“’Rêm’ é palha”, disse o sujeito logo à minha frente, em plena Cidade do Rock, naquele Rock in Rio 2001. De imediato, não entendi o que era “rêm”, mas logo, pela conversa que o cara travava com seu amigo, compreendi que ele se referia à banda de Michael Stipe, que iria entrar no palco dali a poucos minutos, após um ótimo show do Foo Fighters. Ora, pensei naquele instante, “rêm” não é palha coisa nenhuma! “Rêm” é muito massa!
A anedota me veio à memória assim que soube que Stipe, Peter Buck e Mike Mills resolveram pôr fim ao R.E.M.. Pelo jeito, acharam que o grupo formado por eles e pelo baterista aposentado Bill Berry “deu o que tinha que dar”. Lamentei assim que soube da notícia, afinal o pessoal do rapid eye movement marcou como poucas outras bandas a minha juventude, das festinhas embaladas a “Shiny Happy People” (renegada por Stipe há muitos anos) às tentativas de acompanhar a letra de “It’s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)”, do quarto escuro ao som de “Drive” a Murmur (1983) nos headphones, da indignação com a falta de reconhecimento dispensada a New Adventures in Hi-fi (1996) à vontade de começar uma revolução proporcionada por “Ignoreland”, da tristeza sem-fim de Up (1998) à euforia de assisti-los ao vivo naquele Rock in Rio, dez anos atrás. Essa relação poderia continuar indefinidamente, mas vou parar por aqui para fazer outra lista, uma que inclua dez músicas essenciais (megahits ficaram de fora) do já saudoso “rêm”:
1)“Finest Worksong”, de Document (1987) – Uma das melhores faixas de abertura da história do rock, com uma bateria poderosa e uma guitarra circular excepcionais.
2)“Me In Honey”, de Out of Time (1991) – Kate Pierson, do The B-52’s, dá uma aula de backing vocals nesse country-rock empolgante, com resultado muito melhor do que o dueto mais famoso dela com Stipe, “Shiny Happy People”
3)“Laughing”, de Murmur (1983) – Isso é o que vieram a chamar de “jangle pop”, subcategoria habitada pelo R.E.M. e mais meia dúzia de outros grupos oitentistas.
4)“The Sidewinder Sleeps Tonite”, de Automatic for the People (1992) – Versos esquisitos, cantados de um jeito mais esquisito ainda, mas irresistivelmente pop.
5)“At My Most Beautiful”, de Up (1998) – O mais próximo que o R.E.M. chegou da perfeição nas tentativas de emular as melodias dos Beach Boys.
6)“Pretty Persuasion”, de Reckoning (1984) – Elo perdido do folk rock produzido nos anos 1960 pelos Byrds com o pós-punk.
7)“Leave”, de New Adventures in Hi-fi (1996) – Fantástica tanto na versão do álbum, com a barulheira de sintetizador, como na calmaria da trilha sonora de Por uma Vida Menos Ordinária.
8)“Fall on Me”, de Lifes Rich Pageant (1986) – Letra apocalíptica, refrão ensolarado, guitarra de 12 cordas…
9)“King of Comedy”, de Monster (1994) – No disco, tentaram entrar na onda grunge. Não deu muito certo, mas esta e “What’s the Frequency, Kenneth?” são geniais.
10)“Turn You Inside-Out”, de Green (1988) – Pop rock é isso, minha gente.
Já lembrei de outras 10. “Rêm” é assim.