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Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

As distâncias de viagem mudam de ordem de grandeza quando chegamos à Região Norte do país. Esta semana fechamos finalmente a etapa nordestina da viagem e cruzamos mais de 600 km entre as Reentrâncias Maranhenses e a cidade de Marudá, no litoral do Pará. De um porto para outro, de ilha em ilha, de Lençóis para Algodoal, na Ilha de Maiandeua.

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Localizada no litoral paraense ela possui quatro comunidades, sendo a principal delas a de Algodoal. Na ilha não circulam carros, são apenas ruas de areia para as bicicletas e carroças. Faz parte de uma reserva ambiental formada para preservar seus quilômetros de praia deserta, dunas, mangues e lagoas.

O principal atrativo turístico é a Praia da Princesa, reza a lenda que dois pescadores estavam na praia à noite puxando a rede, quando viram uma mulher maravilhosa se aproximar deles. Os dois não acreditaram, mas aquela era a mulher mais bonita que já haviam visto “parece uma princesa” e logo ela desapareceu. Foi mais ou menos assim que surgiu o nome da praia e a lenda de que sob estas águas existe um Reino onde vive esta princesa. A história é contada pelos pescadores como o Seu José Cristo, do bar La Dune. Seu José não só afirma que esta história é um relato real, como já criou diversas canções sobre a Praia da Princesa, local onde nasceu e vive até hoje. Nesta mesma praia encontra-se em meio às suas dunas a Lagoa da Princesa. Única lagoa perene da ilha, recebe milhares de turistas e a farofa rola solta, lixo e a poluição por xixi e protetores solares, tornam suas águas vermelhas cada vez menos próprias para o consumo dos animais. Está começando um movimento pelo turismo consciente na lagoa, pois é a única fonte de água para os animais da ilha durante o verão.

Fortalezinha fica mais distante e lá quase não há estrutura turística e a população vive basicamente da pesca. Ela está há 15 km de Algodoal pela Praia da Princesa. Uma paisagem sensacional, entre “furos”, igarapés, praias e mangues. Há 9 anos a Vila da Fortalezinha foi tomada por um surto de malária, 600 das 800 pessoas que viviam ali pegaram a doença. Hoje a vila tem em torno de 900 habitantes e aparentemente a malária foi controlada, com alguns casos esporádicos. Foi lá que finalmente vimos os Guarás de perto. Estes pássaros, comuns nesta região, são de uma cor vermelho sangue inacreditável, culpa do crustáceo do qual eles se alimentam. Assim nos despedimos do litoral norte paraense e seguimos rumo à capital.

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Belém foi fundada em 1616, porta de entrada para os Portugueses na Amazônia. Cresceu com base no trabalho escravo, exportando matérias primas para a Europa, como o cacau, peles de animais e outras riquezas amazônicas. Passou por altos e baixos econômicos, quando passou a ser uma das maiores exportadoras de látex, na época áurea do Ciclo da Borracha. Foi nesta época que foram estruturados os portos da capital paraense, que permanecem até hoje escoando produtos como estanho, soja, peixe, camarão, castanhas, entre outros. Fomos conferir um dos lugares mais antigos de Belém, o mercado municipal, também conhecido como Ver-o-Peso. Este nome surgiu, pois era ali que os portugueses conferiam o peso dos produtos vendidos para calcular os impostos cobrados pela Coroa. Destacam-se os setores de pesca e castanhas. Os peixes de todos os tamanhos e espécies imagináveis, como o filhote, raia, tainha, dourado, pargo e até uns pequenos tubarões. A sessão de Castanhas do Pará mostra a incrível habilidade dos descascadores, sua prática em retirar aquela casca dura, deixando só a semente. Um copinho de 200 ml da castanha custa R$ 5. É impressionante a mistura de sabores, cores, texturas e também o lado ruim que sempre acompanha este universo, o lixo, sujeira do entorno.

No centro, a Praça da República é rodeada de edifícios antigos e monumentos pomposos que lhe dão um ar um tanto quanto europeu. Lá fica também o Teatro da Paz, famoso teatro municipal de Belém. A Estação das Docas, um antigo porto praticamente abandonado, foi totalmente revitalizado em um ambicioso projeto arquitetônico e cultural às margens da Baia do Guajará. A Estação possui restaurantes de diversas culinárias, bares, espaço de exposição e cinemas. Um pequeno porto turístico ainda funciona no início da Doca 1 e ali próximo há uma exposição contando a história do porto e sua importância para o desenvolvimento da cidade de Belém. A sofisticação do empreendimento e sua estrutura à beira do rio nos recordaram muito Puerto Madero, em Buenos Aires, mas com sotaque e temperos paraenses.

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Às 6 horas da manhã parte o barco que cruza a Baía de Guajará e a Baía de Marajó em direção à Ilha de Marajó. Olhando pela janela não podemos negar, estamos em um rio amazônico. Águas barrentas, margens largas a perder de vista e uma vegetação exuberante de estatura impressionante. A Ilha de Marajó é imensa, possui quase o mesmo tamanho da Suíça, assim fica fácil entender por que custamos tanto a chegar. Soure é uma das principais cidades da Ilha do Marajó e disputa o título de “capital da ilha” com Salvaterra. Hoje possui 25 mil habitantes, grande parte de suas ruas são largas e asfaltadas, embora sejam poucos os carros que circulam na cidade. A maioria da população usa moto ou bicicleta, quando não andam a cavalo ou ainda em carros de búfalos.

As principais atrações turísticas são as praias, fazendas de búfalo, mangues imensos e igarapés. Ninguém sabe ao certo como os búfalos chegaram por aqui, a versão mais creditada é a do naufrágio de um navio francês que transportava os animais para a Guiana Francesa, e os búfalos nadaram até a praia da Ilha de Marajó, onde se adaptaram totalmente ao clima e às terras alagadas. Ainda há pouco tempo existiam animais mais selvagens e nervosos, mas a maioria hoje já foi “domesticada” e hoje vive em paz dentre as ruas e campos da ilha. Chuva, praia, rio, manada de búfalos em uma pedalada de 34 km em terras marajoaras.

Assim vamos encerrando esta semana em terras paraenses, enquanto a nosso carro está em uma balsa a caminho de Macapá.
Aos poucos vamos aprendendo mais e mais sobre a cultura, as preocupações diárias e a vida de cada povoado que visitamos. É incrível a quantidade de coisas, informações, animais, histórias, personagens que existem nesse mundo. É quase desesperador pensar que mesmo nos dedicando a explorar esse continente durante 1000dias, não chegaremos a conhecer nem a 1% dele.

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Próxima Semana
Na próxima semana cruzamos a linha do equador e chegamos à Macapá e a Oiapoque, no extremo norte do país. Nosso destino? A exótica e inexplorada Guiana Francesa, suas praias, reservas naturais e o famoso centro espacial francês.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira semanalmente em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.