Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Semana passada estivemos no litoral paulista, na região de Santos e Guarujá. Esta semana, o objetivo era o litoral fluminense, região de Paraty e Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Entre os dois, um pitstop numa região montanhosa, bem no meio dos dois estados: a Serra da Bocaina.
A região é um parque nacional, criado não só pelas belezas naturais da serra, com seus rios e mata atlântica, mas também pelo seu valor histórico, já que aí se encontra o antigo Caminho do Ouro, estrada da época do Brasil colônia, que se destinava a escoar o ouro das Minas Gerais para o porto de Paraty. Até hoje ainda é possível ver o caminho calçado com pedras, fruto do trabalho árduo de milhares de escravos.
O acesso ao parque é feito através da pequena e simpática São José do Barreiro, cidade localizada na chamada Estrada dos Tropeiros, a antiga ligação entre Rio e São Paulo, antes da construção da rodovia Pres. Dutra, na década de 50. Esta estrada corta uma região de antigas fazendas que tiveram a sua glória na metade do século 19. Cultivavam o café, com uso intensivo da mão de obra escrava. Mas, aos poucos, a terra se exauriu, houve a abolição da escravatura e as fazendas entraram em decadência. Hoje, várias delas estão restauradas, enormes casarões com arquitetura típica do séc. 19 que se transformaram em hotéis, ótima opção para quem gosta de turismo rural aliado com charme e conforto.
Fizemos uma visita rápida ao parque e a uma de suas mais belas atrações, a cachoeira de Santo Izidro. Para quem tem mais tempo e muita disposição, pode-se fazer a Trilha do Ouro. São três dias de caminhada, com duas noites dormindo em barracas. Respira-se história e muito ar puro.
Disposição não nos faltava, mas tempo sim. Deste modo, seguimos de carro mesmo para o litoral de Paraty. Fomos conhecer o Saco do Mamanguá, conhecido como o fiorde brasileiro. É uma enorme baía, estreita e comprida, que segue muitos quilômetros continente adentro, por entre as montanhas da Serra do Mar. O acesso mais fácil é feito por barco, saindo da pequena vila de Paraty Mirim. Em poucas horas, à bordo de um barco pequeno mas com motor potente, pode-se percorrer todo o fiorde, desde as suas pequenas praias repletas de casas de milionários até os canais de mangue que existem no fundo do fiorde. A natureza do local é exuberante, tanto na fauna como na flora e a presença de um guia é imprescindível para que possamos conhecer as principais atrações.
Após conhecermos o Saco do Mamanguá e passarmos mais um dia na maravilhosa e charmosa Paraty seguimos para a vizinha Angra dos Reis, de onde saem os barcos para a outra grande atração do litoral sul fluminense: a Ilha Grande. Separada do continente por um canal de pouco mais de dois quilômetros, a Ilha Grande tem seu litoral todo entrecortado, formando dezenas de baías e cerca de 60 praias. Algumas de enorme beleza, sendo consideradas das mais bonitas do Brasil, como a famosa Lopes Mendes.
A maior vila da ilha se chama Abraão e é para lá que fomos. São dezenas de pousadas e restaurantes, todos brigando pelos poucos turistas que visitam a ilha nessa época, a maioria deles estrangeiros. Esse excesso de oferta acaba resultando em preços bem convidativos com uma qualidade muito boa. Sorte dos visitantes!
De Abraão partem várias trilhas para praias, cachoeiras e montanhas próximas. Há caminhadas para todos os gostos e fôlegos, desde as mais curtas até aquelas que mais se parecem maratonas. Para destinos mais desejados, como a magnífica Lopes Mendes, pode-se seguir de barco também. Ou ir a pé e voltar de barco, para se ter as duas experiências. Além de Lopes Mendes, nós fomos conhecer também a pequena localidade de Dois Rios.
O nome vem da praia onde deságuam dois rios, um em cada ponta. A outra atração são as ruínas de dois famosos presídios. Um mais antigo, que abrigou gente ilustre como Graciliano Ramos, história que acabou gerando uma das obras mais importantes da nossa literatura, o livro “Memórias do Cárcere”. O outro, mais recente, também teve gente famosa, mas por outros motivos. Traficantes cariocas, incluindo o famoso “Escadinha”, que fugiu do presídio e da ilha de helicóptero. Atualmente, só restam ruínas e um pequeno museu contando a história desses locais.
Outra caminhada que fizemos foi a subida do Pico do Papagaio, segundo ponto mais alto da ilha com quase mil metros de altura, o que possibilita vistas incríveis da ilha e da baía a sua volta. No caminho, uma surpresa. Cruzando uma floresta, encontramos um grande grupo de Bugios Gritadores, macacos com um metro de altura que possuem um grande papo que lhes permite emitir sons altíssimos. Foi uma verdadeira gritaria no meio da mata e nós só não ficamos amedrontados porque já havíamos sido advertidos sobre eles no dia anterior, em visita à sede do Parque Estadual da Ilha Grande, em Abraão. Foi uma experiência inesquecível, estarmos sós no meio da mata, ouvindo essa gritaria ensurdecedora e tentando localizar os bugios na copa das árvores.
Após três dias intensos na ilha, chegamos à Cidade Maravilhosa, bem no dia do aniversário da Ana. Nosso primeiro aniversário na estrada, o primeiro de muitos, foi celebrado na casa de parentes, em pleno Leblon. Amanhã, começaremos a explorar essa cidade que muitos dizem ser a mais bonita do mundo. Vamos conferir!
Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.