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O que é Curitiba?
Curitiba é uma renite que tentamos, a todo custo, curar entre edredons e livros do Dostoievski. É o frio que escondemos nos copos de cerveja e nas brasas de cigarro. Uma sala de estar vazia. O crack fumado por moleques friorentos. As luzes congeladas da nova iluminação branca da cidade. O boné do menino classe média roubado dentro do tubo do expresso. As favelas escondidas pelas campanhas publicitárias. A neve européia que ainda aguardamos. A cachaça tomada logo pela manhã por guardadores de carros. Os apartamentos mofados do centro. Reuniões literárias, recitais de poesia, indivíduos criticando amargamente seus colegas de trabalho. O vinho Campo Largo tomado por jovens nas esquinas do bairro São Francisco. A Cruz Machado abrigando musas desgastadas e músicos veteranos. A Ilíada decorada e declamada na casa da atriz Claudete Pereira Jorge. O templo do Dario Vellozo ainda ecoando em nossos ouvidos. Dalton Trevisan e a sua casa na Ubaldino. A Rua XV entulhada de lojas Diva. Os costelões 24 horas. O céu cinza. Os lambrequins que ainda resistem em casas polacas. Livros escritos por curitibanos, perdidos em prateleiras de grandes livrarias. Talentos diminuídos pela ignorância e pela falta de compreensão. Gente querendo reconhecimento de maneira obsessiva. Gente com medo de olhar na sua cara. Gente sorrindo forçosamente na festa de inauguração do último bar da moda. Um curitibano falando mal de Curitiba. Este mesmo curitibano com medo de morar fora.

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(Esse é Alexandre Gil França, curitibano nascido dia 10 de agosto de 1982. Escreveu e publicou Mata-Borrão, Batom (Poesia, 2003) e Toda Mulher Merece Ser Despida (Poesia, 2005). Tem os Cds gravados e lançados A solidão não mata, dá a idéia (2006) e Poesia em Desuso (2005, em parceria com o poeta Fernando Koproski).

O que não é Curitiba?
Aquilo que alguns curitibanos gostariam que a cidade fosse. Isto inclui Londres, Paris, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e etc.

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Quem são os curitibanos?
Os que eu admiro, são aqueles que fazem de tudo para que a cidade não vire uma cópia barata de Londres, Paris, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e etc.

(Ele gosta de talharim com cubos de mignon, cerveja original, toca guitarra e violão, frequenta a Pizza Mais, o Wonka Bar, o Hermes Bar, o Café Mafalda, o Ponto Final, o Sal Grosso e o Bar Doce Lar. Namora a Renata (Reka), com quem passeia pela 13 de maio, XV de Novembro, Sete de Setembro e Coronel Dulcídio. Sabe dirigir, é Leão, torce pelo Coxa, é fã da marguerita da Pizza Mais e ama a cor preta).

O que te move a escrever?
O ócio, a noite, o frio e a solidão.

O que vem antes da escrita?
Os livros que li e o diálogo com as pessoas que gosto e admiro.

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Você pensa por meio de imagens, palavras ou sons?
Quando começo a escrever, tento não pensar em nada – sigo um ritmo interno. Vou digitando coisas, sentindo o teclado, deixando a coisa fluir. De repente, surge um assunto. Não paro de digitar, agora focado neste assunto que, como um imã, vai me atraindo. Escrevo uma, duas, três, quatro, às vezes até dez páginas e paro. É deste processo que sai o grosso da minha produção. Às vezes acerto de primeira. Na maioria das vezes, não. É preciso também criar um clima para a escrita, por isto gosto de escrever de madrugada, onde tudo é mais silencioso. Quando não estou em casa e me vem uma imagem interessante, anoto num papel; depois tento inseri-la dentro do que já foi escrito. É como num brinquedo lego: primeiro fabrico as peças e depois tento encaixá-las da forma que me parece mais interessante. A parte difícil vem depois, quando reflito acerca do que escrevi: se aquilo é compatível com que penso sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre a vida. No final das contas, em muitos casos, acontece de num trabalho de dez laudas eu tirar apenas uma frase.

Com o que você tem sonhado ultimamente?
Com a minha boemia de antigamente. Por causa do trabalho, tenho saído menos e isto tem me afetado de maneira negativa. Para mim, realmente, é muito difícil viver longe dos bares e da vida noturna.

O que e quem você ama?
Amo a capacidade que temos de tentar compreender o próximo. Dia após dia treino esta capacidade em mim. Numa arte coletiva como o teatro, inclusive, isto é importante, principalmente quando você tem um elenco de oito pessoas com bagagens e histórias completamente diferentes. No caso da peça que estou dirigindo (Mentira!), esta capacidade de compreensão tem sido fundamental para a criação dos envolvidos. Penso que é no exercício intensivo da convivência (e, consequentemente, da capacidade de compreensão) que o bom teatro hoje parece respirar. Este excesso de (profissionalismo?) que a tv e a publicidade impõe aos atores acaba sugando o que eles possuem de melhor: a subversão, o senso crítico, a ação inventiva. Amo trabalhar com artistas que discutem o que fazem, que se colocam numa posição de risco, que odeiam o conforto da “missão cumprida” do funcionário padrão. Para mim, de fato, é um tédio trabalhar com profissionais do entretenimento, funcionários da cultura. Por que estas pessoas não querem ser compreendidas e nem querem compreender o próximo: elas querem bater o cartão e continuar a suas vidas como se nada de mais tivesse acontecido.

O que e quem você odeia?
A intolerância. A minha teimosia. A teimosia dos outros. A arrogância. Odeio as pessoas que gostam de ser arrogantes. Odeio a inveja: o sentimento mais desagradável que alguém pode sentir. É pior do que romper um relacionamento

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Como e de que maneira o teatro entrou em sua vida?
Sempre quis escrever dramaturgia (antes mesmo de me interessar por poemas) e eu já escrevia uns diálogos durante a minha adolescência. Lembro que uma das primeiras peças que eu assisti na minha vida, quando eu tinha uns dez anos, foi uma do Plínio Marcos sobre catadores de papel. Aquilo mudou definitivamente a minha maneira de encarar o mundo. Era super pesada. Mexia radicalmente com questões morais. Lembro que foi no colégio estadual. Então fui atrás de cursos de teatro na escola em que fazia o fundamental e em outros lugares. Acabei no curso do ator e diretor George Sada. Depois, entrei na faculdade de publicidade (posteriormente na de letras), e acabei abandonando a escola de teatro. Mas nunca deixei de assistir peças e estudar o assunto. Até que um dia eu conheci a famosa casa da atriz Claudete Pereira Jorge, onde se reunia uma porção de artistas admiráveis (hoje, todos meus amigos). Mostrei alguns dos meus textos para a turma e eles me incentivaram a continuar (inclusive fazendo leituras dramáticas na casa). A minha vontade de montar uma peça neste momento era muito grande. Convidei a Helena Portela (filha da Claudete) para a leitura de um texto meu (que, na época, ainda se chamava ?Um Dostoievski de Presente?). Ela aceitou o convite e chamou uma amiga, Verônica Rodrigues, para compor o elenco. Assim, de maneira despretensiosa, começaram os ensaios da minha primeira montagem, ?Um Idiota de Presente?, que para a minha surpresa teve uma boa acolhida do público. Nascia ali a Dezoito Zero Um ? Companhia de Teatro. Depois disto não parei mais de escrever dramaturgia e atualmente, junto com a música, esta tem sido a minha principal ocupação.

A poesia não é algo que cobra exclusividade? Ou você consegue lidar
bem com a poesia, a música, o teatro e a vida?

Penso que está tudo relacionado – poesia, música, dramaturgia, vida. Sem poesia – que é a base de tudo – , não consigo fazer direito o resto. Aliás, não me imagino sem poesia. Ela é o combustível que me faz querer viver. Isto não está ligado apenas ao ato de construir poemas. Mas sim a postura de vida, ao entendimento das coisas. Quando escrevo dramaturgia, por exemplo, eu preciso de uma atmosfera poética, se não a única coisa que acaba saindo são diálogos sobre o tempo, do tipo ?será que vai chover??.

O que você acha de quem posta comentário em posts na internet?
Acho que no mínimo esta pessoa está buscando um diálogo com alguém. Gosto quando comentam no meu blog. Me sinto menos sozinho. Todos nós às vezes nos sentimos sozinhos. A Internet nos dá esta impressão de que não estamos solitários no mundo. Embora eu, particularmente, prefira tomar uma cerveja com os amigos no bar.

No Festival de Curitiba, peças de França, atenção:
Mentira!Teatro fantástico | Curitiba/PR | Centro Cultural Falec |
Dias 26 às 18 horas, 28 às 12 horas e 29 às
15 horas Ingressos: R$ 10 e R$ 5

Final do Mês
Comédia | Curitiba/PR | Teatro da Caixa Cultural | Dias 22
às 18 horas, 23 às 21 horas, 24 às 15h, 25 às 18h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5

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Habitués – O Longo Caminho de
Dois Freqüentadores de Boteco

Drama | Curitiba/PR | Teatro João Luiz Fiani | Dias 20, 21,
22, 27, 28 e 29 às 21h e 19, 25 e 26 às 18h
Ingressos: R$ 30 e R$ 15