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A Mulher Que Escreveu A Bíblia: uma feia de respeito
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Por José Luiz Sykacz / Colaborou para a Gazeta do Povo

Divulgação
Atriz Inez Vianna interpreta uma esposa feia do Rei Salomão no espetáculo “A Mulher Que Escreveu a Bíblia”

Quando o público foi convidado a tomar seus lugares no Teatro Paiol durante a primeira apresentação do espetáculo A Mulher Que Escreveu a Bíblia nesta segunda-feira (23), e que será reapresentado nesta terça-feira (24), alguns se assustaram: a atriz Inez Viana, indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz em 2008, já estava no palco, sentada sobre uma pedra cenográfica, meditando calmamente sobre relatos de pessoas que comentavam sobre o tema “reencarnação”. “Será que a gente se atrasou?” alguns perguntavam meio assustados, enquanto, aos tropeços, iam se sentando.

Não, ninguém tinha se atrasado. Tudo fazia parte de uma introdução que buscava inserir o público dentro do contexto básico da história, uma adaptação do romance homônimo escrito pelo gaúcho Moacyr Scliar em 1999: uma mulher que, depois de uma sessão de regressão, descobre que foi uma 700 esposas do Rei Salomão em outra vida. Uma mulher, aliás, diferente das outras: era a mais feia de todas.

Quando o espetáculo realmente começa, o que se vê é a agilidade de Inez Viana em dominar o público: antes que alguém pudesse de dar conta, a primeira gargalhada explodia incontida em um dos cantos da platéia.

Expressiva e com um vigor surpreendente, a personagem narra as desventuras da pessoa que tinha sido em outra vida: uma mulher que, aos 18 anos, se descobriu vítima de uma feiúra incomum. Rejeitada pelos homens por sua aparência, a “feia” teve que buscar redenção de outras maneiras. Acabou aprendendo a ler e escrever, habilidade rara na época.

Com o tempo, depois de ter sido “convocada” para fazer parte do harém do Rei Salomão, a moça foi reconhecida por seu talento literário e convidada a redigir a Bíblia, obra que o monarca decidiu criar para que fosse lembrado pelas futuras gerações. Em meio a esta jornada, a feia vai tentando conquistar a simpatia do novo marido, que não consegue se sentir atraído por ela.

Inez demonstra-se à vontade com o texto, conseguindo alternar entre momentos humorísticos e dramáticos uma facilidade invejável. Beneficiada em parte pela proximidade do palco com o público, a atriz consegue estabelecer um clima de intimidade com a platéia difícil de observar nos tempos atuais. Sorrisos, aplausos, gargalhadas e até lágrimas surgem dos espectadores com a mesma espontaneidade com que Inez ilustra as desventuras da personagem.

O cenário, simplista, é constituído apenas de uma grande cortina branca e de uma pedra cenográfica. O grande trunfo visual do espetáculo é o jogo de luzes, que são usadas para ditar o ritmo e o clima de cada cena. A lógica da simplicidade serve para o figurino da atriz, que tenta acentuar a “feiúra” da personagem – tarefa difícil, diga-se de passagem, já que Inez não é nem um pouco feia.

Quando o ato final chega, o público já está de tal forma dominado pelos relatos da personagem, que quase se esquece que tudo se trata de uma encenação. Méritos, mais uma vez, ao trabalho de Inez Vianna que entre um riso e outro, consegue tocar os sentimentos dos espectadores, que naquela altura do espetáculo já tinham sido seduzidos aos encantos da feiosa.

Ao fim, os aplausos entusiasmados do público soaram apenas como uma justa retribuição ao tempo que puderam desfrutar em companhia do talento e carisma de Inez que, visivelmente emocionada, agradeceu a todos pelo carinho. Quem viu, não teve dúvidas: a feia fez bonito.

Serviço: A Mulher que Escreveu a Bíblia: terça (24), às 21h, Teatro Paiol (Largo Professor Guido Viaro, s/nº – Prado Velho. Telefone: (41) 3213-1340). Ingressos a R$ 40 e R$ 20 (meia). Confira o serviço completo do espetáculo

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