Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira.
Começamos essa nova etapa da viagem nos afastando cada vez mais do mar em direção ao coração do Brasil e à capital federal. Os primeiros destinos: Ribeirão Preto, no rico interior paulista e Delfinópolis, em plena Serra da Canastra, no oeste de Minas Gerais.
Para chegar a Ribeirão Preto escolhemos um caminho alternativo, passando pelo parque estadual Carlos Botelho, na região de Sete Barras, em São Paulo. Essa tem sido nossa regra: sempre que podemos evitar as grandes e movimentadas autoestradas, tomando caminhos mais campestres ou pitorescos, não pensamos duas vezes, mesmo que isso signifique algumas horas a mais.
Desta vez, passamos por uma estrada-parque, de terra, que cruza uma das mais importantes reservas de mata atlântica de São Paulo. A variedade da flora impressiona, assim como a vista das montanhas. Mas para poder visitar as trilhas e cachoeiras, é preciso agendar com grande antecedência. Passeios, apenas guiados e em grupo. É o preço que se paga para se manter a natureza quase intocada.
Nosso objetivo em Ribeirão Preto era não apenas rever os parentes do Rodrigo, mas passar alguns dias na fazenda da família, bem próxima à cidade. Foram vários dias com uma rotina mais que saudável: acordávamos cedo para ir tomar leite de vaca direto da fonte, no curral.
Em seguida, uma caminhada com primos pelas estradas de terra da região, atravessando plantações de cana e milho, pomares e hortas, campos arados e matas ciliares. O relevo ondulado onde se vê longe e o céu azul quase sem nuvens, além da distância de qualquer centro urbano dava aquela sensação gostosa de “mundão grande sem porteira”, que tanto alegra a alma. É uma sensação ótima ver a terra produzindo (ou assisti-la sendo preparada para tal), lado a lado com matas ciliares, que protegem os cursos d’água que cortam a região.
A alternativa para essas caminhadas eram passeios a cavalo, quando podíamos ir bem mais longe, aumentando nosso raio de ação. Para quem já cavalgou, sabe como é gostoso quando galopamos e sentimos o vento no rosto e o cheiro da terra e da natureza nos cercando. É uma sensação de liberdade difícil de explicar.
Caminhada ou galopadao importante era estar de volta para o almoço em família, a maioria dos alimentos cultivados na própria fazenda. Para completar o dia saudável, uma corrida de tarde pelos campos da fazenda e depois, um banho refrescante em um açude próximo. Por fim, uma noite bem estrelada, bem longe das luzes das cidades, principais responsáveis pelo nosso quase desconhecimento do céu noturno em tempos modernos.
Difícil foi abandonar essa rotina saudável. Mas esse tem sido o nosso dilema desde que iniciamos essa viagem. Quase sempre deixamos lugares maravilhosos ainda com muita coisa por ver e visitar. Mas seguimos adiante para outro lugar interessante, distinto, com seu próprio charme e beleza. Desta vez, foi Delfinópolis, já nas Minas Gerais.
A cidade é uma das portas de entrada da Serra da Canastra, nascente de vários rios, o mais importante deles o São Francisco, o maior rio totalmente brasileiro. Desde que deixamos a serra da Mantiqueira para trás, estávamos com saudade daquele jeitinho mineiro das pessoas, tão acolhedor e simpático.
Por aqui, todos os programas envolvem água, seja da represa que banha a cidade, seja das dezenas de cachoeiras que embelezam a região, seja dos rios e riachos, que matam nossa sede nas trilhas que cortam o parque e as serras. Pode-se chegar às cachoeiras por trilhas, de moto, de carro ou através de uma combinação deles. Por falar em motos, a região é um paraíso dos amantes de motocross. São dezenas de trilhas atravessando regiões semiselvagens, sempre desembocando em alguma cachoeira maravilhosa e passando por bares e restaurantes de comidas caseiras mineiras. Melhor, impossível.
Nós já passamos dois dias por aqui, já conhecemos meia dúzia de cachoeiras e dezenas de quilômetros de estradas poeirentas, sempre com vistas magníficas dessa natureza abundante daqui. Ainda falta muito por ver e fazer e já antecipamos a tristeza de ter de deixar mais um lugar com tantas coisas para serem exploradas. Mas novos destinos nos aguardam e a tristeza não vai durar muito!
Na próxima semana: começamos aqui mesmo, conhecendo, entre outras coisas, a primeira cachoeira do rio São Francisco, bem no meio do Parque Nacional da Serra da Canastra. Depois, seguimos para Goiás, para a região de Águas Quentes. Vamos relaxar das caminhadas daqui e ficar bem limpinhos para o casamento que nos aguarda na cidade de Goiânia. Um pouco de cidade grande depois de tanta natureza!