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Por Ana Biselli e Rodrigo Junqueira.

Enquanto estávamos caminhando pela trilha ainda a caminho do Bonete, nasceu Luiza. No dia 07/07/2010, às 13h50, com 50cm e 3,515kg. Um misto de alegria e tristeza nunca sentido antes nos tomou. Choramos emocionados de alegria, mas também de tristeza por não estarmos lá no hospital. Já estávamos nos preparando para retornar a Curitiba, pois sabíamos que a Luiza estava chegando. Ficamos esta semana na capital paranaense resolvendo pendências, fazendo uma manutenção na Fiona e curtindo os primeiros dias da nossa mais nova sobrinha.

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A vida do viajante é algo meio paradoxal. O viajante sai para conhecer novos lugares e ficar em contato com outras culturas, pessoas e mergulhar no mundo. Porém todos já devem ter ouvido falar que é também uma vida muito solitária e aí está uma das maiores dificuldades de uma viagem como a que estamos fazendo. Ao mesmo tempo em que o viajante fica tão próximo do mundo, pessoas e outras culturas, ele fica distante das pessoas que ama, sua família e seus amigos.

Um viajante, principalmente o expedicionário, tem que ter algo de cigano, se sentindo em casa em qualquer lugar onde estiver. Uma alma livre e desprendida, que leva consigo — na memória e coração — seus pais, irmãos e amigos. E assim somos. Nós nos conhecemos, descobrimo-nos almas gêmeas livres e nos apaixonamos. Sempre muito ligados às nossas famílias, mas sem sofrer pela distância, sentindo como se estivéssemos em casa, não importando em que lugar estávamos.

Aí nos perguntamos, será que poderíamos viver assim? Durante estes 1000 dias sim, mas e uma vida inteira? Ignorando o fator financeiro, o que poderia nos complicar é a convivência familiar, ou melhor, a falta dela. Os ciganos pelo menos carregam sua família inteira consigo, em carne e osso. Nós não pudemos trazê-los, então nós abrimos algumas exceções, alguns momentos especiais em que não podemos deixar de participar. Um destes momentos foi o nascimento da Luiza, primeira bisneta, neta e sobrinha da família Biselli Silveira.

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Alguns nos questionam, dizem que os 1000 dias não são tão rígidos quanto deveriam ser, mas como não participar deste momento? Os 1000 dias são para serem vividos intensamente, fazendo as coisas que mais gostamos e por que não, ao lado das pessoas que amamos? A Luiza veio ao mundo unindo um casal maravilhoso em torno deste amor, o maior sentimento que duas pessoas podem ter por qualquer ser durante toda a vida, o amor por um filho.

Se a nossa viagem estivesse acontecendo nos tempos antigos, onde a locomoção e comunicação eram muito mais difíceis, teríamos que nos resignar e ficar alheios a tudo. Hoje, com o acesso que temos, viajando sem nenhuma obrigatoriedade a não ser o que nós mesmos nos propusemos, temos assegurados o nosso direito de ir e vir.

O Mário, pai da Ana, comentou: “Eu sempre penso que é como se vocês morassem em outra cidade e que de vez em quando vêm nos visitar.” Desta forma conseguiríamos sim viver viajando, como uma família que vive dividida entre Manaus e Porto Alegre, que pelo menos duas vezes por ano tentará se encontrar. Só que ao invés de morarmos em Manaus ou em Porto Alegre, nossa casa seria o mundo.

No caminho encontramos amigos e familiares que estão espalhados pelo Brasil afora, novamente nos acolhendo e nos fazendo sentir em casa. Encontramos nossos padrinhos de casamento em Miami, tios, primos e amigos em São Paulo. Irmãos, primos e sobrinhos em Poços de Caldas e Visconde de Mauá, mais primos em Perdões. Mais padrinhos e primos em Maresias. Agora seguindo pelo interior de São Paulo vamos à São Carlos e Ribeirão Preto encontrar toda a família Junqueira e depois seguir para um casamento em Goiânia. Como poderíamos não estar nos sentindo em casa neste mundão?

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Sabemos que as coisas serão um pouco diferentes quando chegarmos ao norte e outros países da América Latina, mas temos a ligeira impressão que nunca ficaremos sozinhos e, a cada dia que passa, percebemos que poderíamos viver assim por muito tempo.
1000 dias não é suficiente para conhecermos cada pedacinho deste continente. Em cada lugar por onde passamos nestes últimos cento e poucos dias, tivemos que deixar algo para trás, prometendo que voltaríamos (depois dos 1000 dias) para fazer mais trilhas e aproveitar ainda mais o que nos faltou conhecer… Quem sabe o que a vida nos reserva? Desta forma, tão aparados pelos amigos e familiares, o que vai faltar será apenas um pequeno detalhe, fator ignorado acima, para virarmos literalmente cidadãos do mundo.

Próxima semana:
Começamos nossa entrada pelo interior do Brasil, estaremos em Goiânia no dia 31 de Julho e depois Ribeirão Preto, Serra da Canastra, Araxá e Goiânia.