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Punks bons de praia
| Foto:
Hedeson Alve/Gazeta do Povo
Felícia e Pablo: roupas pretas e som punk em meio a trajes mínimos e muito sertanejo

Na segunda-feira passada (27), durante uma matéria na praia, avistei uma barraca amarela na orla de Matinhos. Cheguei junto e conheci Pablo e Felícia, um casal de punks de Curitiba que anda pelo Litoral vendendo artesanato. De roupa e coturno pretos, eles não viam a hora de cair no mar para se refrescar do calorão daquele dia, mas toparam conversar comigo antes.
Segue abaixo um textinho que fiz sobre eles:

São 14h da tarde, a temperatura bate nos 32ºC e os curitibanos Pablo e Felícia chamam a atenção pelas tatuagens, piercings – e roupa preta. O único consolo para um sol de rachar é uma barraca de camping amarela que os dois dividem nas andanças pelo Litoral do Paraná. E que andanças – no sábado depois do Natal, sem dinheiro no bolso, os dois vieram a pé de Praia de Leste, em Pontal do Paraná, para Matinhos. “Não sobra dinheiro para passagem, não. É carona ou andar a pé”, conta Pablo, de 32 anos, que com a tática do dedão empinado já rodou pelo Chile, Argentina e Europa.

Na praia, o casal vende artesanatos, tirando do mar as conchinhas e pedrinhas que compõem as bijuterias, além de arame para formar a base de colares e brincos. O mar geralmente é generoso – Pablo conta que já achou até dinheiro, R$ 600,00, trazido pelo mar com os detritos-, mas a fiscalização aperta a cada dia. Enquanto a reportagem andava pela praia, esperando pelo retorno de Pablo, que fora comprar pão, a fiscalização passou e mandou Felícia desmontar a barraca. Poucos dias antes, já haviam confiscado o material usado para fabricar as bijuterias. “É difícil as pessoas entenderem que esse é o nosso trabalho. Não somos marginais, temos horror à violência. Não temos nada a ver com esse negócio de skinheads, os dois grupos nem se bicam”, afirma Felícia.

E que tal o ambiente da praia, com milhares de pessoas em trajes mínimos e curtindo um sertanejão – contraste óbvio com a roupa preta e o som à la Ramones? “É difícil, aqui a gente não encontra a galera, não dá pra curtir um som, mas a gente nem tem muito tempo para ficar no mar, é só de vez em quando. Como sempre tomam nossas coisas, temos de nos virar pra achar material, fazer as bijuterias e ganhar o dinheiro para a comida, tudo no mesmo dia”, explica Pablo. Água, para afugentar o calorão, só do mar ou se alguém se dispuser a encher a garrafa pet de dois litros. “Já cheguei a pedir água do esguicho pra uma senhora que lavava a frente de casa, mas não rolou’.

Em 2010, os dois pretendem continuar com as andanças. “Vamos continuar aqui, porque na temporada enche, dá pra tirar uma grana boa”. Com esse calor, vendendo hoje pra comer no mesmo dia e trabalhando em ambientes um tanto inóspitos, onde é que eles arranjam disposição, qual é o sentido? “É pela liberdade, né? Pelo prazer de ir e vir sem dar satisfações a ninguém, como todo bom anarquista”, filosofa Pablo. Punk que é punk não perde a ideologia, mesmo sob um calorão de 32º C.

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