Carlos Machado vive e circula por Curitiba. Mas não se contenta com a cidade física, nem a inventada por autores como Newton Sampaio (1913-1938), Dalton Trevisan, Jamil Snege (1939-2003) e outros. Ele inventa a sua própria urbe, visível em livros como A Voz do Outro (2004); Nós da província: diálogo com o carbono (2005) e Balada de uma retina sulamericana (2006) – os dois primeiros de contos, e o outro, uma longa narrativa (todos editados pela 7Letras).
Leitor voraz, escreve todos os dias desde 1996. Sua rotina pode ser descrita da seguinte maneira: “Trabalho, café, música, leitura, café, trabalho, esporte, café, leitura, música, cama.” Dorme 6 horas todo dia. Descansa apenas quando está diante da analista. Apreciador de vinho, e de Fuzilete do Fornão, concedeu uma entrevista exclusiva ao Blog do Caderno G.
A seguir, os principais fragmentos:
Você já escreveu, e publicou, dois livros de contos e uma novela. Pensa em produzir um romance?
Sim, esse é meu próximo projeto de literatura que está em andamento. Tenho associado a literatura muito com o passado, meu passado, o passado de onde fui criado. É um romance que se passa no norte do Paraná.
Comenta-se, na Curitiba literária, que você está com mais um livro de contos pronto.
Sim, o nome do livro é Passeios. Mais um livro de contos urbanos que se ambientam por aí: Manaus, Curitiba, Londrina, São Paulo, Rio de Janeiro, Cambe. Por aí. O livro será lançado ainda no primeiro semestre desse ano no Rio. Mais uma vez com a 7letras.
E a música? Como foi a recepção de Tendéu, o seu projeto de música brasileira?
A música caminha nas páginas da literatura. Não se desgrudam. Fizemos o lançamento (eu e a Esther Tribuzy) no final do ano passado em algumas cidades: Curitiba, Londrina, São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Paris, Munique. As canções ainda estão começando a caminhar. Estão a passeio. Mas já começamos a ensaiar para o novo CD. Mais uma vez com músicas minhas e de parceiros da cidade, como Fernando Koproski, que tem se tornado meu parceiro mais constante. Em março vamos gravar a pré-produção (ainda não defini quem serão os convidados, mas pode ter certeza que muitos músicos participarão do CD) e logo faremos a produção do novo trabalho que vai se chamar Aqueles Dois.
E a sua banda de som pesado?
Acabamos de produzir (no final do ano passado) o quarto e último CD da banda Sad Theory. Foram 10 anos de Death Metal, sempre com o mesmo núcleo de músicos (apenas o baterista da formação original saiu da banda em 2004). Lançamos todos os CDs por um selo de São Paulo (Die Hard Records, com exceção do primeiro CD que saiu pela MegaHard Records). Muitos shows importantes (com Sepultura, Krisiun, Blaze Bayle, WASP, Nevermore, Angra, Dragonheart etc.) e participações em coletâneas nos EUA, Europa e Brasil. Paramos porque o Juan Viacava, guitarrista e um dos fundadores da banda (formamos a banda em 1998), está fazendo doutorado nos EUA. Quem sabe quando ele voltar possamos fazer mais um CD.
E a sua outra face: você é professor do Colégio Bom Jesus.
Sou professor de literatura brasileira. Essa é minha profissão. Gosto muito do que faço. O trabalho com a educação me dá muito prazer. Conheço muitas pessoas e passo meus dias sempre com pessoas diferentes e sabendo que cada manhã de aula traz uma novidade. Nos últimos anos tenho me afastado das salas de aula e entrado mais para os bastidores de uma escola. No momento atuo como gestor de ensino médio do Colégio Bom Jesus – centro de Curitiba, onde trabalho há 10 anos.
Como você analisa o circuito, cena, enfim a vida literária em Curitiba?
Há alguns anos, eu frequentava os eventos literários, lançamentos, conversas de bar etc. Há uns dois anos, me afastei dessa cena, preservo meus amigos e toco adiante. Acompanho de longe, leio os lançamentos, jornais etc. Bem, o grande problema ainda que Curitiba tem é a falta de editoras, de um mercado, de acontecer. E não é só na literatura, não.
Qual a sua frase de despedida para os internautas deste blog da Gazeta do Povo?
Gosto de citar uma frase de um grande amigo, o Giancarlo Bardelli: “Ler é ver estrelas”… ou como diria Dalton Trevisan: “Com a faca, não!”
Leia um trecho do romance que Carlos Machado está produzindo:
“Evito passar diante do espelho quando vou ao banheiro: nem mesmo assim consigo sair do tal clichê. Ouço sempre alguém apontando o dedo com risadas chacoteadas. Nunca um, sempre muitos. Talvez se eu cortasse o cabelo, máquina zero. Já sei, devo entrar em contato com o hermano Effraim Medina Reyes e propor uma parceria na sua Fracassos Ltda. Sei que posso aumentar o alcance de sua empresa, até mesmo porque já comecei a ensaiar algo por esses dias. Ainda carrego no nome o sangue de algumas notas que se fazem musicais, ou nem tanto. Barulho para alguns. Apenas. Sons cristalinos só quando me calo. É, a corda parece estar sendo cortada no lado mais fraco. Alguém a jogou pela janela que, sem demora, já alcança a calçada da Av. Silva Jardim. Eu sabia que deveria ter descido de elevador, mas não o fiz. Simplesmente tirei a cortina da frente e segurei rente ao nó da ponta. Coloquei todo o corpo para fora e apoiei os pés na parede mal-pintada do prédio, enlacei-a por baixo e fiz uma cadeirinha. Aos poucos fui passando a mão por sua extensão e a virando para baixo. Décimo segundo andar. Décimo primeiro. Décimo. Parei no nono. Forcei meus pés a fim de continuar a descida. Porém, não se movia mais, nem mesmo para cima. Na posição em que me encontro posso ver, pelo vidro da frente, um homem sentado na cadeira pouco confortante diante da tela branca do computador. Cobre as pernas com cobertor. Faz frio.”
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