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“É preciso ainda que o público se interesse mais pelo que é feito aqui.”

Ei, internauta, atenção: anote esse nome -Rodrigo Ferrarini Pereira. Trinta anos. Curitibano, formado no curso de ator do Colégio Estadual do Paraná. O currículo dele, sem dúvida, impressiona – já esteve de Avenida Dropsie (Felipe Hirsh) a Apenas o Fim do Mundo (Marcio Abreu) – no teatro – a filmes como INSOLAÇÃO (Felipe Hirsh), ESTÔMAGO (Marcos Jorge) etc.

Admira muita gente da cidade. Uma atriz? Gilda Elisa. Um ator? Guilherme Weber. Um diretor? Marcio Abreu. Um escritor? Dalton Trevisan. Uma artista plástica? Maureen Miranda (que é atriz e diretora, ora direis, ouvir estrelas). Ele pode ser encontrado no Café Mafalda. Ou na Rua das Flores.

Por que o Festival de Curitiba é importante para quem faz teatro na cidade?
Acho qualquer manifestação cultural importante num país onde a cultura é extremamente desvalorizada. O fazer teatro exige da gente uma constante atualização e ver teatro rotineiramente é umas das coisas essenciais pra isso. Também acho importante a troca com o pessoal que vem de fora como artistas e jornalistas.

Por que o Festival de Curitiba não é importante para quem faz teatro na cidade?
Estar com um trabalho no festival apenas pela expectativa de ser visto não vale a pena. Essa é uma possiblidade que o festival oferece, mas no meio de 500 coisas esta é uma tarefa árdua. É preciso antes de mais nada desenvolver trabalhos comprometidos com a arte. Outro ponto é a precária estrutura do Fringe. Não dá pra entrar no festival e fazer o trabalho pela metade, por falta de recurso.

Até aqui, o que você mais gostou no Festival de Curitiba?
Eu ja tinha visto Zoologico de Vidro em São Paulo. Tenho uma relação afetiva antiga com esse texto brilhante, e acho que a montagem de Ulisses Cruz faz juz a esse clássico. Ela renova e atualiza o sentido do texto de uma maneira muito tocante. Irretocável. Também, atraido pelo texto de Tenesse Williams, fui assistir Fala Domigo Doce como a Chuva, da Cia de Teatro Adulto de BH. Não conhecia o trabalho deles e fiquei emocionado com o que vi.

Até aqui, o que você mais desgostou no Festival de Curitiba?
Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibidade. Foi preciso muita paciência pra aturar.

Excetuando o Festival de Curitiba, como vão as artes cênicas na cidade?
Estamos num entreato. Quando eu comecei a fazer teatro nos anos 90 nós tinhamos alguns grandes diretores na cidade responsáveis por muitos trabalhos que até hoje servem de referência pra mim. E hoje, cada vez mais, os grupos ganham força e isso é muito bom. Essa geração que chegou um pouquinho depois de mim é muito corajosa, organizada, mas o amadurecimento no teatro requer tempo. Me identifico muito com o trabalho e as opções da Companhia Brasileira de Teatro. Eu adoro trabalhar com um diretor que me pede o que eu não sei fazer: é quando pinta o desafio. O Marcio Abreu é desses. Ele é o diretor que melhor sabe trabalhar com atores que eu ja conheci.

Uma peça, realizada em Curitiba, por companhia local, que comoveu
você? E por quê?

Uma peça que eu nunca vou esquecer é Estou te Escrevendo de um Pais Distante, da Sutil Companhia. Uma releitura de Hamlet por Felipe Hirsh, montada em 1997. No elenco estavam Nena Inoue, Lala Shneider, Guilherme Weber, Rachel Rizzo, Zeca Cenovicz e Fernanda Farah. Foi como um soco pra mim. Um texto perturbador e um elenco que dispensa comentários.

Uma peça, de fora de Curitiba, que te comoveu? Por quê?
Na lista das melhores coisas que eu já vi eu sempre coloco A Gaivota, da Cia dos Atores. Ja deu pra ver que eu adoro releituras, né? Acho muito interessante ter uma obra como essa, como ponto de partida pra um novo trabalho. Uma das questões importantes que Tchecov discute na obra é que o teatro precisa de novas formas. Isso num texto do começo do século passado! Significa que essa é uma questão importante para os fazedores de teatro de todos os tempos e certamente combustivel para o trabalho da Cia dos Atores. Assisti A Gaivota no Teatro da Caixa e saí de lá com a vontade de fazer teatro renovada.

Fazer teatro em Curitiba é…?
Isso sempre muda na minha cabeça. De um tempo pra cá as coisas na politica cultural melhoraram bastante aqui e isso possibilita que a gente possa concretizar os projetos. É preciso ainda que o público se interesse mais pelo que é feito aqui. Depois que dizem que você é bom fora de Curitiba, é só então que você passa a ser bom dentro de Curitiba. É uma relação estranha e histórica. Se você for à Porto Alegre ou à Belo Horizonte as coisas são bem diferentes nesse sentido.

Domingo, a cidade completa 316 anos. O que é Curitiba?
É minha casa, eu adoro a cidade. Moro ao lado do Passeio Público. Eu sou leitor do Dalton Trevisan e essa é uma região muito inspiradora pra ele e eu sei bem porquê. Curitiba é um universo fantástico. Sempre sinto falta daqui quando estou fora e penso que a primeira coisa que eu vou fazer quando voltar é caminhar na Rua XV.

O que você ama e odeia em Curitiba?
Gosto da limpeza, da organização. É uma cidade muito bonita, com um custo de vida relativamente baixo. Além disso, nada aqui é muito longe. A gente não precisa perder muito tempo da vida se deslocando.É uma mistura de cidade grande com cidade pequena. Odeio o frio. Eu cosigo ver fumaça saindo da minha boca dentro da minha casa no inverno. Nesses dias eu tenho vontade de fugir pro Equador.

Ainda neste Festival de Curitiba, confira Rodrigo em cena em:

Menos Emergências:
Até dia 25 (quarta) – às 23horas
Gênero: Drama
Preços: R$ 14,00 e R$ 7,00
Local: Espaço 2 – Rua Comendador Macedo, 431

Divulgação
Um ator e a sua cidade

As ondas:
Dia 28/03 – 21:00
Work in Progress
Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00
Local: Estúdio Marcelo Scalzo – Rua Portugal, 339 – São Francisco

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