Coluna publicada na Esportiva impressa desta sexta-feira
O Paraná escancarou, semana passada, o pedido de ajuda ao seu torcedor para superar os problemas financeiros e ter um desfecho de Série B condizente com o ótimo time que montou. Sob essa ótica, o patrocínio da organizada Fúria Independente na camisa paranista, fechado para os dois próximos jogos, deveria ser comemorado sem restrições. Há alguns pontos, porém, que exigem uma reflexão maior.
O primeiro é meramente financeiro. A Fúria gastará para estampar sua marca na camisa paranista um valor similar ao gasto pelo Madero para ocupar o mesmo espaço pelas mesmas duas partidas. O restaurante mesmo informou a esta Gazeta do Povo que desembolsou R$ 50 mil. É uma receita significativa para uma torcida organizada, que, em tese (como todas as outras), não deveria ter grandes fontes de renda.
Organizadas têm — não apenas a Fúria. Dinheiro que vem, invariavelmente, de setores em que elas competem com o clube. Venda de camisa, agasalhos, adesivos, associação mensal etc. Então, na prática, se uma organizada patrocina um clube, como é o caso, ela está, de certa forma, devolvendo um dinheiro ganho às custas desse clube.
O segundo aspecto é político. Oficialmente, trata-se de uma relação comercial, que envolverá uma série de outras ações que terão suporte da organizada — e receita integralmente destinada ao Paraná.
A questão é: na prática será assim? E para eliminar dúvidas, não questiono os termos do acordo em si nem digo que o acerto é diferente do que está sendo anunciado. O ponto central é e quando a torcida resolver cobrar por essa ajuda?
Historicamente, mais cedo ou mais tarde essa conta vem. E não há retrospecto bom quando são eliminadas as fronteiras mais nítidas do futebol, aquelas que determinam que o time joga, a diretoria dirige e o torcedor torce. Corinthians e Flamengo têm amplo histórico de ingerência indevida da sua organizada na vida do clube. O Coritiba ainda tem o 6 de dezembro de 2009 bem vivo na memória.
Para levar a outro nível, recomendo a leitura de La Doce – A Explosiva História da Torcida Organizada Mais Temida do Mundo, de Gustavo Grabía. O livro narra a história da La 12, principal barra do Boca Juniors. Um grupo que começou como uma reunião de meros apoiadores dos xeneizes, mas que se transformou em um monstro incontrolável. Um facção que aproveitou as portas abertas sistematicamente pelo clube para estabelecer comércios lucrativos fora e dentro da Bombonera (é quem comanda um lucrativo tour pelo estádio) e há muito estendeu seu poder político para além do futebol.
Quando entrega o espaço mais nobre da sua camisa à torcida organizada, a diretoria do Paraná leva a outro patamar o apelo para ser ajudado pelo seu torcedor. Ao mesmo tempo, abre uma porta que seria melhor não abrir, que precisa saber a hora exata de fechar e que talvez seja impossível fechar quando essa hora chegar.
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