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Mil dias pelas Américas: Porto Rico, a porta do Caribe
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Falésias do Farol de Cabo Rojo, próximo à La Parguera, em Porto Rico.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Porto Rico, uma das maiores ilhas no Caribe com mais de 9 mil quilômetros quadrados, foi descoberta e colonizada pelos espanhóis no século 15. Sedentos por ouro eles escravizaram, assassinaram e dizimaram a população indígena local, importando também um grande contingente de africanos, principalmente das tribos Yoruba e Mandingo para o trabalho escravo. Até aí, qualquer semelhança não é mera coincidência, como outros países colonizados por Portugal e Espanha, mas tudo mudou quando, em 1898, depois da Guerra Hispano-Americana, os EUA “libertaram” Porto Rico do império espanhol, passando a fazer parte da commonwealth americana.
San Juan, a capital, é uma cidade de 1,5 milhão de habitantes com um clima super latino, pessoas amistosas e calorosas. Aqui todos falam espanhol, língua dos seus antigos colonizadores e o inglês, idioma dos seus novos “senhores”. As duas línguas são mescladas o tempo todo pelos porto-riquenhos que acabaram elegendo informalmente o espanglish como idioma oficial.


Bandeira porto-riquenha pichada em um muro de San Juan.

A antiga San Juan é uma mistura de Ouro Preto com Salvador e Rio de Janeiro. Ladeiras com casas do século 18 e 19 todas coloridas, revitalizadas, ruas de paralelepípedo. Subindo a ladeira, logo ali em direção à baía você tem a impressão de que vai chegar ao Elevador Lacerda e chega a um grande forte espanhol, construído de 1539 a 1700. Isla Verde, a praia mais bonita de San Juan, é uma praia mais urbana. Conhecida por alguns como a Copacabana de Porto Rico deixa a desejar se comparada com as praias do litoral nordeste da Ilha.
Buscando atividades diferentes depois de três semanas de praias, rumamos ao sul para conhecer um pouco mais da cultura e geografia porto-riquenha. A “Carretera Panoramica” passa pelo centro da ilha, região de muitas montanhas e floresta tropical. Novamente parecia que estávamos no Brasil, montanhas e mais montanhas com muito verde, mata, rios e bambuzais. Lindo demais, só não é bem sinalizado. Procuramos o Cerro Punta, montanha mais alta da ilha que planejávamos subir e não conseguimos encontrar. Fomos então até La Parguera, uma vila de pescadores conhecida por ser ótimo ponto de mergulho e por abrigar uma das três baías luminescentes existentes no país, todavia a mais poluída e com menor luminescência de todas elas.


Rumamos à Ponce, uma cidade histórica muito rica culturalmente. Conhecemos a Praça das Delícias e sua famosa Casa de Bombas, antes sede dos bombeiros da cidade, hoje é um pequeno museu em sua homenagem. Ao lado fica a Catedral de Nossa Senhora de Guadalupe, construída em 1931 onde ficava a primeira capela construída pelos espanhóis nos idos de 1660. Vimos uma parte da missa matinal, tomamos um gostoso café da manhã na padaria, conversamos com moradores, enfim, Ponce é uma cidade acolhedora onde conseguimos vivenciar mais de perto o cotidiano dos seus moradores.
De volta ao circuito turístico, dois pontos obrigatórios para se conhecer no país são as Cavernas do Rio Camuy e o Observatório de Arecibo. Ambos possuem uma estrutura turística inacreditável! A Cueva Clara é magnífica, foi construída pelas águas do Rio Camuy, o terceiro rio subterrâneo mais longo do mundo. Chegamos à caverna de trenzinho por uma rua asfaltada, depois de assistir a um filme de regras de segurança. Entramos por um bunker de concreto construído ao lado da entrada natural e vemos todas as formações sem precisar de nenhuma lanterna, pois ela já possui uma iluminação artística. No caminho asfaltado por onde devemos andar, a guia nos passou ricas informações sobre as formações, tranqüilizando uma americana que estava preocupada com a água que caía do teto, pensando ser venenosa. É um jeito totalmente exagerado de preservar um meio natural, mas aos poucos vamos nos acostumando com o american way.


Casa das Bombas, museu em homenagem ao Corpo de Bombeiros em Ponce.

A próxima atração foi completamente diferente, o Observatório de Arecibo, que possui o maior rádio-telescópio do mundo. Mais uma sala de cinema para um filme explicativo do observatório que mostra o dia-a-dia dos cientistas que estão ali tentando desvendar o nosso universo. O Observatório já foi cenário de diversos filmes como “James Bond e o Golden Eye” e “O Contato”, com Jody Foster. Um banho de conhecimento astronômico.
Seguimos viagem para Fajardo, que fica no litoral nordeste da ilha, portal para as Ilhas Virgens Espanholas, Vieques e La Culebra, e para uma das maiores atrações de Porto Rico, o Parque Nacional El Yúnque, que guarda uma das maiores florestas tropicais no Caribe. Um dia no El Yúnque é o suficiente para conhecer suas trilhas já bem exploradas e demarcadas pela administração turística do parque. São mais de 25 km de trilhas entre centenas de espécies de árvores e dezenas de espécies de pássaros. Os mirantes do Monte Britton e Los Picachos possuem uma linda vista das praias e montanhas e são super acessíveis. Com a maior parte da trilha asfaltada, possuem um caminho facilmente explorável por crianças, idosos e até aqueles turistas não tão esportistas, comumente encontrados aqui por estas bandas. O banho na única cachoeira liberada do parque é refrescante, depois de enfrentarmos uma fila na trilha para chegar nela e outra para sair. Enfim, este acaba sendo o preço que se paga por ter um turismo tão bem estruturado, mas se é pela conservação do meio-ambiente, vale à pena.


Ana e Rodrigo no mirante do Parque Nacional de El Yúnque.

À noite fomos conhecer a baia luminescente, outro santuário super protegido. Em um passeio de caiaque pelo único canal que liga a lagoa ao mar, passamos pelo mangue e chegamos a esta lagoa tão especial. Ela possui as condições ideais para o desenvolvimento e multiplicação deste tipo de plâncton bioluminescente: águas rasas, rica em tanino por ser rodeada pelo mangue e com a temperatura em torno de 30°C. É um espetáculo da natureza! O banho foi proibido nas suas águas, pois o óleo natural da nossa pele ou mesmo repelentes e cremes podem matar os bichinhos. Passamos as mãos e os remos do caiaque e voltamos a ser crianças, brincando de super heróis com super poderes, produzindo luz a cada movimento.
Nosso último dia em Porto Rico, reservamos para conhecer as Ilhas Virgens Espanholas. Desde que passou a fazer parte do commonwealth americano, os EUA investiram na infra-estrutura do país, urbanizaram e desenvolveram a ilha, mas com certeza havia um interesse por trás disso. Para os EUA, Porto Rico é um ponto estratégico no Caribe, então a utilizaram como base militar. Vieques, uma ilha paradisíaca das Ilhas Virgens Espanholas, era usada como base para testes de mísseis e bombas até 2002, quando a população conseguiu finalmente expulsar a marinha americana da ilha. Tentamos chegar até lá, mas por ser sábado, mesmo chegando uma hora antes no ferry-boat, os tickets já haviam se esgotado. A quantidade de pessoas era absurda, uma roubada que acabamos, sem querer, conseguindo nos safar. Como programa alternativo fomos à Luquillo, uma cidade litorânea badalada, mas hoje tranqüila, que nos surpreendeu positivamente com suas deliciosas sombras, feitas pelas palmeiras à beira mar, areias douradas e a transparência do seu verde mar.
Hoje o governador em exercício pertence ao partido de direita, a favor da manutenção do “status quo” existente entre Porto Rico e Estados Unidos. Grande parte da população concorda, pois possuem diversos benefícios desde o comércio sem taxas de exportação e importação até um tipo de green card que outros países sonhariam em ter. Como sempre, há os que se opõem, movimentos independentistas e esquerdistas. Mas o fato é que Porto Rico possui a cultura americana entranhada nas suas veias, na economia, na política e também no turismo.


Observatório de Arecibo, maior rádio-telescópio do mundo.
Fotos: Arquivo pessoal
Ana e Rodrigo na praia do Farol do Cabo Rojo.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros.

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