Há dois minutos, no máximo três minutos, presenciei a uma das mais incríveis palestras que tive a oportunidade de escutar e ver na vida. O escritor mineiro radicado em São Paulo André Sant’Anna foi arrebatador no palco da lona principal da Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo.
André começou com ênfase, voz firme: “Cultura é uma coisa boa, é o que nos diferencia dos animais. Mas a cultura tem um problema. A cultura é inimiga da arte. A cultura cria padrões de comportamento.”
Entendeu? O escritor disse o óbvio, e somente os gênios dizem o óbvio. A cultura é inimiga da arte porque a cultura cria padrões de comportamento. Ele usou o cinema, como exemplo, para se fazer entender.
“Alguém definiu que os filmes tem de ter de uma hora e meia a duas horas de duração. Por que ninguém faz filmes de 48 minutos ou de 4 horas?”
Ele também usou a literatura para exemplificar a tese, a tese que diz que a cultura é inimiga da arte. “Na literatura, alguém definiu que o padrão é texto enxuto, com frases curtas etc. Eu acho que a literatura pode ser mais que isso.”
André Sant’Anna afirmou que o seu ideal é o do índio brasileiro. Acordar, pescar de manhã para comer no almoço, dormir, e, de noite, todo mundo é artista, e todo mundo troca experiências.
Ele ainda disse que é a vaidade o motor de todo o artista. “O sujeito escreve, faz pinturas ou cinema para se diferenciar dos outros.”
André Sant’Anna falou outras coisas, muito irônico, sutil, genial, brilhante. Hoje pela manhã, conversei com ele na hora do café, do suco de laranja, do pão, da água mineral com gás. Já havia lido as obras-primas que ele escreveu: Sexo e O Paraíso É Bem Bacana.
Na realidade, André Sant’Anna que é bem bacana. Ele acaba de arrasar em Passo Fundo. E arrasou porque estava em uma mesa que tinha como temas arquitetura, pintura e espaços virtuais. Desconcertante, parecia que não estava falando do assunto, mas foi direto ao ponto. Falou da arte, do homem, do passado, do presente e do futuro.