É comum que amigos e parentes me questionem sobre como as matérias são construídas. Eles sempre acham que é tudo arranjado. Passo horas explicando que não e me divirto contando histórias.
O tema da próxima conversa será a cobertura do carnaval. Vou contar que na semana anterior à festa, estava reunindo uma série de informações sobre a programação das cidades, e que para isso conversei com prefeituras, departamentos de Turismo, Polícia Militar, etc.
Mas para a outra parte da matéria, vou contar que precisei de ajuda. Precisava encontrar as pessoas que fazem o carnaval acontecer: passistas, costureiras de fantasias, comerciantes. Lembrei do meu primo, o estilista José Celso de Oliveira, que sempre falava do amigo dele, o bordador Raul Anderson Berges. Trabalhando juntos, Celso presenciou a dedicação do amigo para os desfiles da escola de Samba Filhos da Capela, de Antonina. Ele já fez curso no Rio de Janeiro para ser carnavalesco, e investe do próprio bolso para se tornar cada vez mais capaz. Neste ano, bordou os paetês da própria fantasia de destaque que usou no domingo (22) na Filhos da Capela.
Quando precisei encontrar uma costureira e uma passista naquela cidade, não tive dúvida. Liguei para o Raul e pedi socorro. Poderia ser ele o meu entrevistado, mas queria história de moradores da cidade. Raul, apesar de antoninense, mora em Curitiba há muitos anos.
Incomodei o rapaz por dois dias. No primeiro, fui à Antonina encontrar uma
costureira que passa o ano alinhavando paetês e tecidos coloridos para o desfile. Ele me levou às senhoras do Bloco do Boi Barroso e a matéria se fez. No segundo dia, precisava tirar foto para a capa do caderno – o que implicava em ter um pandeiro, uma passista e rua de pedras simbolizando o carnaval de rua. Liguei para ele de novo. Chegando a Antonina, tudo já estava arranjado. Raul me apresentou a passista Lílian Pinto Linhares, foi atrás de um pandeiro e indicou a estação ferroviária de Antonina para a produção da fotografia, já que caía uma chuva inesperada e a rua, nosso primeiro ‘cenário’ para a foto, não seria o lugar ideal.
Lilian posou para mais de 200 fotografias feitas por Daniel Castellano e é do Raul a mão que sacode o pandeiro na capa do caderno Verão, da Gazeta do Povo, de 20 de fevereiro. E uma capa se fez. Sem acordos comerciais, sem segundas intenções, Raul me doou uma tarde e duas noites para a produção de parte de uma matéria. Não teve nome divulgado, nem esperava nenhum retorno desse tipo. Ele me prestou socorro porque ama o carnaval de Antonina e queria vê-lo sendo bem divulgado. Sem Raul, demoraria muito mais para encontrar a minha passista e correria o risco de entrevistar alguém que não tivesse o telecoteco correndo nas veias. Com dois telefonemas, Raul me colocou frente à Lílian, passista da Capela desde os 2 anos. Neste carnaval, já com 30 anos, vai sair na avenida com a filha Ana Clara, de 5 anos. Samba que passa de geração em geração, a história que eu precisava com a ajuda que não esperava.
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