Olá Amigos,
Posto hoje este texto do Eloi Zanetti, um colaborador de tempo em tempo, por meio de seus artigos, aqui do nosso portal RPC. Já escreveu para o site “Família” (que não existe mais, era fruto do antigo TudoParaná) e para o nosso site de “Pós-graduação”. O Eloi é publicitário, especialista em marketing e comunicação corporativa e tem uma vasta experiência nesta área. Acumula no seu currículo passagens por grandes empresas do estado, como diretor de comunicações e marketing do Bamerindus (hoje HSBC) e do Boticário. Além de cinco livros publicados. Eloi se tiver mais algum me corrija por favor.
Aqui no blog ele dá um recado aos pais e sem dúvidas traz, como a gente sempre diz por aqui, uma mensagem que vale a pena ser lida.
Leia a íntegra do texto:
****
“Há um povo indígena no Acre que se autodefine Huni Kui, cuja tradução tem o significado de gente verdadeira. Um amigo que trabalha com tecelagem e é pesquisador dos corantes naturais da floresta brasileira me contou como esta tribo transmite os ensinamentos ancestrais para as novas gerações. São belos exemplos sobre a arte de ensinar, educar e trabalhar em equipe.
Por meio de rituais simples, mas de grande significado e sabedoria, eles imprimem de forma eficiente, de uma geração para outra, o que vêm aprendendo há séculos.
Por exemplo, a iniciação ao estudo da tecelagem começa sempre na lua nova e antes de uma menina receber as lições a professora coloca sobre os seus olhos duas pedrinhas. Faz uma oração e pede que a criança enxergue mais e melhor do que ela vai ensinar. Em seguida, a avó desta menina leva-a para a floresta e juntas fazem cantigas à jibóia para que esta também ensine com perfeição todos os pontos do tear.
Os padrões da tecelagem da tribo chamam-se kenes e são inspirados no couro da cobra. Durante o tempo do aprendizado, enquanto realiza o trabalho, a aluna canta para chamar a força das pedrinhas e se manter concentrada na tarefa e no estudo.
Com certeza estes rituais preparam o aprendiz para a concentração no trabalho a ser executado, a se comprometer com a lição e a estabelecer compromissos contínuos com a qualidade.
Além disso, a tribo tem o seguinte conceito sobre o aprendizado: a melhor maneira de aprender as coisas é fazendo junto. Tudo é ensinado passo a passo. Não há pressa. A aprendizagem como um todo se estende até a fase adulta.
Os meninos aprendem com o pai o serviço dos homens e as meninas com a mãe o trabalho das mulheres. Enquanto vão ensinando, os mais velhos contam histórias sobre o porquê daquele trabalho e daquele jeito. Um dos indígenas explicou a este meu amigo que professores e alunos buscam a memória do passado para compreender o presente e planejar o futuro. É surpreendente que um povo com esse grau de evolução seja chamado de selvagem!
Os trabalhos artesanais e os desenhos desta tribo são reconhecidos pela alta qualidade. Cada padrão de imagem é baseado no couro da jibóia adulta. Como a cobra tem 25 padrões, eles podem fazer desenhos maiores em quantos formatos quiserem. É como lidar com as letras do nosso alfabeto, só que em desenhos.
É lógico que temos conhecimentos bem diferentes para passar aos nossos filhos. Nosso modo de viver é outro, talvez mais complicado, com ferramentas complexas e maior amplitude de disciplinas. Lutamos pela mesma sobrevivência de outra maneira e o tempo corre acelerado para nós urbanos.
Mas quero chamar a atenção para o modo como a tribo Huni Kui enxerga o aprendizado: há alguma coisa de sagrado no ato de ensinar e aprender entre eles. Existem rituais como o de fechar os olhos para ver melhor o que a professora ensina; de cantar para louvar o grande provedor de ensinamentos neste caso, a cobra; de trabalhar alegre e cantando para chamar a atenção do aluno para a concentração no trabalho.
Nós entregamos nossos filhos às escolas e só nos preocupamos com a sua educação de vez em quando, ao darmos uma passada de olhos nos boletins ou quando somos chamados à orientação pedagógica para saber, sempre tarde demais, que nosso filho está com algum problema. A maioria de nós delega a tarefa sagrada do ensinar às professoras, esperando delas ações que deveriam ser da exclusividade dos pais.
Muitos deixam crianças por conta de empregadas domésticas e da babá eletrônica. Depois, por culpa, enchem as crianças de presentes, mimos e estragos.
Não seria melhor ensinar fazendo junto, aproveitar melhor este curto espaço de tempo que temos ao lado dos nossos filhos? É pouco tempo mesmo. Quando se fica mais velho percebe-se isto. Então será tarde demais. Os pais se desculpam dizendo que têm que ganhar a vida, o trabalho ocupa todo o tempo, viagens e reuniões sem fim, o trânsito é um caos. Sei que com um pouco de disciplina e esforço pais e mães podem dar um suporte melhor à educação dos filhos.
Quando estiver em casa, na companhia deles, esqueça por completo os afazeres do dia-a-dia profissional e só pense na qualidade da sua presença. Pois se estiver com os filhos e ficar pensando no trabalho, não estará com eles, mas sim no trabalho. Faça como os Huni Kui, gente verdadeira, brinque sério de ensinar seus filhos. As futuras gerações agradecerão.”
Eloi Zanetti – especialista em marketing e comunicação corporativa, escritor e palestrante. – eloizanetti@terra.com.br