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Alex na apresentação, um dia antes de efetivamente assinar contrato com o Coxa

A Folha de S. Paulo publica, hoje, uma boa e extensa entrevista com Alex. Há uma versão editada no jornal e a completa no site. Separei, abaixo, a parte que Alex fala diretamente do Coritiba e da negociação com o clube. Ou melhor, da falta de negociação.

Alex revelou ter fechado com o Coxa sem negociar salário ou contrato. Foi apresentado um dia antes de formalizar o vínculo com o clube. Também desmistificou algumas informações, como a de que a decisão havia sido tomada pela família dele, que sua volta pavimentaria o retorno do sogro Edison Mauad à vida política do clube e que chegou a manter negociação com Cruzeiro e Palmeiras. Confiram.

Quando você decidiu que jogaria pelo Coritiba?
Cheguei sábado, na minha cabeça eu queria jogar no Coritiba, mas antes, do meu período de rescisão até eu vir embora, foram 12 dias na Turquia. Esses 12 dias na Turquia eu tinha de correr atrás de muitas coisas, essa coisa burocrática, tentar resolver. Principalmente a mudança e a questão burocrática. Eu pensava: ‘não quero ter que voltar para a Turquia pra resolver qualquer pendência’. Eu acordava cedo todos os dias e ia atrás das coisa pra resolver, voltava pra casa no final do dia, pra ter tempo de resolver todas as minhas pendências. Nesse período, vários clubes me ligaram. Vários. Do Brasil, exterior, Europa, EUA, mundo árabe. E eu fui descartando: não quero voltar ao Brasil, ligava algum clube do Brasil e eu agradecia.

Eu dei conversa pra dois clubes: Cruzeiro e Palmeiras, pois são clubes que tenho um carinho grande, joguei nos dois clubes, e as pessoas que me contataram são pessoas que eu conheço. Foi o César Sampaio, pelo Palmeiras, e o presidente do Cruzeiro [Gilvan Tavares], que na minha época era diretor jurídico. Para os dois eu falei a mesma coisa: ‘em bom português, tá foda aqui, uma comoção geral, um tempo curto pra resolver todas as minhas coisas. Chegando no Brasil eu converso com vocês’. E nesse período eu tô raciocinando. Pensando: ‘tô livre, o que vou fazer? Onde vou jogar? Como vai funcionar tudo isso na minha volta? Vou chegar no Brasil em outubro, não posso jogar até janeiro.’

Onde entra o Coritiba? Nas minhas férias, passei um dia no Coritiba, com o Felipe Ximenes [superintendente de futebol]. Ele me mostrou todo o clube, como estava funcionando, as categorias de base, o que imaginavam para o time profissional pra frente, a parte administrativa. Me deram um raio-X geral do clube. Nesse período lá, mantinha conversa com o Felipe Ximenes como um torcedor privilegiado. Dava boa sorte, lamentava derrota. Mas a gente não falou na possibilidade de voltar. A única coisa que eu falei, eu disse: quando eu voltar, vocês vão saber por mim aquilo que eu vou fazer. E eu vou sentar com vocês pois me acho obrigado a fazê-lo, por toda história que tenho com o Coritiba’.

Quando cheguei no Brasil sábado, dei entrevista falando que estava decidido, eu estava decidido por todas essas coisas que eu raciocinei que seriam melhores, mas eu não tinha conversado com o Coritiba, a parte de contrato, essas coisas.

Liguei para o Alexandre Mattos [diretor de futebol], do Cruzeiro, e marquei um encontro segunda-feira em Curitiba. Sábado, conversando com minha mulher, ela perguntou: ‘você vai falar o que?’. Respondi: ‘vou falar que não quero ir pro Cruzeiro, vou dizer que quero acertar com o Coritiba’. E ela disse: ‘não é melhor então ligar para ele e dizer, para evitar uma viagem de Belo Horizonte a Curitba, Curitiba-Belo Horizonte?’. E eu disse: ‘é, você tem razão’. Liguei pro Alexandre e falei: ‘obrigado pela procura, mas até pra evitar de você vir pra Coritiba, estou cancelando o encontro de segunda-feira, pois provavelmente vou seguir outro caminho.’

Na segunda, pra minha surpresa, ele deu uma entrevista dizendo que a minha família optou por ficar em Curitiba, que eu tinha sido pressionado naqueles dois dias pela minha família. Liguei pra ele, reclamei que não disse nada disso, mas pra mim pouco importa. E nisso eu estou atrás do César Sampaio. Não tinha telefone brasileiro, só turco. Meu telefone brasileiro não conseguia ligar. Achei o Sampaio na terça-feira de manhã. ‘César, seguinte: eu sei que o pessoal do Palmeiras deve estar te pressionando, mas eu tomei minha decisão, vou ficar em Curitiba. Aí o César falou: ‘isso é definitivo?’. ‘Sim. Obrigado, agradeça o pessoal, a você, desejei sorte e desliguei o telefone. E fui me encontrar com o pessoal do Coritiba, com o presidente e o Felipe Ximenes.

Sentei com eles, o presidente já veio com um pré-contrato definido por eles. Tomamos um café, olhei meu contrato, e assinei. Minha mulher até brincou: você leu direito?. ‘Sim, já li, assinei. E no dia seguinte eles assinaram.’

Você optou pelo Coritiba antes de negociar contrato e salário?
Sim. Assinei o contrato. Eu não ouvi Cruzeiro e não ouvi Palmeiras. O Alexandre Mattos me mandou uma proposta por e-mail. Eu falei pra não mandar nada, estava numa correria doida com a bagagem [na Turquia]. E mandou uma mensagem. Eu estava na rua. Peguei o e-mail pelo celular e vi. Aí brinquei com ele: ‘por esse valor nem vou sentar com você’. Ele disse: ‘manda uma contraproposta’. Eu disse que não, pois a partir do momento que eu mando uma contraproposta estaria abrindo uma negociação. O presidente [do Cruzeiro] me ligou, eu sentado numa mala, na minha casa. Eu falei: ‘o problema não é dinheiro. Se eu for acertar com vocês, não vai ser dinheiro o problema. Deixa eu chegar no Brasil, chegando no Brasil a gente senta, conversa, e se for pra acertar, vamos acertar o contrato’. Não teve [negociação], não ouvi o Cruzeiro. Ele me mandou e-mail, brinquei que por aquele valor nem conversaria. E depois de ter falado com o César, que foi o último, eu sentei com o Coritiba e a gente acertou o contrato.

Em quanto tempo acertou o contrato?
Tomamos um café da manhã, falamos de um milhão de coisas, de Curitiba, família, clube, do Brasileiro. No final, o presidente me mostrou o envelope com o contrato, eu li e assinei, o total desse encontro deve ter durado o tempo de um almoço, um café, não sei dizer. Eu estava muito relaxado, na minha casa, com meus filhos, minha mulher vinha. O presidente do Coritiba contou a história dele, de como resolveu assumir o clube. Contou as dificuldades que tiveram pra equilibrar o clube. No final a gente começou a conversar sobre a minha situação. Me mostrou um pré-contrato, li, gostei do que vi, assinei, e me anunciaram no jogo contra o Náutico. Depois teve apresentação, e depois da apresentação fui realmente assinar o contrato no clube, com documentação, o contrato de verdade, como faria com aquela coisa desse período do dia que assinei até dezembro, já que não posso entrar no BID da CBF. A coisa de legalizar mesmo o negócio foi feito depois.

O Palmeiras mandou uma proposta?
Pra mim, não. Quem falar isso é mentiroso. No Palmeiras falei com duas pessoas: uma não lembro o nome. A outra foi o César Sampaio. O outro acho que era Antônio Rodrigues, diretor financeiro [Antônio Henrique Silva]. Eles disseram: ‘a gente espera você chegar no Brasil’. Só isso. Falei pro Sampaio, vi no jornal, não lembro qual, que o Alex dava preferência ao Palmeiras. Não dei preferência pra ninguém. Dispensei vários clubes.

Você ouviu sua família?
Não. Meu pai, mãe, irmãos, todos eles foram surpreendidos. A decisão foi minha e da minha mulher. Somos nós dois no dia a dia, 15 anos juntos trocando ideias. Minha mulher gosta de futebol, vê futebol desde 7, 8 anos de idade. Ela sabe mais ou menos como eu penso, como é o dia a dia. Chegou uma hora que ela falou: ‘veja o que você quer e tome sua decisão. Pra mim, morar em Curitiba ou em outra cidade vai mudar muito pouco. É parecido. Seja em SP, BH, Curitiba.’

Por que o Coritiba?
Por dois motivos. Primeiro porque é o meu clube. E segundo porque é o meu clube e organizado. Se fosse o meu clube uma bagunça, eu não voltaria. O Coritiba fez 103 anos agora, eu joguei no pior período do clube. Nos 100 anos não teve um período pior. Me considero vitorioso dentro do Coritiba por isso. Ser profissional do Coritiba naquele momento [início dos anos 90] é uma grande vitória. Quem jogou no Coritiba naquele momento e conseguiu passar ileso merece os parabéns. Foram anos horríveis. Não dá pra separar o Coritiba da minha vida. A mulher que casei é filha do ex-presidente. Apareceu um monte de babaquice, que eu tô voltando ao Coritiba pro meu sogro voltar a ser presidente. Ele nem tem vontade de voltar pro clube, não participa da vida ativa, e nem tem saúde pra isso. Ele me conhece bem, sabe que não participo desse tipo de coisa. Casei lá dentro, as primeiras oportunidades foram lá dentro. Antes de jogador futebol eu já era torcedor do clube. Vi que era torcedor quando estava na Turquia. Me sentia um torcedor do clube. Sofri quando o time caiu contra o Fluminense. Sofri na final da Copa do Brasil contra o Palmeiras. Mas se o clube estivesse uma bagunça tremenda eu ia tentar terminar a minha carreira em outro clube que me desse uma boa condição, como eles estão me dando.

A proposta financeira do Cruzeiro era superior?
Era muito parecida. Se eu fosse negociar com Cruzeiro ou Palmeiras, ou o próprio Coritiba, poderia até ter pego mais dinheiro. Mas não era essa a minha preocupação. Se eu pensasse em dinheiro, teria ido ao Qatar.

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