande estilo!
Deixamos a charmosa Visconde de Mauá (RJ) em direção à parte alta do Parque Nacional de Itatiaia, quase na fronteira tríplice entre Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Esse é o mais antigo parque nacional do Brasil, criado em 1937. Ele é dividido em duas partes: a parte baixa, onde se encontram inúmeras cachoeiras e boa parte da infraestrutura do parque, e a parte alta, onde se encontra um “pequeno planalto”, a mais de 2.400 metros de altitude e a mais tradicional das montanhas brasileiras, o Pico das Agulhas Negras.
Como essa é a nossa “semana das montanhas”, foi para a parte alta que seguimos, através de uma estrada de terra em péssimas condições. Nada que a nossa Fiona (nome carinhoso do nossa carro) não possa lidar! Até há alguns anos atrás funcionava, um pouco antes da portaria da parte alta do parque, o mais alto hotel do Brasil, o Hotel Alsene. Gerações de alpinistas frequentaram este estabelecimento que fica a 2.400 metros de altitude. Mas atualmente ele se encontra embargado pelo ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente. A razão alegada é o não tratamento de seus dejetos, jogados em nascentes de córregos da região.
A mesma razão foi usada para embargar outra pousada famosa da região, a muito bem cuidada Pousada dos Lobos. Nesse caso, o proprietário recorreu à justiça e conseguiu reabrir o local, amparado em liminar. Ele possui laudos técnicos mostrando que faz o devido tratamento dos dejetos. Enfim, é uma queda de braço que vem ocorrendo há anos, sem data para terminar. Nós, como turistas, só podemos torcer que continuem existindo pousadas naquela região maravilhosa e que, ao mesmo tempo, ocorra o mínimo de impacto ambiental na região.
Polêmicas à parte, escalamos os 2.792 metros do Pico das Agulhas Negras devidamente acompanhados de um guia e equipamentos de segurança. Desde janeiro de 2008, isso passou a ser uma exigência do parque. Segurança garantida, mas, ao mesmo tempo, perdeu-se um pouco daquela aura de liberdade que caracterizava os passeios na região. Lá do alto, bem acima das nuvens que cobriam o Vale do Paraíba, 2 mil metros abaixo de nós, podíamos observar bem nosso próximo alvo, a Pedra da Mina.
Na fronteira entre Minas e São Paulo, essa montanha ficou mais famosa no início da década, quando se descobriu que ela era mais alta que as Agulhas Negras. Pois é, foi só há poucos anos atrás, com a ajuda de GPSs e satélites que a Pedra da Mina teve reconhecido o seu posto de a mais alta montanha da Serra da Mantiqueira. Mas não foram apenas esses poucos metros a mais que “ganhou” que a levaram ao estrelato. Boa parte disso se deve ao fato de passar por ela um dos mais bonitos e duros trekkings do país. É a travessia da Serra Fina, que tem aparecido em todas as revistas de turismo nos últimos anos.
A cidade base para essa aventura é a mineira Passa Quatro. Cidade charmosa e pequena, mas com ótimos hotéis, restaurantes e mesmo uma loja de equipamentos de montanhismo que não deve nada às grandes lojas de São Paulo. Foi lá que nós ficamos alguns dias, antes e depois de nosso trekking. Além do montanhismo, a cidade também atrai os fãs de mountain bike e os saudosos por trens. Duas vezes por semana, uma bem conservada Maria-Fumaça dá o ar de sua graça cortando as serras da região.
De volta ao trekking, nós optamos por fazer o percurso de ida e volta até a Pedra da Mina em dois dias. Afinal, carregando mochilas, são quase oito horas de caminhada até o pico. Precisamos levar toda a água até lá já que, depois da metade do caminho, justamente quando começa a parte mais dura da ascensão, não há mais pontos d’água na trilha. Acampamos lá no alto, a quase 2.800 metros de altura. A vista é simplesmente divina, um horizonte quase infinito de montanhas e vales. A comida quentinha logo após o maravilhoso pôr-do-sol ajudou a enfrentar as temperaturas negativas da noite gélida e clara, iluminada pela lua quase cheia. De manhã cedinho, mais um espetáculo: é o sol nascendo e trazendo com ele aquele calorzinho gostoso que nos enche de vida novamente.
Nessa trilha sim, com toda certeza, é preciso um acompanhamento profissional. Guia, roupas quentes e calçados bem resistentes para enfrentar essa dura caminhada. Para quem tem disposição, o resultado compensa sem nenhuma dúvida. Com muita justiça, esse trekking é considerado um dos mais bonitos do país.
A última etapa de nossa “semana das montanhas” foi cumprida na badalada Campos do Jordão, em São Paulo. Além de nos deliciarmos nos fondues da cidade, também visitamos a famosa Pedra do Baú, uma imponente rocha que se ergue a mais de 200 metros do solo formando um visual que vem encantando aventureiros e turistas há dezenas de anos. Para se chegar ao topo é preciso ser valente é não ter vertigem. Uma frágil escada de ferro vai subindo seus paredões desde a mata abaixo até o topo. Para os que chegam lá em cima a recompensa é uma vista de 360 graus de toda a região.
Semana que vem, chega de montanhas e de frio: voltamos às praias, dessa vez ao belo litoral norte de São Paulo onde a Serra do Mar e a Mata Atlântica praticamente tocam o mar formando o que, para muitos, é a parte mais bonita de nosso litoral, juntamente com o vizinho litoral sul fluminense. Vamos conferir!
Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: http://www.mildias.com.