Você já assoviou “Young Folks”, não minta. Também já abriu um sorriso quando a ouviu em algum bar da cidade. Lançada como single do disco Writer’s Block, em 2006, a música tirou do limbo a banda sueca Peter Bjorn and John, que existe desde 1999.
O trio é uma das atrações do Festival Planeta Terra, em novembro. Além da música indie-fofinha, o grupo já teve sua fase instrumental (Seaside Rock, de 2008), experimental (Living Thing, de 2009) e agora retorna ao bom e velho pop com Gimme Somme, sexto – sexto? – disco de estúdio. Por telefone, conversei com o vocalista e guitarrista Peter Móren, que estava no sofá da sua casa em Estocolmo, na Suécia. Simpático e cheio de graça, ele falou sobre a produção do novo disco e a expectativa para voltar ao Brasil. Abaixo, ouça “Dig a Little Deeper” e relembre “Young Folks”.
Matéria completa e resenha do novo álbum você confere na edição de hoje do Caderno G
Pela primeira vez, a banda trabalhou com um produtor. Por quê vocês escolheram Per Sunding para produzir Gimme Somme e como foi trabalhar com ele?
Decidimos que iríamos trabalhar com um produtor quando finalizamos o penúltimo álbum (Living Thing, 2009). A banda existe desde 1999, trabalhamos todo o tempo juntos e precisávamos de algo novo. Colocar um novo olhar, uma nova visão nos estúdios. Queríamos mais baixo, mais guitarra, como já tínhamos feito no passado. As vezes precisamos de novas cabeças para termos novas ideias. Per Sunding foi perfeito para o trabalho.
Living Thing pode ser descrito como um álbum experimental, meio que obscuro também. Gimme Somme é quase o oposto disso. É ensolarado, com uma alma pop bem evidente. Por quê essa mudança?
Em todos os nossos discos, sempre quisemos fazer coisas diferentes. Experimentamos muito em Living Thing. Há sons de balões, e “naipes” de guarda-chuvas, por exemplo, mas o som ainda era pop de certa maneira. E naquela época passávamos muito tempo em estúdio. Gravávamos muito. Para Gimme Somme queríamos voltar ao básico, ao que éramos antes. Então decidimos que iríamos criar daquela forma. Talvez seja um reflexo de como anda nossas vidas hoje em dia.
John [John Eriksson, baterista] disse em uma entrevista que vocês queriam fazer um disco punk. É verdade?
Um disco de punk rock, pra valer, não. Acho que só na cabeça dele (risos). Mas realmente fizemos algo mais agressivo, enérgico, direto, com mais guitarras. As músicas talvez não soem como punk, mas a maneira de gravá-las, sim.
Voltando no tempo: vocês imaginavam que a música “Young Folks” iria fazer tanto sucesso? Todo mundo, de 2006 para cá, deve ter assoviado essa melodia uma vez na vida.
Não. Nunca imaginávamos. Mas quando gravamos a faixa, sabíamos que tínhamos em mãos algo diferente, que não existia em nenhum dos nossos discos. O bacana é que podemos tocá-la em qualquer lugar. Em shows pequenos, em lugares fechados, ou em grandes estádios, para uma multidão. O resultado é sempre o mesmo.
É uma música pop perfeita.
Hum… sim, acho que sim. Que Paul McCartney não me ouça (risos).
Vocês têm ou tiveram medo de, algum dia, serem lembrados como banda de um hit só?
Não, acho que não. Não pensamos muito nisso. Nosso objetivo é tocar por muito tempo, para muitas pessoas e em muitos lugares. Queremos ter uma carreira longa e cheia de hits (risos). Vamos amadurecendo, aperfeiçoando a banda, então acho que será mais fácil fazer com que mais músicas se tornem conhecidas. E essa coisa de “one hit wonder” se baseia mais no mainstream da mídia, das rádios. Acho que não vale muito para nós e nossos fãs. E ter um hit não é problema. É melhor do que não ter nenhum, né?
Na sua opinião, há alguma música em Gimme Somme que pode virar uma nova “Young Folks”?
Acho que “Second Chance”. É faixa mais “popular”.
Você citou Paul McCartney e, além disso, o rock dos Beatles é bastante perceptível em algumas músicas, ou em passagens de músicas. Você ouviu muito Beatles?
Não quando fizemos o álbum, mas, sim, é a banda que mais ouvi na vida. Em toda minha vida inteira (risos)! Então não posso ignorar isso.
Que outras bandas foram importantes para Peter Bjorn and John?
As bandas do nosso produtor [Per Sunding foi membro da Eggstone, umas das bandas de maior sucesso na Suécia nas últimas décadas]. É um pop melódico muito bom, principalmente ao vivo. Há muitas bandas inglesas do final da década de 1980 também, como Ride e Stone Roses. Além de Kraftwerk, Yo La Tengo e Elvis Costello. É um mix bem divertido.
Por quê cantar em inglês e não em sueco?
Quando começamos a banda, cantávamos em sueco. Aí pensamos sobre isso. Ora, as bandas que gostávamos cantavam em inglês. É mais por questão de referência mesmo. Mas penso e escrevo em sueco porque acho que só podemos alcançar determinado tipo de pensamento quando “estamos” em nossa própria língua. A inspiração chega de forma diferente. Se bem que agora ando fazendo os dois, em inglês e em sueco… (risos).
Como está a cena pop sueca hoje? Algumas bandas e artistas como I’m From Barcelona e Jens Lekman ganharam projeção nos últimos anos.
Não chamaria de uma cena, acho que não há um movimento porque não é algo que discutimos por lá. Nós fazemos coisas parecidas, principalmente música pop, mas não bebemos cerveja juntos. A cena eletrônica está muito forte por lá também. Muito mais do que aquela composta por bandas com guitarra, baixo e bateria. O que é similar é a melancolia das letras. Ouço uma música e consigo dizer: essa é uma banda da Suécia. Não sei porque… acho que por causa dos nossos invernos longos (risos). Mas é legal isso, é honesto. Escrever músicas é uma boa maneira de resolver problemas, exorcizar coisas. É melhor que ir ao psiquiatra. Eu me sinto melhor quando componho músicas. É quase uma terapia por que é honesto, o sentimento é real. John Lennon, por exemplo. Sabíamos por suas músicas quando ele estava muito nervoso ou super feliz.
Conhece e gosta de música brasileira?
Não conheço muito… não sei direito que está acontecendo aí, agora, em termos de música. Mas ouço e gosto de coisas antigas, como Caetano Veloso e Jorge Ben Jor. O pessoal da Tropicália também, além de Tom Jobim.
Qual a expectativa para tocar no Festival Planeta Terra, em novembro?
Vai ser muito bom voltar. É ótimo tocar para grandes públicos. Nos divertimos desde a passagem de som até o último acorde. Queremos, no Brasil, fazer igual ao Bruce Springsteen recentemente. Ele tocou na Inglaterra, para uma multidão. Mesmo assim, conseguiu fazer com que todos interagissem, conseguiu criar um dialogismo. Se conseguirmos fazer isso, estarei feliz.