Nem o frio nem a chuva impediram que 120 pessoas lotassem, na noite de ontem (9), o Teatro da Caixa, em Curitiba, para conferir a estreia de Os Três Espelhos, peça escrita e dirigida por Maureen Miranda, 33 anos, mais conhecida pela sua atuação como atriz.
Os Três Espelhos pode ser pensado como um ensaio sobre a ausência. Samuel, interpretado por Ferrarini, verbaliza — durante quase 60 minutos — a respeito do que a ausência de seu pai provocou em sua vida.
O pai, para o filho, foi uma espécie de turista na própria vida. Essa é uma fala, um texto da peça. Em determinado momento, o filho comenta que o pai não deixou marcas na casa, não pregou um prego na parede, não realizou obras. Mas se a casa ficou sem os impactos da presença paterna, o imaginário do filho foi todo construído a partir dessa ausência.
Há muita verbalização durante a peça, talvez tenha sido essa a proposta de Maureen, mas — em algum momento — talvez o espectador sinta falta de uma cena silenciosa, como é a cena que abre Os Três Espelhos: Samuel, em silêncio, ferve água, coa e sorve café.
Samuel, durante a peça, procura assimilar a perda, a morte do pai. Ele fica a remoer, remoendo, remoendo, o que uma ausência significa, ou pode significar. Chorar pelo pai é algo para o futuro, mas esse futuro não faz parte da peça.
Há muitos outros aspectos da peça, que ainda não absorvi; talvez volte a escrever em outro post.
Mas, depois dos aplausos, em pé, houve um coquetel. Algumas pessoas me perguntavam: Chorou? Você chorou, Marcio? Não, respondi, mais de uma vez. A peça me causou estranhamento. Mas não chorei. Não entendi se a mãe de Samuel, interpretada por Claudete Pereira Jorge, estava ou não cena. Não compreendi. Às vezes, ela parecia alguém presente. Mas poderia ser apenas alucinação do personagem Samuel. Não entendi. E não chorei. E, confuso, respondia, a cada pergunta, que não havia chorado. Não chorei, não chorei.
No saguão do Teatro da Caixa, comentavam que 50 pessoas tiveram de voltar para casa pois os ingressos, os 120 ingressos, acabaram rapidamente. “Tiveram de se contentar com o antepenúltimo episódio de Caminho das Índias, e com o Brasil e Chile“, dizia um sujeito.
Alexandre França, Christiane de Macedo, Chiris Gomes, Marcelo Scalzo, Helinho Brandão — artistas que transitam por artes cênicas e música — comentavam o impacto que a peça provocou neles. Mas não escutei esses comentários.
Ouvi apenas a Maureen Miranda contar que, ontem, seria a primeira noite que ela iria dormir, desde que começou a pensar nessa peça. “Só consigo relaxar depois da estreia“, disse.
E, você, esteve lá, no Teatro da Caixa, ontem? Viu, sentiu, conferiu a estreia de Os Três Espelhos? Caso sim, qual a sua opinião? Gostou da Maureen Miranda enquanto diretora? Caso não, por que não gostou?
É possível conferir hoje, dia 10, a segunda e derradeira apresentação de Os Três Espelhos, contemplada por um edital da Funarte.
Ah, e é preciso registrar: Rodrigo Ferrarini e Claudete Pereira Jorge estão ótimos em cena.