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Voluntariado

Valterci Santos
A repórter Élida, de camiseta azul clara, durante a prova do Troféu Elite de Salvamento Aquático

Pode parecer estranho, mas foi em meio a 120 homens vestidos de sunga que uma mulher me chamou a atenção. E pode ficar mais estranho ainda se eu disser que essa mulher é das minhas. Esse jogo de palavras suscita uma série de risinhos e piadinhas em um ambiente contaminado pela testosterona – que tende a ser uma redação. Por isso peço licença ao leitor deste blog para abrir este texto fazendo um bom uso delas.

Vamos ao contexto: manhã de terça-feira, início da disputa pelas provas que compõem o Troféu Elite de Salvamento Aquático. Já havia vibrado quando li na semana anterior que eu estaria escalada para fazer esta reportagem. Depois de tantos dias de chuva e céu nublado, um pouco de descontração não faria nada mal a esta jovem repórter. Assim que cheguei à praia, procurei pelo tenente Leonardo Mendes Santos, relações públicas do Corpo de Bombeiros, para encontrar possíveis promessas de vencedores (aqueles que haviam treinado forte, que venceram em anos anteriores, etc e tal). Já fazia as minhas entrevistas e entre uma pergunta ou outra, percebi que o Leonardo estava ao meu lado com Elaine e disse: “Essa tem uma história legal de voluntariado.”

Tenho uma simpatia por voluntariados e um dedo do pé no terceiro setor. Já fiz diversos trabalhos com este caráter, fosse dando aulas ou assessorando instituições com textos e fotografias. Mas o que me chamou a atenção foi o trabalho que Elaine escolheu para ser socialmente responsável: a praia. Mais precisamente, debaixo de um guarda-sol vermelho. Ela foi uma guarda-vidas voluntária. Como não havia pensado nisos antes?

Nem instituição filantrópica, comunidades carentes ou hospitais. Em 2001, Elaine fez parte da primeira turma do curso de guarda-vidas voluntário, passou por provas físicas e técnicas antes de ir para a areia zelar pela vida de banhistas. Passou por sete temporadas trabalhando de sol a sol, expondo-se ao vento e à água salgada, sem ganhar nem um tostão por isso. “Minha paixão é o salvamento aquático”, disse com a certeza de quem sabe a escolha que fez.

E o que Elaine estava fazendo no Troféu Elite de Salvamento Aquático?

Depois de quatro anos como voluntária, fez concurso para entrar na Polícia Militar e passou. Ela é uma oficial da PM prestando serviço de guarda-vidas durante a temporada, desta vez de forma remunerada. Já foi campeã sulamericana de salvamento aquático em 2007 e venceu a Volta de Guaratuba, promovida pela Operação Viva o Verão. Para esta etapa, era uma aposta na prova de salvamento com o pranchão. Mas entre títulos e medalhas, nada valeria o olhar de Elaine ao falar do trabalho que escolheu como missão: “Salvar uma vida não tem preço.”

A última turma de guarda-vidas voluntário foi de 2003. De acordo com o tenente Leonardo Mendes Santos, o projeto foi suspenso por já haver quantidade suficiente de bombeiros para atuar no litoral, sem a necessidade de escalar extras. Uma pena. O voluntariado é uma via de mão dupla. Serve para angariar pessoas apaixonadas e dedicadas, mas também ajuda que outras pessoas descubram suas paixões e doem o que há de melhor para um trabalho que tantos outros exercem por obrigação.

Doa-se amor.

E se não fosse pelo amor… Ser voluntária na praia deve ser muito bom. Ainda mais com tantos colegas de sunga e propensão à prática do exercício físico.

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