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Mil dias pelas Américas: Península do Maraú e ilhas
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Arquivo pessoal
O belo cenário da Praia de Moreré, em Boipeba (BA).

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Na Península do Maraú, no Sul da Bahia, só a estrada já é uma viagem. Praias com piscinas naturais, lagoa à beira mar rica em lanolina, cachoeiras deliciosas ou um prato de palmito de açaí preparado na manteiga com manjericão? Tanto faz, aqui na região do Maraú você encontra tudo! A base para esta exploração é a charmosa Barra Grande.

A vila já foi tomada pelos investidores estrangeiros, vê-se em todo lado as influências “gringas” que o lugar já possui. Desde os táxis que até então só tínhamos visto no Caribe, até as placas de acesso à cidade que já estão em inglês e espanhol, além do português (ufa!).

Depois de instalados na pousada fomos caminhar na praia assistir o pôr-do-sol na Ponta do Mutá, mais um daqueles cenários ideais para este momento tão apreciado no mundo. Cenas bucólicas das cercas da pesca artesanal, o mar dourado pelo sol e todos nós ali, participando disso tudo apenas como espectadores da natureza.


Pôr-do-sol na Ponta do Mutá, na Península do Maraú.

O próximo dia foi dedicado à baía de Camamu. No passeio de escuna, a primeira parada foi na Coroa Vermelha, banco de areia que se formou há 13 anos e mesmo com tão pouco tempo tem muita história para contar. A primeira que escutamos é que um nativo malandro logo se intitulou dono da “nova” terra e espertamente a vendeu a um belga, que acabou tendo a construção da sua casa embargada pelo Ibama, já que o local é dormitório de muitas garças. Quando fomos confirmar a história com o mestre da nossa embarcação, a versão que ele nos contou foi diferente: um nativo viu a coroa e resolveu logo plantar um coqueiro ali, montou sua barraquinha para vender água e cerveja aos barcos que passavam no verão. Bel (e não o belga), Bel sabem? Do grupo Chiclete com Banana? Sim, ele mesmo. Ele teria oferecido uns trocados ao amigo vendedor para que a areia toda fosse dele e assim foi. Logo começou a construir um píer no canto da ilha, embargado pelo Ibama. Pelo menos o final das duas histórias é igual e, para nós, é muito feliz!


Futebol na maré baixa, na Ponta do Mutá.

A Ilha da Pedra Furada é uma pequena ilha particular que cobra dois reais para o desembarque. Águas limpas e a formação rochosa curiosa fazem do local um lugar especial. Uma parada estratégica na paradisíaca Ilha do Coió, suas areias rasas e brancas deixam o mar no seu entorno ainda mais transparente! A ilha possui três fontes de água doce próximas ao manguezal.


Ilha da Pedra Furada, na Baía do Camumu.

Atravessamos o estreito canal entre a Ilha do Coió e a Ilha do Sapinho, onde almoçamos e começamos a descobrir os dotes musicais da moçada do barco. Uma moqueca de peixe e muita moda de viola cantada pelo Giovani, que almoço delicioso! Uma última parada para um banho na Ilha do Campinho, ao lado de onde foi construído um porto para escoamento de grãos e abandonado pelo governo antes mesmo de entrar em funcionamento. Menos mau, assim esse paraíso fica ali, quase intocado. Foi o sol baixar e a moda de viola voltou a embalar o fim da tarde e a nossa noite. À luz da fogueira tivemos um luau na Ponta do Mutá! Nossos amigos mineiros e o Guto deram um show no violão. Nosso primeiro luau nos mil dias!


Ilha do Coió, na Baía do Camumu.

Continuamos explorando a Península do Maraú. Nossa primeira parada foi bem cedo em Taipus de Fora, conhecida praia da região que atrai turistas de todo o mundo por suas maravilhosas piscinas naturais. Na maré baixa, os arrecifes afloram formando piscinas transparentes e repletas de vida. Fizemos um snorkel e encontramos todos os tipos de peixes, lagartas, ouriços e afins, muito lindo! A única dica é olhar a tábua das marés e chegar na hora que ela estiver mais baixa, quando a visibilidade da água fica melhor e as piscinas mais tranquilas. Paramos na Lagoa do Cassange, demos um mergulho nas suas águas ricas em lanolina, ingrediente muito utilizado em xampus e hidratantes.


Piscinas naturais em Taipus de Fora.

Próxima parada: Cachoeira do Tremembé, um povoado que tem em torno de mil habitantes e fica às margens do rio que abre a baía de Camamu. O rio deságua no mar nesta cachoeira, região de mangue e água salobra, cenário é simplesmente sensacional! Nilton é o proprietário da ilha, um personagem com uma história de vida impressionante. Achamos que ele era um “gringo descolado”, mas seus olhos azuis e pele branca são brasileiras mesmo, catarinenses de Chapecó. Trabalhou anos na Sadia e de lá saiu para o mundo. Morou em todos os lugares que você imaginar, o primeiro restaurante e primeira escuna de Porto Seguro foram dele, antes mesmo da vila virar uma cidade. Perguntamos de Caraíva, morou também, já tinha uma pousada lá quando a Duca chegou em 79. Depois destas e muitas histórias já estavamos calculando uns 107 anos! O cara é o Matusalém, cheio de histórias para contar! Ele preparou para nós, dois pratos com o seu delicioso palmito retirado da palmeira do açaí, ainda mais macio que o Jussara. Fantástico é saber que estamos comendo tudo o que ele produz ali, o palmito que planta, o manjericão tirado do pé, a pitanga que acabara de ser colhida e até a pinga de alambique da melhor qualidade!


Cachaça de pitanga da Ilha Veneza, em Tremenbé.

Nos despedimos na Cachoeira do Demé, lindíssima, com águas deliciosas e até uma passagem por baixo da queda d´água. Bela despedida da região do Maraú, agora seguimos à Valença, Boipeba e Morro de São Paulo.


Cachoeira de Tremembé.

Valença, cidade ao sul de Salvador, muito populosa e, dizem alguns, tão ou mais violenta que a capital. Cidade portuária que serve como base para alcançarmos de barco Boipeba e Morro de São Paulo, duas ilhas já bem conhecidas do litoral baiano. Um paraíso que já fora descoberto há muito tempo. No verão, tanto as ilhas quanto as praias do continente ficam abarrotadas de turistas brasileiros e estrangeiros.


Ana e Rodrigo no início da Baía de Camamu.

O portinho onde desembarcamos em Boipeba já lotado de pousadas e restaurantes. Embora carros não transitem na ilha, quase todas as ruas são calçadas. A arquitetura é aquela de cidade pequena e simples que cresceu desordenadamente e infelizmente sem muito charme. Porém Boipeba possui um outro lado, mais intocado, mais rústico e muito conhecido por sua beleza natural.

Cruzamos a cidade da Velha Boipeba e andamos pouco mais de 40 minutos até oi povoado de Moreré. É uma vilazinha de pescadores com apenas sete pousadas, quase todas à beira da praia, alguns poucos restaurantes. Moreré tem esta vida tranquila, vivida no ritmo da Bahia, no ritmo das marés. Paraíso para uns, inferno para outros. O Tony, dono da nossa pousada, e sua esposa vieram do norte da Inglaterra direto para cá. O choque cultural não é fácil, ainda mais em um lugar com pouca infra-estrutura e leis tão diferentes das que estavam acostumados. A lógica no Brasil não é lógica nem para nós brasileiros, imagine para eles?


Pôr-do-sol na Praia de Bainema, em Boipeba.

A ligação de Moreré com o mundo se faz de três formas. A primeira de barco, muito utilizada pelos pescadores e alguns barcos turísticos. A segunda é via trilha interna, a mesma que fizemos a pé, porém geralmente feita de trator. A terceira é o que apelidei de via costeira, onde na maré baixa pode-se cruzar até a Velha Boipeba, povoado mais populoso da ilha, através das praias. São 5 km de caminhada passando pelas praias do Moreré, cruzamos o rio e caminhamos pela longa praia da Cueira, até chegar na praia do Pontal da Barra. As paisagens são maravilhosas e no caminho ela vai se alternando entre marés, piscinas naturais, corais e costa de pedras, até aquele praião imenso com coqueirais que não acabam mais e com um mar mais aberto, uma mais linda que a outra.


Piscinas naturais da Praia do Mororé, em Boipeba.

A Ilha de Boipeba é vizinha da Ilha de Tinharé, onde está a cidade de Morro de São Paulo. Estes barcos que encontramos trazem turistas de Morro para conhecer um pedacinho de Boipeba e retornam por dentro através do Rio do Inferno, assim chamado devido aos diversos bancos de areia que infernizavam a vida dos marinheiros que encalhavam seus barcos já desde 1500. O passeio passa pelos lugarejos de Canasvieiras e Cairu. Uma água de coco e um mergulho para refrescar no bar flutuante e seguimos viagem. Cairu é uma das cidades mais antigas do Brasil, logo depois de Porto Seguro. Ela é a sede administrativa e política das 26 ilhas, sendo a única delas que possui ligação com o continente, através de uma ponte. A cidadezinha fica às margens do Rio Tinharé, que liga o Rio do Inferno até Valença. Nela se localizam a Igreja e o Convento de Santo Antônio de Cairu, construída pelos freis franciscanos a partir de 1654, sendo considerado o projeto pioneiro do barroco brasileiro.


Manguezal de acesso a quinta praia, no Morro de São Paulo.

Chegamos a Morro de São Paulo, 10 anos depois e tudo está muito mudado. Quando estivemos aqui já estava tudo muito cheio, porém estruturado de forma desordenada, aparentemente as coisas começaram a se organizar, foi construída uma passarela na segunda praia, facilitando o acesso a todos os bares e restaurantes hoje muito mais charmosos. Sempre buscando algo diferente e fora do usual, caminhamos até a quinta praia. Normalmente os turistas conhecem até a quarta praia, porém esta é a mais extensa, são 5 km de areia com uma vista belíssima dos corais e arrecifes, passando por pousadas e condomínios particulares super luxuosos. Logo depois de um pequeno manguezal encontramos a quinta praia, uma paisagem que se destaca pelo encontro das águas vermelhas do rio, areias brancas e mar em diferentes tons de verde.


Ana na maior tiroleza das Américas, com 70 metros de altura.

Fechamos o dia buscando o pôr-do-sol no morro do farol e antes mesmo que ele se escondesse resolvemos pegar um atalho e conhecer a maior tirolesa da América! São 70 metros de altura e 340 metros de comprimento! Além da adrenalina, a paisagem lá do alto é belíssima, vale muito a pena!

A Bahia oferece desde a tranquilidade da Barra Grande até o agito de Morro de São Paulo. São opções para todos os gostos e bolsos, garantindo a simpatia inigualável do baiano e as belezas naturais tão características do Brasil.


Pôr-do-sol em Morro de São Paulo.

Próxima Semana
São Salvador e a Baía de Todos os Santos nos abrem caminho para o litoral norte baiano e a Chapada Diamantina!

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira semanalmente em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.

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