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Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Delfinópolis é uma das portas de entrada da Serra da Canastra. Dali, você está a poucos quilômetros de diversos complexos turísticos que oferecem infraestrutura e trilhas com vários níveis de dificuldade. São centenas de cachoeiras divididas entre as serras e vales que compõem a grande Serra da Canastra. Poderíamos passar um mês inteiro só explorando esta região e não veríamos tudo.

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Como não temos este tempo todo, tivemos que escolher e definimos a nossa programação pelos locais mais indicados pelo pessoal que trabalha com turismo na região. Delfinenses, daqueles nascidos e criados nas serras e cachoeiras da região, em geral não têm grande interesse pelo patrimônio natural que está à sua volta. A não ser que sejam proprietários de terras com cachoeiras e resolvam explorá-las turisticamente.

A afirmação parece pesada, mas é curioso como os nativos de Delfinópolis que conversamos, uns 3 ou 4, nos afirmaram com tranquilidade… “temos isso tudo (as cachoeiras) aqui no nosso quintal, todos os dias.” Isso não quer dizer que não queiram preservar, quer dizer apenas que eles não aproveitam como nós, tomando banho de cachoeira todos os finais de semana ou feriados. Seu Zé Gurita, dono de um restaurante onde almoçamos em Olhos D´Água, falou bem “temos mais vontade é de ver o mar, que nunca encontramos”. Enfim, é o que diz aquele velho ditado, “O jardim do vizinho é sempre o mais florido”.

Saímos do centro da cidade, atravessamos quilômetros de canaviais em direção a Olhos D´Água, um arraial próximo, e continuamos até esta fazenda, próxima à conhecida Cachoeira do Luquinha. Quem não trabalha com turismo conhece o lugar como “a terra do Ivan”. Há pouco tempo o complexo de cachoeiras foi batizado como “Paraíso Selvagem”, um nome mais marqueteiro e vendedor. Este lugar é simplesmente fantástico, faz jus ao novo nome. Abriga cachoeiras e cânions belíssimos!

Passamos o dia explorando, utilizando o mapa que a Mariângela, dona da Pousada Rosa dos Ventos, nos passou. O Salto Solitário, a Cachoeira Águas Claras, o Cânion da Garça Branca e a Cachoeira do Alpinista. Chegamos lá eram 10h30 da manhã e fomos embora quase cinco da tarde, atrasados para o almoço no Zé Gurita. Não conseguimos descer da Águas Claras para o cânion, tentamos, mas fomos avisados que seria complicado. O roteiro ideal é encontrar a trilha do cânion embaixo, ainda perto da entrada da propriedade e de lá seguir para a Águas Claras e o Salto Solitário. Trilha lindíssima e gostosa de caminhar.

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Depois, voltando ao ponto de partida, é fácil encontrar a trilha para a Cachoeira do Alpinista, outro lugar maravilhoso no final de um cânion com apenas 50 minutos de caminhada ou até menos para quem anda bem.

No dia seguinte, cruzamos a Serra da Canastra por um caminho diferente, nas estradas de 4×4, volta e meia desbravadas por valentes carros — sem tração, mas com muita determinação. Saímos de Delfinópolis cedo em direção ao vilarejo de São João Batista. O roteiro passava pelo Caminho do Céu, estrada que sobe a serra atravessando a crista de uma montanha e que chega a mais de 1500m de altitude. Lá de cima temos uma vista maravilhosa da região e conseguimos enxergar o próximo destino, as montanhas do Parque Nacional da Serra da Canastra.

No caminho, além de muitas fazendas de gado e produção do famoso queijo canastra, vemos a Serra Branca. Vencida esta grande subida, finalmente avistamos o nosso primeiro objetivo do dia, a Casca D´Anta.

De longe, já podemos perceber o poder do Rio São Francisco. Sabemos que, ali próximo, está a sua nascente, no entanto já o vemos despencar, majestoso, do alto de 186m, formando esta belíssima cachoeira. A Casca D´Anta fica dentro da parte baixa do Parque Nacional, bem estruturado com banheiros, mirante e uma trilha bem sinalizada. Para chegar à parte alta do parque dá para seguir em torno de 60km de carro ou ainda caminhar uma hora por uma trilha, acompanhado de monitores do parque. A queda é imensa, ainda estava na sombra e com bastante vento, mas tomamos coragem e entramos no lago que chega a até 30 metros de profundidade!

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Seguimos para a parte alta do parque, passando pela cidadezinha de São Roque, chegamos à portaria do parque de mesmo nome. São quilômetros e quilômetros de cerrado, com os olhos atentos procurando os tamanduás-bandeira, cervos e outros animais. No caminho passamos pela nascente do Rio São Francisco, onde o velho Chico é ainda apenas uma criança. Mais alguns quilômetros e chegamos à parte alta da Casca D´Anta, onde o rio, já mais largo, forma um pequeno cânion e outras belas cachoeiras.

Chegamos a São João Batista, um arraialzinho vizinho do parque, outra ótima base para a Serra da Canastra. Muito mais “roots”, mais próxima do parque e possui diversas cachoeiras para explorar também. Ficamos na Pousada da Serra, onde conhecemos o Ricardo, outro aventureiro e expedicionário de plantão. Trocamos ótimas experiências e dicas para as nossas viagens. Jantamos no Bar do Seu Vicente, na cozinha da sua casa, puxando um bom dedinho de prosa sobre os causos da região.

Já sabíamos que o próximo dia seria de muita estrada. Portanto acordamos cedo fomos até a Cachoeira da Gurita. Fica a apenas 1km de caminhada do arraial de São João. A cachoeira é uma delícia, próxima à nascente do Rio Araguari. Depois do banho de cachoeira, sacudimos a poeira e renovamos as energias para sair de viagem. Na saída ainda paramos para dar um abraço no Seu Vicente, além de umas boas risadas com suas histórias.

O destino? Rio Quente, Goiás. Passamos por Araxá para visitar o Grande Hotel, empreendimento monumental de 1942. O hotel foi construído aproveitando a fonte de águas termais que brotam a 37°C, com colunas de mármore, um parque imenso e os banhos que funcionam até hoje com suas lindas banheiras da época. Continuando o caminho passamos pelo famoso triângulo mineiro, em Uberlândia e depois Araguari, com um belo pôr-do-sol. Atravessamos a fronteira sobre o Rio Paranaíba e já estava escuro, uma pena, pois o rio neste ponto tem mais de 1km de largura!

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Chegamos a Rio Quente tarde da noite, cansados e sedentos por um bom banho e uma bela cama, certos de que conseguiríamos um quarto ou chalé na Pousada do Rio Quente. Complexo este que mais recebe turistas em números absolutos no Brasil! Isso, aliado às férias escolares, alta temporada, não conseguimos nenhuma disponibilidade. Com muita sorte encontramos vaga no Hotel Di Roma, muito confortável e já inclui o ingresso para o Hot Park, dentro do Resort.

Programação de sexta-feira: passar o dia no Hot Park dentro do Mega Resort Pousada do Rio Quente. Piscinas, rios, tobogãs, praia artificial com ondas, etc. Pensamos que em algum lugar ali poderíamos conhecer as nascentes, porém elas ficam fechadas apenas para hóspedes. Nada de natureza, o rio já foi totalmente domesticado. O resort estava lotado, filas e mais filas para cada atração, professor de axé na beira da piscina, praia lotada, foi impossível encontrar um lugar que tivesse silêncio e um pouco de tranquilidade. Povo enlouquecido, música alta, tudo dominado! Nós não tivemos opção a não ser entrar no clima, encontrar uma cadeira na praia e até dar uma dançadinha ao som da dupla sertaneja que estava “animando” a tarde. Haja coração!

Sábado cedo chegamos à Goiânia, ficamos hospedados na casa de primos do Rodrigo e ainda de tarde fomos ao casamento de um amigo de Unicamp do Rodrigo. Todos os amigos se reuniram, de todos os cantos do país, para celebrar o casamento de Eduardo e Veridiana. Divertidíssimo, este foi o motivo por alterarmos o roteiro dos 1000dias que seguiria pelo litoral, para o interior e nem precisamos dizer que valeu muito à pena! Goiânia, uma cidade sempre quente, chama um barzinho. Domingo fomos conhecer o Bar Glória, onde almoçamos com Mariângela, Nando, Gabriela e Joaquim. Logo depois os amigos, todos de ressaca da festa, nos encontraram lá e seguimos para o Saccaria e o Piquiras, outros dois bares bem movimentados para um domingo a tarde. Neste calor, um barzinho com os amigos é sempre uma boa opção.

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Estes 1000 dias são realmente uma caixinha de surpresas! Vamos dos programas mais aventureiros nas montanhas e cachoeiras até os resorts como a Pousada do Rio Quente, afinal, tudo isso faz parte da América que queremos tanto explorar.

Próxima semana:
Vamos a Brasília, conhecer o nosso Distrito Federal e retornamos para o norte de Minas Gerais, explorando os Parques Nacionais Grande Sertão Veredas e a Sempre-vivas, rumo à Belo Horizonte.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.