É impossível ficar indiferente frente a uma apresentação de Leo Fressato.
Porque o compositor de “Oração” é teatral e inconscientemente lúdico, visceral e muitas vezes extravagante, ótimo letrista e em alguns momentos atabalhoadamente desafinado.
O que o move – e o motivo pela aura quase messiânica que se cria em torno de sua figura — é a legítima vontade de fazer a arte que faz e a certeza manifesta que tem de que aquela é mesmo a coisa mais importante da sua vida. Isso é, enfim, perceptível tanto por quem gosta de seu trabalho quanto por quem o evita.
No show que fez para um Wonka lotado no último dia 9, havia muitos, muitos amigos. Isso é até certo ponto normal em apresentações de bandas da cidade, que levam os seus, que vão, de bom grado, ver as músicas do colega. Mas ali era diferente.
Quase todos eram parceiros musicais. Leo citou muitos nomes, contou muitas histórias – era quase uma peça de teatro mesmo – e fez de sua apresentação uma recriação parcial da festa que aconteceu na casa bucólica em que foi gravado o
clipe de “Oração”.
Esse clima de reverência, causado por sua interpretação quente e exuberante, é seu grande trunfo. Há vezes em que um Renato Russo emana no palco, outras em que a acidez de um Ney Matogrosso é sugerida. Suas canções são de uma simplicidade tocante, mas é como se todas formassem um
grande círculo repetitivo que ecoa “meu amor, meu amor, meu amor…”
Acompanhado da parceira Ana Larousse, emocionou quando cantou a bonita “Canção
Para Não Voltar”; se mostrou verdadeiro ao apresentar uma de suas primeiras composições, que brinca com uma sequência primária de acordes; divertiu quando improvisou uma música ao coletar objetos “que cabiam em uma penteadeira”; mas causou estranheza ao rasgar a voz
desajeitadamente em outra, logo depois. Leo Fressato é assim mesmo: veias saltadas no pescoço.
Parece que o pessoal da Som Livre estava no bar para ver qual é a do rapaz brasiliense de cabelos encaracolados. Talvez, espero que não, eles tenham se contentado mais ao vê-lo do que ao ouvi-lo.
