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Mil dias pelas Américas: do Planalto Central ao Grande Sertão
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Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Fotos: Arquivo pessoal
A bela arquitetura da Catedral de Brasília.

Depois de passar por Goiânia fomos à capital federal: a jovem e muitas vezes inquieta cidade de Brasília. Chegamos lá no dia certo: a primeira terça-feira do mês de agosto, dia da reabertura do Congresso após o recesso de julho. Estavam lá todos os senadores mais conhecidos, de Collor a Sarney, de Marina a Mercadante, de Renan a Suplicy.

Todos aproveitando a importante votação da PEC de aumento da licença maternidade para poder fazer seus discursos com os holofotes da imprensa. Nós não estávamos lá para culpá-los, apenas para assistir a essa sessão histórica e poder observar de perto esses personagens que estão sempre frequentando nossas telas de TV. Acho que é um programa obrigatório para quem está conhecendo Brasília: visitar nosso Congresso, de preferência numa sessão movimentada como a que tivemos a sorte de presenciar. Além de visitar os plenários da Câmara e do Senado, um passeio pelos corredores do poder são sempre muito interessantes.

A arquitetura do lado de fora dos prédios também é muito interessante. Não só o Congresso, mas todo o conjunto arquitetônico da cidade, desde a Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes, a Catedral de Brasília e a Igreja Dom Bosco, o Palácio da Alvorada e o Museu Nacional. É um show de arquitetura que, gostemos ou não, sempre nos instiga.


O interior do santuário Dom bosco, em Brasília.

Não sabemos se pela visita ao Congresso ou por alguma comida na primeira noite, a Ana ficou de cama por dois dias na cidade e eu, Rodrigo, tive que me virar sozinho, dividindo meu tempo entre rápidas saídas e os cuidados com a amada companheira. Numa dessas saídas, fui conhecer o Parque Nacional de Brasília, que tem o simpático apelido de “Água Mineral”. É um oásis no meio daquele clima de deserto, onde a umidade relativa do ar pode chegar aos 20%. Duas enormes piscinas de água corrente fazem a festa dos visitantes. Apesar do grande movimento de finais de semana, durante a semana é bem agradável.

Com a Ana recuperada, deixamos o Planalto Central rumo ao Grande Sertão Veredas. Esse é o nome de um Parque Nacional no noroeste de Minas Gerais que homenageia a grande obra de Guimarães Rosa. Uma coisa é ler o livro e outra é pisar e vivenciar a região que inspirou o grande mestre. As veredas são verdadeiros refúgios de umidade no meio daquele mar de cerrado, local onde crescem os buritis, um tipo de palmeira, onde se reúne a rica fauna da região, e onde correm os rios e riachos que transformam a vida da região.

A principal porta de entrada do parque é uma cidade chamada de Chapada Gaúcha, região de colonização gaúcha em pleno sertão mineiro. O parque não oferece infraestrutura aos visitantes, mas isso não impede que, acompanhados de um guia credenciado, possamos visitá-lo. Como as distâncias são enormes, o sol é forte e as estradas são de areia fofa, é imprescindível que a visita seja feita de carro 4×4, de preferência com ar condicionado. Felizmente, este é o caso da Fiona e a bordo dela pudemos observar emas e seriemas, cervos e catitus (um pequeno porco do mato), araras e gaviões, a mais rica fauna que já observamos nessa viagem. Fizemos também paradas estratégicas em rios e cachoeiras do parque. Um deles, o Carinhanha, divide Minas da Bahia. O parque se estende pelos dois estados e é muito interessante ver a Bahia ali, tão perto, do outro lado do rio.


Vaqueiro no Vale do Rio Peruaçu.

Outro ponto muito interessante de visitação é a torre de observação do parque. Com mais de 35 metros de altura, subimos lá em cima em um elevador diferente, que não precisa de eletricidade. Com a ajuda de um contrapeso, basta um pequeno esforço para que a gente “seja carregado” até o alto, onde há uma pequena cabana. É lá que o guarda fica boa parte do tempo no período de seca, procurando por incêndios no parque.

Quanto mais rápido eles são observados, mais fácil fica para apagá-los. Para isso, existe uma brigada formada por 30 pessoas que estão sempre a postos para combater o fogo. Nem que, para isso, tenham de se embrenhar cerrado a dentro carregando vinte litros de água nas costas. Verdadeiros heróis do cerrado!

Da Chapada Gaúcha continuamos seguindo rumo ao leste, sempre por intermináveis estradas de terra e de areia. Nosso objetivo era a cidade da Januária, que fica ao lado do Rio São Francisco. Além de ansiosos por rever o rio que havíamos visto nascer há pouco mais de uma semana na Serra da Canastra, queremos visitar também outro Parque Nacional, o das Cavernas do Peruaçu. Esse parque está fechado para visitação, pelo menos até que o plano de manejo seja implementado. Mas exceções são feitas para aqueles que chegam aqui com projetos de pesquisa ou de turismo bem estruturados e que possam contribuir com o parque. Felizmente, esse foi o nosso caso e recebemos autorização para visitar o parque nos próximos dias.


Estrada de areia no parque Grande Sertão Veredas.

Além do rio e do parque com mais de 100 cavernas já catalogadas, outro ponto interessante é que a região tem sido local de abalos sísmicos já há alguns anos. Infelizmente, um deles chegou mesmo a causar uma vítima fatal, coisa muito rara no nosso país. Casas foram destruídas e famílias tiveram de ser reassentadas em outro local.

Ao contrário do sul do Brasil, aqui a semana foi de muito sol e assim também deve ser a próxima, quando vamos começar a rumar para o sul do estado, seguindo o trajeto da Estrada Real, passando pelo Parque Nacional Sempre-Vivas e pela cidade de Diamantina e imediações.


Ana e Rodrigo se refrescam nas águas do Rio Preto, no parque Grande Sertão Veredas.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.

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