Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira
Cem dias de estrada completos na última segunda-feira. 10% da viagem já se passaram! 1000dias parecem muitos, mas voam quando se trata de uma viagem que tem como objetivo conhecer cada pedacinho da América. América do Sul? É o que quase todos nos perguntam quando contamos o projeto. Não! A América inteirinha, do Alaska até a Patagônia! Explorando trilhas, cachoeiras, montanhas, praias e até o fundo do mar, conhecendo os melhores pontos de mergulho deste continente.
Comemoramos os nossos 100 dias de viagem aqui pertinho de casa, no litoral norte paulista, em Ubatuba e São Sebastião. Algumas rotinas são necessárias nesta viagem, sejam elas para conseguirmos realizar todas as atividades do dia, ou para mudarmos um pouco a toada desta vida “sem rotina” que escolhemos. Em alguns lugares algumas rotinas já viraram tradição. Aqui em Ubatuba, na Praia Vermelha ou Praia dos Arquitetos, como também é conhecida, todos os anos temos atividades rotineiras estabelecidas com a família. Acordar, tomar um belo café da manhã, depois de ler o jornal do dia na tranquila varanda com vista para o mar e o verde da mata. Depois saímos andar na Praia Dura, andamos até o rio, que desta vez estava límpido e transparente! Batemos as mãos na ponte, como sinal que chegamos até o fim da praia e retornamos até as pedras, do outro lado da praia. Lá batemos o pé nas pedras, sinalizando também o fechamento desta etapa. Bater o pé na pedra ao fiml da praia é uma tradição que passa de avô para pai, neto e bisneto na família do Rodrigo. O vovô Haroldo tinha este costume, que hoje continua em sua homenagem.
Depois de tantas trilhas nas montanhas, descemos a serra e decidimos explorar as trilhas praianas, nesta região. São praias belíssimas e que têm acesso por uma trilha entre praias e morros. A travessia desta trilha se faz desde a praia da Lagoa, até a praia da Cassandoca, região quilombola que está dentro de uma área de preservação. É uma trilha tranquila, 3 horas andando em meio à Mata Atlântica, cruzando diversos riachinhos e com vistas belíssimas da costa. Passamos pela Praia do Simão, também conhecida como Brava do Frade e o Saco da Banana, que faz jus ao nome, tamanha a plantação de bananas que existe no lugar. É importantíssimo levar repelente, principalmente nesta época de borrachudos.
A Praia da Lagoa é maravilhosa, uma lagoa à beira mar, de água límpida é a principal atração, além da praia, é claro. Pescadores passam a semana ali, acampados. Vida tranquila, sem aborrecimento, a não ser dos borrachudos. A Praia do Simão é outra praia imperdível, praticamente deserta, longe de tudo e todos. Andamos mais um pouco e chegamos à Cassandoquinha, uma região já habitada e que possui alguns sitiozinhos de cair o queixo, à beira da praia e do rio, casas e jardins muito bem conservados dão aquele ar bucólico à paisagem praiana.
Chegamos à Cassandoca e lá estava o nosso amigo Jairo para nos resgatar. No caminho de volta, ele veio nos contando histórias da sua família e de como a região se desenvolveu nos últimos 30 anos. Seu pai, caiçara, vivia apenas da roça e da pesca. Não precisava de mais nada no “sertão” de Ubatuba. Plantava sua cana, arroz, café, fazia farinha e vendia ou trocava na cidade uma vez por mês. Pra que mais? Tempo bom de quem sabia viver uma vida simples, saudável e feliz. Quem sabe não é por esta trilha que a humanidade deveria rumar? Infelizmente este é um caminho sem volta, mas devemos sempre nos lembrar dos simples prazeres, assim pelo menos valorizamos mais o pouco que temos.
No dia seguinte, aproveitamos o dia de sol e céu azul para explorar as praias do litoral norte de Ubatuba. Saímos logo cedo com o plano de passar por pelo menos cinco praias, Itamambuca, Prumirim, Puruba, Almada e a Brava da Almada. Fomos logo para a praia mais distante, Almada, uma praia de águas calmas e com uma infra-estrutura completa para receber centenas de turistas na temporada e feriados. Barzinhos especializados em caipirinhas e restaurantes oferecem petiscos e peixe na telha ali, na beira da praia. A apenas meia hora de caminhada fica a sua irmã mais selvagem, a Brava da Almada. O reduto de surfistas tem uma bela vista para a Ilha dos Porcos. A praia do Puruba fica logo após o encontro de dois rios, que você pode atravessar de graça com o serviço de barco da prefeitura. Mais adiante entramos no condomínio que guarda a Praia do Prumirim. A praia é muito bem conservada, o condomínio preservou os 100 metros de mata à beira do mar. Praia de tombo com uma lagoa linda e um barzinho em cima das pedras. Outra praia que teremos que voltar após os 1000dias. Já estou vendo tudo! Serão mais 1000dias depois destes 1000!
Sexta-feira, dia de decisão para o Brasil na Copa! Começamos o dia de uma forma muito saudável, caminhada na Praia Dura e natação de lá até a Praia Vermelha. Voltamos correndo e pegamos o jogo já aos 8 minutos do primeiro tempo. Aquele gol do Robinho foi demais, tanto que a seleção relaxou, desandou e entregou de bandeja a vaga nas semi-finais para a Holanda. Que tristeza! Como brasileiro gosta de fazer festa de qualquer jeito, chegamos em Maresias e fomos conhecer um barzinho, o Chopp com Escamas fica em Juquehy, 20km ao sul de Maresias. Afogamos as nossas mágoas nas caipirinhas, cantando a vida ao som das melhores músicas do pop rock dos anos 80.
No outro dia, o sol pela manhã estava tímido, pouco convidativo para pegar uma praia. Mas em Maresias este não era o principal chamariz, estávamos todos muito curiosos para ver as tão faladas meninas do futevôlei! Quando chegamos à praia algumas destas beldades deram o ar da graça, mas pelo jeito o time de futevôlei feminino estava de folga hoje, ou tinha mudado do sul da praia para o surfe. O Super Surf estava rolando no meio da praia, o campeonato reuniu um grande público.
Desde ontem, além do Haroldo, primo do Rodrigo, vieram nos encontrar também dois amigos de Curitiba, Rafael e Laura, que hoje vivem em São Paulo. Ótimos companheiros de viagem têm gostos muito parecidos com os nossos: de Atami à Fernando de Noronha, mergulhando, remando e caminhando pelas trilhas afora. Infelizmente não conseguimos convencê-los a nos acompanhar na aventura dos 1000dias, então combinamos de nos ver em alguns pontos estratégicos.
Maresias foi um destes pontos selecionados e por feliz coincidência, tinham uma galera de amigos aqui em Paúba, praia vizinha. Isso somado ao fato de que havia uma nuvem estacionada sobre Maresias, nos fez sair em busca do sol e do calor humano dessa galera. Assim comemoramos os nossos 99 dias de viagem, véspera celebrada em grande estilo, rodeados de bons amigos, com muito sol e água fresca.
Nestes 100 dias vemos que o nosso maior desafio não será completar a viagem, mas sim fazer vocês viajarem junto conosco! Compartilhando os lugares, pessoas, momentos e sentimentos, tentando traduzi-los em palavras e imagens que os encorajem a realizar também os seus 1000dias! Sejam eles um fiml de semana, 30 dias, ou por que não, 1000! O seu tempo é muito precioso para entregá-lo às preocupações, tristezas e problemas do nosso dia-a-dia. Eles fazem parte da vida, sem dúvida, porém temos que lidar com eles de modo que ocupem um espaço infinitamente menor do que a alegria que temos em estar vivos.
Próxima semana
Ilha Bela e finalmente a bela Luiza, pequeno ser que nem chegou ao mundo e já nos fez adaptar o roteiro para a conhecermos em Curitiba.
Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: http://www.mildias.com.