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O Festival de Londrina terminou, mas seus efeitos se prolongam ao longo do ano. Movidos não só pelas oficinas e bate-papos com diretores promovidos de vez em quando,
mas também por declarações como a de Mário Bortolotto, que disse à Gazeta do Povo que participaria mais do evento, se suas inscrições não fossem sempre recusadas.

Uma frase chocante diante da idolatria que a classe tem por ele no norte do estado. A propósito, publico um depoimento escrito pelo Robson Vilalba, colega aqui da Gazeta envolvido com a cena de teatro londrinense. Segue:

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“Não precisou de muito tempo vivendo em Londrina para perceber a (des)proporção que é o teatro por lá. Em qualquer bar, este será a pauta do papo, para não falar nos cartazes do Filo que compõem cenários diversos na cidade. E quando falo de desproporção, falo comparando a cena local à de outras capitais brasileiras.

Um nome: Mário Bortolotto. É quase sinônimo do teatro pé vermelho. Injustiça com os outros? É claro, muita! Mas, se o assunto é teatro londrinense, esse nome é sempre recorrente. Ame-o ou deixe-o, Bortolotto e sua companhia Cemitério de Automóveis são uma síntese de gerações. O jeito rude e desbocado de intelectual de bar compõe seu personagem.

Bortolotto escreve, dirige e atua levando ao palco a marca da contra-cultura, difundida nos anos 60. Essa característica beatnik é encontrada em várias manifestações culturais londrinenses, como a poesia, a música e o cinema feitos por lá.

A primeira fez que vi Bortolotto no palco foi na peça Homens, Santos e Desertores. Saímos todos comentando o cheiro do café, feito em cena, e a densidade ranzinza e reclusa do personagem principal que divide a cena com um garoto e diversos livros. A estranha sensação talvez traduzisse a catarse aristotélica que faz de mim, e tantos londrinenses, admiradores da sua obra.

Em meados dos anos 90, um cara chamado Roberto Sales deixou o Cemitério de Automóveis para trilhar novas contra-culturas. Em 1999, nascia o projeto Teatro e Transformação Social, e o grupo Caos e Acaso, desenvolvendo linguagens teatrais que fugiam da toada londrinense. Passaram a resgatar Augusto Boal e Bertolt Brecht, em busca do popular. O teatro brechtiano é tido por muitos como ultrapassado, mas se há alguma resposta à sua capacidade de se atualizar, ela está na peça Café Quente em Noite Fria.

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O espetáculo conta a história da geada de Londrina de maneira totalmente fragmentada, em que personagens praticamente anônimos ou que atendem por seus arquétipos (como o marinheiro e o banqueiro) tiram o espetáculo do tempo e do espaço, permitindo à arte romper barreiras discursivas, dividindo o palco com a vida.

São cenas do passado que volta e meia retornam ao papo de bar londrinense.”