Sepp Blatter deu hoje a declaração mais transparente de seus 13 anos na presidência do futebol. Ao dizer que “jogadores que sofrem insultos raciais durante as partidas devem aceitar a situação como parte das provocações que ocorrem em campo e, no fim da partida, devem dar as mãos ao oponente que os ofenderam”, o dirigente não deixa dúvidas dos princípios éticos que regem a entidade.
É a lógica canalha de quem vê o futebol como um mundo à parte, com regras próprias. Um mundo em que é permitido usar uma das mais desprezíveis e asquerosas formas de ofensa a outra pessoa, pois faz parte das provocações normais da partida. Um mundo em que é permitido dar as costas para os avanços tecnológicos porque o erro de arbitragem faz parte do jogo, mesmo quando ele parece escandalosamente premeditado. Um mundo em que é permitido associar-se a regimes ditatoriais, afrontar a legislação de um país, pedir propina e manipular eleições, afinal, é tudo “para o bem do jogo”.
Tenha em mente as palavras de Blatter na próxima vez em que duas equipes entrarem em campo, para um jogo de torneio Fifa, com a cínica faixa com a frase “Diga não ao racismo”. A Fifa recomenda dizer não ao racismo, mas não se opõe à sua prática no campo de jogo.
Diante da óbvia rejeição do mundo real à desastrada declaração, Blatter fará o que sempre faz: anunciará a criação de um grupo de trabalho para estudar a incidência do racismo no futebol e como combatê-lo. Um grupo que não discutirá nada e daqui a alguns meses entregará um relatório cheio de obviedades, ditado por algum velhaco da Fifa a uma estagiária de 20 e poucos anos. Este é o mundo de Blatter. Este é o mundo da Fifa.
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