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O cenário de “Hamlet Ponto Três” me deu desespero. O cheiro de naftalina, ainda não consegui entender se era proposital. As roupas, cruzes de madeira e velas distribuídas pelo palco do teatro Marina Machado lembravam uma peça caseira. O início fez supor que seria uma peça declamada, artificial.
De repente, os coveiros. Assim como, no texto de William Shakespeare, eles são chaves para acessar o tema da morte que cai sobre todos, rei ou mendigo, os três atores usam o trecho para aprofundar a peça e partir para algo experimental. Representam uma conversa num cemitério, momento em que transformam o espetáculo em algo bem interessante.
Outra surpresa foi um cânone de “Ser ou não ser”, o solilóquio mais famoso do príncipe da Dinamarca. Português, inglês e francês bem declamados fazendo um jogral bem sonoro, ao qual os diretores Bijijo Godoy e Vítor Rodrigues devem ter dedicado bastante cuidado.
Quando usa canções, a Cia. Teatral de Pesquisa Baba de Anjo, de Curitiba, revela que seus componentes não são amadores. A troca de toupa no palco é um recurso que traz uma certa leveza ao clima que o texto poderia tornar complicado.
Toda a trama do herdeiro ao trono que é chamado pelo fantasma do pai assassinado para vingar sua morte é narrada e depois encenada, lembrando o recurso do metateatro usado pelo bardo – especialmente em Hamlet, em que há uma encenação dentro da peça.
Ao final da última apresentação, no sábado, os atores falaram um pouquinho da experiência de montagem e até de suas trajetórias pessoais no teatro. Essa é uma vantagem do Festival, que poderia ser aproveitada mais.

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