• Carregando...
Mil dias pelas Américas: Um passeio em Abrolhos
| Foto:
Fotos: Arquivo pessoal
Cauda de baleia Jubarte no mar de Abrolhos.

Esta semana tivemos a oportunidade de conhecer um dos lugares mais belos do Brasil, o arquipélago de Abrolhos. Distante cerca de 65 km da costa do sul da Bahia, ele é formado por cinco pequenas ilhas e está bem no meio de uma plataforma relativamente rasa, com profundidade de 40 metros, à beira das profundidades abissais de 4 mil metros.

Esta plataforma favorece o aquecimento da água, o florescimento de corais e a abundância de vida marinha. Atrai também as baleias jubarte que vem para cá no seu período de procriação e amamentação, buscando águas calmas e mornas para preparar seus jovens filhos para os rigores das águas antárticas.

Bom para as baleias, perigoso para a navegação. Desde o séc XVI navios vem naufragando na região, chocando-se com os recifes e corais que não chegam a aflorar mas estão perto o suficiente da superfície para colidir com os cascos de navios. Não por acaso as ilhas e toda a região é chamada de Abrolhos, um lembrete para que os marinheiros mantenham seus olhos bem abertos quando navegarem por essas águas.


Ana mergulhando no naufrágio Rosalinda.

Para se chegar a Abrolhos é preciso ir de barco e levar “sua casa” junto com você, pois não é permitido o desembarque nas ilhas, exceto para breves visitas guiadas. Numa delas fica toda a população do arquipélago, seis militares da marinha acompanhados de suas famílias e um funcionário do ICMbio, responsável pelo Parque Nacional de Abrolhos. Então, para quem não tem seu próprio iate, a solução é contratar um dos pacotes que partem para o parque, quase sempre da cidade baiana de Caravelas.

Como a Fiona (nosso caminhonete 4X4) não sabe nadar, este foi o nosso caso. São Pedro ajudou bastante e nos forneceu uma janela de bom tempo entre as diversas frentes frias que teimam em nos perseguir no último mês. Viajamos com a Apecatu, no seu excelente barco Titan. Mais de uma dezena de turistas mergulhadores muito bem instalados em suites ou quartos coletivos, com direito a três sadias e sortidas refeições ao dia, além dos lanches matutinos e vespertinos, já que ningém é de ferro.

O primeiro e talvez mais importante objetivo da viagem era avistar as simpáticas e cantantes baleias jubarte. Eles frequentam a região entre julho e novembro e no longo caminho até o arquipélago tivemos várias oportunidades de avistá-las e nos aproximar delas. Os mergulhos não são permitidos, mas como elas saem bastante da água, para respirar e se exibir,pudemos vê-las muito bem. A cada salto de baleia era uma gritaria geral no barco. Observá-las tão de perto, de alguma maneira nos torna mais felizes, mais simples, mais irmãos.


Habitações e farol da Ilha de Santa Bárbara, em Abrolhos.

Depois da felicidade de ver as baleias, vem a felicidade de chegar em Abrolhos. Logo aprendemos o nome das cinco ilhas, Santa Bárbara, Siriba, Redonda, Sueste e Guarita. Aprendemos também que cada uma tem seus habitantes. Humanos na Santa Bárbara, Atobás Brancos na Siriba, Fragatas na Redonda e assim por diante. Entre as ilhas, uma pequena baía abrigada do mar aberto, nossa casa pelos próximos três dias.

Nossa rotina nesses três dias, além das refeições, do filme noturno e da noite bem dormida incluía mergulhos em corais e naufrágios, passeios por duas das ilhas e banhos refrescantes num mar de águas quase caribenhas. A convivência social foi intensa, num espaço tão pequeno compartilhado por tantas pessoas. Mas foi muito bom, pessoas que se aventuram a fazer esse tipo de passeio geralmente tem muito em comum e muito para compartilhar. Para nós, depois de tanto viajar juntos e sós, foi uma excelente variação.

Os mergulhos foram muito bons, explorando a formação de corais típica do arquipélago, os Chapeirões. São enormes colunas de corais, erguidas ao longo de milênios, muitas com até vinte metros de altura e que foram responsáveis por boa parte dos naufrágios, escondidas dos olhos menos atentos. Formam cavernas, túneis e labirintos embaixo d’água atraindo dezenas de espécies de peixes, moluscos e crustáceos. Um paraíso para mergulhadores.

Há também os naufrágios, oportunidades de mergulho não só no mar, mas também na história. Mergulhamos, por exemplo, no Santa Catarina, um cargueiro alemão afundado pelos ingleses, sem um só tiro ou perda de vida humana, em plena Primeira Guerra Mundial. Ainda é possível achar, por entre os escombros e salas, munição da época. Já no Rosalinda, um cargueiro da década de 50, que levava cimento e cerveja, é possível nadar por entre os antigos porôes e compartimentos, hoje frequentados por cardumes de peixes e lagostas.


Refrescando-se no mar de Abrolhos.

Melhor que mergulhar no silêncio do fundo do mar, é mergulhar com trilha sonora. Tivemos o privilégio de, em dois mergulhos, ouvir o canto das baleias jubarte, provavelmente vindo de quilômetros de distância. O coração se acelera pela emoção. O sossego que nos envolve favorece às nossas divagações sobre o significado daqueles cantos. Sabe-se que há palavras e frases lá dentro. O que será que significam? Embaixo d’água, somos literalmente analfabetos…

Nas ilhas, podemos observar os pássaros marinhos, seus ninhos e o modo em que se organizam em casais, cada um em “seu quadrado”. O Felipe, funcionário do ICMBio nos dá uma verdadeira aula de biologia e geografia. Nada melhor que uma aula prática para fixar bem os novos conhecimentos!

Já na ilha de Santa Bárbara a atração é o farol de 150 anos de idade, mandado construir por D. Pedro II. Do alto, temos uma vista magnífica de todo o arquipélago e também do pôr-do-sol. No fim da tarde, pudemos observar o farol ser acendido. É incrível como uma lâmpada tão pequena é tão ampliada pelas lentes do farol que, em dias limpos, pode ser visto do continente.

De volta à Caravelas, cheio de novas lembranças e novos amigos, damos de cara com uma nova frente fria. Vamos ter de lidar com ela para conhecer as maravilhas do litoral sul da Bahia na próxima semana. Que bom que rumamos para o norte. Estamos com a ligeira impressão que é por lá que o sol se esconde…


Pôr-do-sol em Abrolhos.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]