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Mil dias pelas Américas: nas paisagens potiguares
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Parque Estadual Pedra da Boca em Passa e Fica, divisa do RN e PB.

Começamos esta semana explorando o interior do Rio Grande do Norte, buscando paisagens alternativas e as já conhecidas praias do estado. Chegamos a uma cidade de nome muito curioso, quase na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, Passa e Fica. Este nome foi dado porque as pessoas passavam por lá e não conseguiam ir embora. A cidade está há apenas 5 km do Parque Estadual da Pedra da Boca. Formado em 2000 para a preservação de montanhas rochosas graníticas que lembram as mais variadas formas, caveira, carneiro, lagarto e a mais impressionante delas que dá nome ao parque, uma boca!

A Pedra da Boca possui 250 m de altura e a boca está há mais ou menos uns 150 m. A boca foi esculpida pelo vento e para chegar até ela são 40 minutos de uma íngreme escalaminhada. A vista é recompensadora, do alto avistamos as fazendas, açudes e cidades da região. No dia seguinte fomos conhecer o roteiro das grutas. Nosso guia era o Seu Tico, grande conhecedor de técnicas de sobrevivência utilizando fauna e flora locais, além de plantas medicinais do agreste e da caatinga. Pinhão-Brabo como antiinflamatório e cicatrizante, cactos comestíveis e plantas suculentas que armazenam água. Além de provar, vimos também como usar o coquinho catolé para apito e, na necessidade mesmo, até uma formiga tanajura pode servir como alimento hiperprotéico.

A região foi habitada por homens pré-históricos, prova disso são as pinturas rupestres encontradas no local. Um paraíso dos escaladores, o parque possui diversas vias, algumas com nomes bem divertidos como Via Sacra, Frango Frito e a melhor, Dona Encrenca, uma via que parece fácil, mas no final é uma senhora encrenca! Já íamos notando que teríamos um desafio pela frente, as formações de granito deixam poucas agarras nas rochas, o Anderson Gouveia, nosso professor, chamava essas vias de “cata formiga”, pois as agarras são apenas nas pontas dos dedos. Fomos para a Pedra do Lagarto, ela possui o formato que a batizou e ainda uma grande recompensa no topo da via, a vista espetacular de todo o complexo rochoso do parque.


Ana escaladando na Pedra do Lagarto em Passa e Fica, divisa do RN e PB.

Voltamos ao litoral do Rio Grande do Norte, mais especificamente onde hoje se localiza a cidade de Natal. A região era habitada pelos índios potiguares, que antes mesmo da chegada dos nossos colonizadores lusitanos, já era frequentada por comerciantes franceses. A primeira tentativa, frustrada, de conquista deste litoral foi em 1535. Depois disso, os portugueses só retornaram em 1597, com o objetivo de construir um forte que afastasse os franceses e os hostis potiguares desta baía.

A estrutura do forte é a original, construído com pedras trazidas como lastro pelas caravelas portuguesas em uma troca muito justa, traziam pedras e levavam madeiras de lei, pau-brasil, jacarandá, etc. O forte foi tomado uma única vez, em 1633 quando aconteceu a invasão holandesa. Natal passou a chamar-se Nova Amsterdam e o forte também foi rebatizado. O ano de 1654 os portugueses retomaram as capitanias nordestinas, começando por Pernambuco e o forte foi simplesmente devolvido aos lusos sem que nenhuma batalha fosse necessária. Hoje ele é aberto à visitação, com uma das vistas mais bonitas da nova ponte e da foz do Rio Potengi.

Rumando para o sul da capital encontramos o pequeno município de Pirangi. Antes apenas uma colônia de pescadores e praia de veraneio, hoje se tornou parte da Grande Natal, abrigando bons restaurantes e principalmente a noite mais badalada da região. O Parque Municipal do Cajueiro é a principal atração turística da cidade e hoje conserva um dos mais maravilhosos (e também bizarros) patrimônios da flora brasileira. Este cajueiro sofre de uma anomalia genética, plantado por um pescador há aproximadamente 120 anos, hoje ocupa uma área de 8.500 m², produz por ano uma média de 70 mil frutos, o equivalente a 2 toneladas de caju.


Aventureiros dentro da boca escavada pelo vento no Parque Estadual Pedra da Boca.

Suas raízes e galhos estão invadindo as ruas ao seu redor e não podem ser podados, pois ele é protegido por lei e a poda desta árvore é considerada crime ambiental. Corre na justiça um processo para definição se o cajueiro deverá ser podado ou se as ruas e casas ao seu redor deverão ser desapropriadas para permitir o seu crescimento. A comunidade local defende a desapropriação, principalmente por ele ser um dos principais atrativos da cidade e o “ganha-pão” de muitas famílias.

Estamos em pleno verão, a alta temporada em pleno domingão lota a praia de Genipabu, mal conseguimos enxergar a areia. A praia é uma pequena enseada entre dunas com mais de 50m de altura! O Parque Estadual das Dunas de Genipabu é conhecido por sua pista para passeios de bugue. Com emoção ou sem emoção? Esta famosa pergunta fica mais tensa quando sabemos que há menos de um mês morreu uma mulher num passeio destes, mas também queremos acreditar que por isso mesmo os bugueiros estão muito mais cautelosos. As paisagens são maravilhosas, a vista de Natal, da lagoa e até dromedários, que dão um ar dramático para o local.

Após uma manhã carregando e reorganizando a nossa casa e amiga Fiona, estávamos finalmente prontos para seguir viagem em direção ao norte. Nosso destino é Galinhos, praia na região das salinas potiguares e dos famosos moinhos para produção de energia eólica. Duas horas de viagem até Pratagil, base de onde atravessamos o rio para a península onde ficam as cidades de Galos e, na extremidade, Galinhos. Uma comunidade simples, com pouca atividade turística, passeios de barco, bugue para as dunas e uma meia-dúzia de pousadas. Praia vazia, encontramos apenas alguns turistas no restaurante durante o jantar, todos estrangeiros: italianos, franceses, australianos e nós, representantes brasileiros, orgulhosos das belíssimas paisagens potiguares.


Descendo as dunas de Genipabu, com muita emoção.

Semana que vem mudamos de estado e começamos pelas praias de Canoa Quebrada, as montanhas de Quixadá e o agito da capital cearense, Fortaleza!

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