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Zezinho com a camisa da seleção: ele foi um dos destaques do Sul-Americano sub-17 de 2009.

A história de Zezinho é daquelas que dizem muito sobre o futebol atual. Precocidade, supervalorização, cobiça de clubes estrangeiros, negociação com carimbo em um paraíso fiscal, frustrações, expectativas renovadas, desconfiança. Tudo faz parte da carreira do meia que hoje completa 20 anos.

Zezinho foi apresentado como joia rara do Juventude em 12 de abril de 2008. Tinha apenas 16 anos e vinha sendo escondido a sete chaves até atingir a idade mínima para assinar um contrato profissional. Mesmo procedimento do Internacional com Alexandre Pato. Uma precaução que permitiu ao Colorado lucrar 22 milhões de euros com o atacante na venda ao Milan. Do dia da apresentação, é emblemática a frase do presidente do Ju, Sergio Florian. “Temos que ter muita paciência para não queimar etapas. Mas posso dizer que se algum clube quiser levá-lo, terá de pagar R$ 40 milhões.”

O futuro mostrou que a preocupação maior acabou sendo com os milhões, não com respeitar etapas. Zezinho teve sua transferência para o Arsenal dada como certa um ano depois. Fez as malas, foi a Londres, treinou com os Gunners. Não ficou porque a remuneração ao Juventude dependia do desempenho do atleta, algo que foi considerado um risco. Para o clube gaúcho, Zezinho era uma realidade e deveria ser remunerado assim. Para o Arsenal, era uma aposta.

Dinheiro na mão quem ofereceu o uruguaio Deportivo Maldonado, barriga de aluguel do empresário Gustavo Arribas e clube que, se usasse todos os jogadores que compra, seria uma potência sul-americana. O Maldonado (leia-se Arribas) desembolsou 2,5 milhões de euros pelo meia, emprestado imediatamente ao Santos, no início de 2010. Na mesma época, o Santos buscou por empréstimo também no Maldonado o lateral-esquerdo Alex Sandro, vendido pouco antes pelo Atlético ao clube uruguaio por 2,2 milhões de euros.

A passagem de Zezinho pelo Santos só não foi um zero absoluto porque ele participou da famosa Twitcam comandada por Madson e Zé Love, aquela em que o goleiro Felipe disse que gastava com ração para cachorro o equivalente ao salário do torcedor que o chamara de mão de alface. No Bahia, nem uma história dessas Zezinho teve para contar.

No domingo, ele apareceu com a camisa 8 do Atlético, contra o Rio Branco. Sandro Orlandelli é o elo entre o Furacão e o meia. Foi o atual diretor de futebol rubro-negro quem o indicou para o Arsenal, como parte do seu trabalho de olheiro dos Gunners na América Latina. No CT do Caju, ele tem seu desenvolvimento monitorado de perto por Orlandelli, que convenceu Petraglia a apostar no garoto, com uma diferença fundamental: no Atlético ele é visto como uma promessa que precisa ser lapidada, não uma aposta pronta para estourar.

Exatamente por isso, Zezinho chegou para jogar no sub-23, cuja criação foi defendida e conduzida por Orlandelli. Destacou-se no amistoso contra o Laranja Mecânica a ponto de ser chamado por Carrasco para o jogo contra o Sampaio Correa. Na antevéspera da partida em São Luís o seu nome apareceu no BID, com um contrato até 31 de dezembro.

O vínculo pode ser prorrogado por mais um ano, de acordo com o cumprimento de metas prestabelecidas. Depende do desempenho de Zezinho, depende da avaliação do Atlético, depende da percepção de Arribas. Os 45 minutos contra o Rio Branco oferecem poucas pistas de como Zezinho se sairá na Baixada. Mas o trabalho que o Atlético se propõe a fazer com ele (e com vários outros jogadores que estão chegando para o sub-23) abre o caminho para uma boa discussão sobre investimento em jovens jogadores. O que vale mais: gastar dinheiro para adquirir um jovem talento que tanto pode estourar, e aí o lucro é todo seu, como não jogar bem logo de cara e se tornar um fardo, como Morro García; ou receber um jogador de empresário ou grupo de investidores, montar um plano de desenvolvimento para o jogador, em que o risco é baixo em caso de fracasso, mas o sucesso trará o lucro pequeno que sempre fica para clubes que assumem o papel de incubadoras?

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Ainda sobre o Atlético sub-23, sugiro a reportagem de Gustavo Ribeiro, na Gazeta do Povo de hoje.

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Post com uma colaboração maiúscula do colega de trabalho Marcus Alves.

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