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Inveja dos Anjos arrebata lentamente

Há espetáculos que crescem lentamente e se adensam até que, ao final, tudo o que foi dito e visto pese sobre o espectador, preenchendo-o de inquietações.

“Inveja dos Anjos”, o primoroso trabalho do grupo Armazém apresentado no teatro da Reitoria, é um desses. Muito por conta do texto excelente de Paulo de Moraes e Maurício Arruda Mendonça, que contém pequenas pérolas (“Como é que se pune alguém que não se arrepende?”), e caminha por estradas paralelas, fragmentado, sem nunca se perder do seu destino.

Poderia não ser o suficiente para tornar Inveja dos Anjos um dos melhores espetáculos desse 18º Festival de Curitiba, se não fosse a atuação precisa dos atores, a materializar o universo pensado pelos dramaturgos com matizes de esperança e desilusão, ternura e secura, contrapondo a dura realidade aos sonhos mais improváveis.

Seus personagens, com suas “asas quebradas”, depõem sobre as marcas profundas deixadas pelo passar do tempo. Sobre a memória, testemunha que não nos deixa esquecer nem das situações que foram dolorosas, nem daquelas felizes que apertam o peito por terem ficado para trás.

O sentimento de nostalgia está presente, reforçado por canções de forte carga emocional, como “Creep” (primeiro sucesso da banda Radiohead). O belo cenário, um trilho de trem, dá mobilidade à encenação e nos lembra a todo o instante da transitoriedade da vida e das pessoas.

Ps. O teatro paranaense teria muito a ganhar se o grupo Armazém, radicado há dez anos no Rio de Janeiro, se mantivesse mais próximo e irradiasse o seu trabalho sério e continuado de pesquisa por aqui, contaminando outras companhias, como o Galpão faz em Minas Gerais.

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