O caos e a incerteza que se tornaram as marcas da Copa do Mundo em Curitiba, nos últimos dias, tiram um pouco a perspectiva de tempo de todo o processo. Há sete anos se fala no Mundial na cidade. Estádio, investimento público x investimento privado, legado… Tudo isso foi incorporado ao noticiário esportivo. Uma enxurrada que faz com que algumas coisas acabem se perdendo pelo caminho, até serem lembradas por alguém.
Na terça-feira, enquanto reverberava o pito dado por Jérôme Valcke, o Thiago de Araújo, um dos ótimos repórteres que passaram pela Gazeta do Povo nos últimos anos, já há algum tempinho no R7, resgatou no Facebook uma excelente matéria assinada por ele e pela Ana Luzia Mikos. É um material de 15 de março de 2009, desvendando o que era o projeto de Copa apresentado por Curitiba para convencer, à época, Lula e Ricardo Teixeira de que a cidade merecia o Mundial.
Obviamente, a política pesou muito mais na escolha de Curitiba e das 11 outras sedes. Ainda assim, é interessante revisitar o que a cidade vendeu como legado da Copa. Um pacote robusto (o projeto todo pesava 200 quilos) e caro (R$ 9 bilhões), que a exemplo de todos os os demais tentava aproveitar a Copa para desengavetar antigas demandas. Cinco anos depois, com o Mundial dobrando a esquina, muitas coisas se perderam, outras ficaram substancialmente mais caras. Para quem tiver tempo, recomendo a leitura da Curitiba desenhada para 2014. Abaixo, listo as obras incluídas no projeto inicial, o que ainda resiste e em quais condições.
Arena da Baixada
O projeto: Conclusão do estádio (R$ 69 milhões) + adequações nas vias próximas e na Praça Afonso Botelho, pavimentação e construção de ciclovias, paisagismo, calçadas e correções geométricas das ruas (R$ 58,1 milhões).
A realidade: Os R$ 127,1 milhões apresentados no projeto coordenado pelo Ippuc não dariam nem mesmo para pagar o empréstimo de R$ 131 milhões que o BNDES fez para custear parte da obra. Somente o estádio tem custo atual de R$ 264,5 milhõesz (sem impostos). A prefeitura calcula em R$ 219,7 milhões o seu investimento no entorno do estádio — sendo que cerca de R$ 180 milhões em intervenções definitivas. E tudo ainda está em obras.
Metrô
O projeto: Descrevia a reportagem — “O carro chefe é o metrô. Orçado pouco mais de R$ 2 bilhões (R$ 2,68 milhões para estudos e projetos de engenharia e outros R$ 2 bilhões para a linha de 22 quilômetros entre os terminais do Santa Cândida e CIC Sul), o sistema deve transportar 650 mil passageiros/ dia e ter quatro estações próximas à Baixada.”
A realidade: A fase 1 foi reduzida para um trecho entre Cabral e CIC Sul. O custo subiu. Está estimado em R$ 5,4 bilhões. E não estará disponível para a Copa. A prefeitura divulgou o edital de licitação no início do ano. O documento estará disponível para consulta até 10 de fevereiro. A obra começa no segundo semestre de 2014 e tem conclusão prevista para 2019.
Linha Verde
O projeto: Construção do eixo Norte, com custo indefinido.
A realidade: Excluída do projeto da Copa. Entrou a Linha Verde Sul, com custo de R$ 19,7 milhões e entrega em abril.
Avenida das Torres
O projeto: Melhoria no fluxo ao Aeroporto Afonso Pena, com construção de trincheiras e viadutos. Custo estimado de R$ 12,7 milhões.
A realidade: Puxado pelo viaduto estaiado, o custo subiu para R$ 127,7 milhões. A obra deve ficar pronta em abril.
Marechal Floriano
O projeto: Melhoria no fluxo ao Aeroporto Afonso Pena, com construção de trincheiras e viadutos. Custo estimado de R$ 31,04 milhões.
A realidade: O custo atual é de R$ 66,8 milhões (R$ 41 milhões no trecho municipal e R$ 25 milhões no trecho estadual). É mais uma intervenção que só ficará pronta em abril.
Aeroporto Afonso Pena
O projeto: Construção da terceira pista e modernização dos equipamentos. Sem custo estimado.
A realidade: Uma etapa da obra, restauração de pistas, foi finalizada. Para as próximas semanas está prevista a entrega da ampliação dos sistemas de pistas e pátios. O terminal de passageiros terá uma primeira etapa entregue em maio (mais balcões de check-in, pontes de acesso, elevadores, escadas rolantes, esteiras para retirada de bagagem) e a maior, somente em 2016. O custo atual é de R$ 286 milhões.
Vias de integração radiais metropolitanas
O projeto: Revitalização de um trecho de 1,1 quilômetro na Avenida Salgado Filho, ao custo de R$ 3,575 milhões; revitalização da Avenida Francisco Derosso, ao custo de R$ 13 milhões; construção de uma Radial até Pinhais, por R$ 9,2 milhões; duas vias radiais até Colombo, por R$ 7,5 milhões.
A realidade: O trecho da Derosso foi excluído e a alça da Salgado Filho entrou o ano da Copa sem ter sido iniciada. A obra deve ser entregue pouco antes do Mundial. A projeção de R$ 33,2 milhões hoje é uma conta de R$ 58 milhões.
Anel ferroviário
O projeto: Construção de uma ferrovia paralela aos contornos Norte e Sul.
A realidade: Excluído do projeto Copa.
Avenida Visconde de Guarapuava
O projeto: Pista de rolamento e ciclovia, com investimento de R$ 6 milhões.
A realidade: Excluída do projeto Copa.
Avenida Cândido de Abreu
O projeto: Reformas e adaptações da via, para ser usada por um Ligeirão que ligaria o Museu do Olho ao Aeroporto Afonso Pena.
A realidade: Excluída do projeto Copa.
Rodoferroviária
O projeto: Melhorias nos acessos, investimento de R$ 5 milhões.
A realidade: Deve ser concluída em abril, após consumir R$ 40,2 milhões.
Corredor Metropolitano
O projeto: Anel rodoviário no entorno de Curitiba, ligando Almirante Tamandaré, Colombo, Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande e Araucária. Orçado em R$ 157,4 milhões.
A realidade: Excluído do projeto Copa em dezembro de 2012, quando seu custo já estava em R$ 505 milhões.
Sistema Integrado de Monitoramento Urbano
O projeto: Sistema de controle de tráfego, a R$ 10 milhões.
A realidade: Será entregue em março, ao custo de R$ 70 milhões (R$ 60 milhões a parte municipal e R$ 10 milhões a parte estadual).
Fan Parks
O projeto: Montar estrutura no Jardim Botânico, Parque Barigui e Pedreira Paulo Leminski para as Fan Fests.
A realidade: O Botânico foi descartada e o Barigui é considerado arriscado por causa do risco de alagamento. A preferência é pela Pedreira, liberada para a realização de shows, mas ainda não para a Fan Fest. A festa deve consumir R$ 10 milhões.
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