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“Tá bombando”, diriam alguns por aí. E a Apanhador Só está mesmo. O quarteto gaúcho — Alexandre Kumpinski (voz e guitarra), Felipe Zancanaro (guitarra), Fernão Agra (baixo) e Martin Estevez (bateria) – arrebatou crítica e encantou seu público com o disco homônimo, lançado em abril de 2010.

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Desde então, já são 18 mil downloads do álbum, uma indicação ao VMB como melhor “Aposta” e a estreia do clipe da fantástica “Um Rei e o Zé”, na grade da MTV.

Em um momento de transição – a banda parece deixar para trás os ares gaúchos e alçar voos mais ousados, seja lá o que isso signifique hoje –, o Apanhador se apresenta nesta sexta (11) na Sociedade 13 de Maio, em Curitiba, ao lado de Lemoskine, projeto do incansável Rodrigo Lemos. O show faz parte do projeto Noite Fina – leia matéria aqui.

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De sua casa em Porto Alegre, o vocalista e principal compositor do quarteto, Alexandre Zumpinski, driblou a chuva, conversou com este jornalista sobre o momento da banda, o processo criativo e outras coisas trilegais. Confira aí:

Vocês tocam pela terceira vez em Curitiba, agora na Sociedade 13 de Maio, um lugar maior do que o extinto Porão Rock Club e o James. Qual a expectativa para esse show?
Esperamos que vá mais gente que nos outros shows, que já foram bons. Também queremos fazer um grande show e ver o pessoal satisfeito.

Vão tocar o disco inteiro, há novidades no repertório?
Vamos tocar o disco todo e mais umas três ou quatro músicas novas, que não tocamos em lugar nenhum. Uma outra é “Damas”, presente no EP Embrulho Pra Levar (2006). O pessoal sempre pedia nos shows mesmo fora de Porto Alegre e nós rearranjamos a música. Às vezes temos que dar uma cortadinha para o show não ficar muito comprido, mas a ideia é mostrar novidades.

Conhece Lemoskine, trabalho do Rodrigo Lemos, que abrirá o show?
Conheço a Poléxia [antiga banda de Lemos], gostava bastante. E agora estou ouvindo o Lemoskine na internet. É bacana, tem a ver com o Apanhador.

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18 mil downloads do disco, indicação ao VMB e um ótimo clipe recém-lançado. Como estão recebendo todas essas boas notícias? O que mudou para vocês?
Com certeza algo aconteceu. Antes pouca gente nos conhecia, mesmo em Porto Alegre. Em outras cidades, menos ainda… (ahhhh… começou a chover aqui. Putz, tá chovendo em cima do amplificador… bah!, mas ele é guerreiro. Molhou o tapete, que função! Pera aí… putz…)… enfim, as coisas mudaram também muito por conta da internet, do trabalho da Agência Alavanca, da nossa organização. Nosso público tem crescido muito, os shows têm mais gente, agora conseguimos datas melhores para tocar. E tudo isso faz com que nossa responsabilidade aumente. Há mais pessoas esperando por nosso show, então temos que pensar e realizar algo bem fechado. Também temos nos profissionalizado mais, inclusive internamente. Há mais organização, dedicação.

A rotina de vocês mudou?
Mudou sim. Eu, por exemplo. Antes estava trabalhando em uma produtora de áudio. Tiver que abrir mão porque estava me consumindo muito tempo. A banda, na verdade, passou a consumir muito do nosso tempo. Mas há que se fazer uma escolha e eu fiz porque isso é o que eu mais gosto de fazer. Todo mundo teve que se reorganizar. Os outros guris tiveram que cancelar matérias na faculdade, além de se liberarem mais para viajar com a banda.

Como foi a gravação do clipe. Já viu na TV?
Vi sim, foi massa. Eu participei muito da produção, vi centenas de vezes, então não me emocionei muito (risos).

Chico Buarque disse, há cerca de cinco anos, que a canção brasileira iria morrer — reproduzimos essa análise na edição da Gazeta da última quarta-feira, na coluna Acordes Locais. Disse que a letra dentro da música iria perder espaço, que as pessoas não se importavam mais em cantar coisas belas. Vocês, ao que parece, estão provando o contrário, com letras impecáveis como a que existe em “Pouco Importa”. Qual o peso do conteúdo das letras para vocês?
Acho que a letra deve ser a primeira preocupação em uma composição. Eu não consigo pensar em letra de música não associada à melodia. Poucas vezes fizemos músicas a partir de arranjos. Normalmente eu faço uma música, com parceria ou não, e a partir dessa canção fazemos o resto, a roupagem. Apontaria a letra como a principal preocupação do Apanhador.

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Em uma terra (Rio Grande do Sul), que prima pelo rock mais cru e tradicionalista, ainda é estranho, exótico, fazer canções como a de vocês e utilizar instrumentos não convencionas?
Há muito tempo isso soava exótico. Aqui era mais sexo, drogas e rock-and-roll mesmo. Mas, muito por conta da internet, as pessoas conseguem fazer uma distinção. Essa tradição do rock gaúcho está caindo e as pessoas daqui não estranham nosso trabalho. Em resumo, é a internet. Tem informação pra tudo quanto é lado. O público está se “ecletizando”.

Pode contar um pouco da história de “Pouco Importa”? A metáfora da letra é linda.
Pois é. Muita gente aponta essa música, essa letra, como nonsense. Mas eu vejo um caminho muito concreto. Na verdade eu não exponho muito isso pra não abafar outras interpretações, mas vamos lá. Para mim é um diálogo bem claro entre um casal, na verdade não um casal, entre um homem e uma mulher. O cara quer mandar uma mensagem pela garrafa para ser salvo do que ele quer ser salvo… A mulher diz que naquela cidade não tem mar e ele não sabe escrever. Então não há como. A falta do mar seria essa incomunicabilidade, muito presente por aí .

A velha história da inspiração…. suas letras vem de onde?
Não tenho muito isso. Nunca soube dizer de onde vem. Não tenho algum ponto específico. É clichê, mas algo que me traz ideias é a própria vida. Um verso surge no meio de uma conversa com o amigo, vendo tevê, assistindo a algum filme, ouvindo outras músicas. Uma palavra bem usada numa música, uma ideia que surgiu. Às vezes até ouço músicas em outras línguas e não entendo o que estão cantando. Aí crio um significado próprio para aquilo, mesmo sabendo que não está certo.

O que está ouvindo hoje?
Shame, Shame, do Dr. Dog. e Amar la Trama, último do Jorge Drexler. Descobri agora que ele foi gravado ao vivo, nem parece…