O litoral paulista é conhecido, principalmente, por suas belas praias do norte, Ilha Bela, Santos e a mega urbanizada praia do Guarujá. O litoral Sul sempre ficou à margem, injustamente excluído dos principais roteiros turísticos. Esta semana saímos do interior e rumamos justamente para lá, litoral sul paulista.
Começamos por Cananéia, uma das cidades mais antigas do Brasil, foi fundada pelos portugueses em 1531. Sua fachada de cidade colonial permanece e, embora alguns prédios estejam em estado de abandono, a energia é de uma cidade jovem e muito ligada ao meio-ambiente. Talvez porque é o principal acesso para o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, lugar especial para quem gosta de cachoeiras, praias e um público alternativo. De Cananéia atravessamos de balsa para a Ilha Comprida.
A Ilha Comprida tem aproximadamente 86 km de comprimento por apenas 3 km de largura, super estreita, em 3 minutos saímos do mar de dentro e encontramos a praia. Alguns quiosques grandes no Boqueirão Sul, principal balneário no sul da ilha sugerem que aqui deve lotar nos finais de semana e feriados. São 70km de praia ininterrupta, lembra muito o litoral paranaense, onde as linhas que dividem os bairros ou balneários são apenas imaginárias.
O dia lindo, céu azul, sol e temperatura super agradável foi perfeito para fazermos a travessia deste praião de carro. A nossa única preocupação foi atravessar logo antes que a maré subisse!
No norte da Ilha Comprida pegamos a ponte para Iguape, outra cidade colonial, apenas sete anos mais nova que Cananéia e que possui características muito parecidas. Dali fomos em direção à Barra do Ribeira, agora por dentro, já que não existe acesso pela praia. Um detalhe, vocês perceberam o nome, “Barra do Ribeira”? É o mesmo rio que dá nome ao PETAR, “Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira”, onde estivemos semana passada.
Nosso roteiro está acompanhando ele lá de cima até a sua barra, aqui no litoral. Dali, parte a balsa para a vila da Barra do Ribeira que dá acesso à Juréia Sul, durante a semana de hora em hora e final de semana de 30 em 30 minutos.
A Juréia é uma Estação Ecológica, área de preservação da Mata Atlântica com diversas áreas restritas apenas para pesquisadores. A Estação Ecológica foi criada em 1986, logo após a mudança de planos para a construção de duas usinas nucleares que se chamariam Juréia I e Juréia II, mais tarde realocadas para o litoral do Rio de Janeiro e hoje conhecidas como Angra I e Angra II. Para chegar lá são mais 18km da vila pela praia.
Chegamos à entrada do parque no início da tarde, animados para um banho de cachoeira! A primeira cachoeira da trilha é muito gostosa e acima dela existem outras duas maiores, porém fechadas para turistas, apenas pesquisadores com autorização podem seguir na trilha.
Outro passeio interessante é a caminhada até a barra do Rio Ribeira propriamente dita, são 4 km pela praia até chegar lá. São quase 100 metros entre uma margem e outra, um encontro lindo entre as águas do rio e do mar.
No dia 27, seguimos em direção à Juréia Norte. Através dela não conseguimos passar, então temos que dar a volta na reserva em direção à Peruíbe. Dia da Mata Atlântica, comemoramos no melhor lugar, dentro dela! Triste pensar que de toda esta riqueza natural que vemos, sobraram apenas 6 ou 7%. A biodiversidade da Mata Atlântica é muito maior que a encontrada na Amazônia. São milhares de tipos de plantas, fungos, insetos, pássaros, animais silvestres e todos aqui, debaixo do nosso nariz.
A diversidade de espécies que vive neste bioma é tão grande que nós, meros mortais, não temos a mínima noção. Fica ainda mais clara a nossa ignorância quando conhecemos alguém que nasceu dentro dela, como o nosso guia, o Amilton. Um caiçara, surfista que com 30 anos resolveu estudar biologia. Ele teve um empurrãozinho especial, uma bióloga que conheceu enquanto guiava pelas trilhas aqui do Parque Estadual da Juréia pagou a sua inscrição no vestibular. Hoje o Tom une este conhecimento teórico com toda a cultura local que foi passada em sua família de geração em geração.
Em resumo, quando se trata de Mata Atlântica o homem é uma biblioteca ambulante. Na trilha logo percebemos que a sua preferência é a botânica, cada espécie de árvore ele tinha prazer em parar e nos explicar por que tem aquela morfologia, se é uma erva ou planta medicinal utilizada pelos nativos, seu nome comum e até seu nome científico.
Dentro da Estação Ecológica são liberadas as trilhas apenas com os monitores ambientais, então o Tom nos guiou pelas praias de Guarauzinho, Arpoador, Parnapoa, Brava e Juquiá. Praias maravilhosas, algumas delas com rios e cachoeiras a apenas 1 minuto da praia. A trilha por si só também já era um atrativo, que nós geralmente passamos reto, por não conhecermos e não termos os olhos treinados. A partir do momento que temos um professor de biologia nativo, a mata ganha outro significado.
Outro roteiro no parque é a Cachoeira do Itú. Para chegar lá subimos 7 km do Rio Guaraú em canoas canadenses. No caminho já vemos diversas espécies de pássaros e caranguejos. Garças brancas, garças azuis, o martin-pescador, tié- sangue, dentre diversos outros.
Começamos pelo Ribeirão do Guaraú, entre um manguezal lindo e nada mal-cheiroso, como geralmente conhecemos. Chegamos ao Guaraú, um rio largo e caldaloso que vai serpentiando o mangue dentro da Reserva da Juréia. Vimos peixes pulando, duas tartarugas se alimentando, tucanos e até o guaianu, tipo de caranguejo super difícil de avistar. A Juréia é um tesouro do litoral de São Paulo e que deve ser conhecido!
Estávamos com tudo programado, final de semana em Santos. Sábado mergulho na Laje já com encontro marcado com as raias mantas. Domingo íamos conhecer algumas praias alternativas no Guarujá e subiríamos segunda-feira cedo para São Paulo, perfeito! Porém a previsão de tempo mudou e tivemos que nos adaptar.
Antecipamos a ida a São Paulo para explorar a capital, enquanto o ciclone passava pelo oceano. Subimos pelo litoral, passando ao lado de cada balneário e praia do litoral sul. No caminho resolvemos conhecer a Praia Grande e fomos positivamente surpreendidos, a orla de Praia Grande é uma graça, super organizada, vários quiosques bonitinhos e um calçadão com pista de cooper e bicicleta digno das praias do Rio de Janeiro.
Chegando em São Paulo logo soubemos que estava acontecendo o 5° Salão de Turismo promovido pelo Ministério de Turismo. Na área de Turismo de Aventura, o foco é a Aventura Segura, onde uma organização está trabalhando para cadastrar e regulamentar as empresas que trabalham com turismo de aventura como rapel, rafting, canyoning, escalada, etc. Para nós, os aventureiros de plantão, esta é iniciativa muito importante , pois profissionaliza e garante que os equipamentos e profissionais estarão sempre atualizados para a prática destes esportes.
Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros.
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