O Atlético expôs contra o Palmeiras todos os seus limites. O limite de um elenco em que sobram opções para algumas funções e faltam para outras. O limite físico de um time que joga um futebol tão intenso a ponto não poder perder as chances de matar o jogo no primeiro tempo, sob risco de morrer na segunda metade da partida. O limite tênue que separa a ousadia tática das carrascadas. O limite emocional de um clube (e aqui falo de torcida, diretoria, jogadores e comissão técnica) que, agora, se vê diante do grande desafio da temporada, a Série B em que ele entra com a obrigação de subir.
Com tantos fatores envolvidos, não surpreende que um simples lance conduza o time ao colapso. Este lance aconteceu aos 35 minutos do primeiro tempo, quando Ligüera recebeu de Edigar após corta-luz de Bruno Mineiro, invadiu a área, hesitou e foi desarmado no momento em que ia chutar. Ali, o Atlético deveria ter feito 3 a 1 e liquidado o jogo. Não fez e os erros começaram a ganhar relevo.
Um deles é anterior ao lance de Ligüera. Suspenso, Héracles não jogou. A opção natural seria improvisar Bruno Costa, machucado. Como Paulo Ninja parece ter caído em algum poço com crocodilos do CT do Caju, Carrasco deslocou Zezinho por ali. Ficou claro que a ideia era variar do 4-3-3 para o 3-3-1-3. Quando Zezinho avançava para a segunda linha, tudo bem. O problema era quando ele recuava para formar a linha de quatro ou se deslocava entre uma e outra. Zezinho e Renan Foguinho cansaram de bater cabeça nessa movimentação. A situação se agravou no segundo tempo, quando Pablo substituiu Cléberson. O Atlético tinha uma linha defensiva com um centroavante, um volante, um zagueiro e um meia-atacante que não conseguia marcar um time espertamente rearmado com três atacantes.
Outro problema grave foi a perda de rendimento de Ligüera a partir da chance desperdiçada. Com o uruguaio mal, os atacantes começaram a sofrer de inanição. E tirar Guerrón foi o remédio errado para o diagnóstico certo. La Dinamita caiu de produção porque a bola não chegava, Chegaria mais com a entrada de Paulo Baier no lugar de Alan Bahia ou mesmo Ligüera. Guerrón saiu, Ricardinho entrou e o nada mudou no ataque rubro-negro.
A essa altura, o time já estava sem comando presente à beira do gramado. Carrasco, em um descontrole imperdoável, agrediu Valdívia e foi bem expulso. É inadmissível que um treinador cometa um ato destes e é preciso de tempo para ver as consequências perante o elenco. Que moral um técnico que agride um jogador adversário terá para pedir calma aos seus comandados? E que moral terá a diretoria para enquadrar o treinador (deveria), sendo que ainda não oferece a ele um elenco completo?
Carrasco é induzido a improvisar mais do que seu estilo já ordena quando olha para o elenco e vê apenas dois especialistas para as laterais, Gabriel Marques para a direita e Héracles para a esquerda. Também se obriga a fazer malabarismos quando procura opções para jogar substituir Manoel ou Bruno Costa e encontra Rafael entregue permanentemente ao departamento médico. Ao menos para o Brasileiro haverá Fernandão para dividir com Bruno Mineiro o posto de 9 de ofício. E olha que falei apenas de quantidade.
Por isso, faz todo o sentido o protesto da torcida pedindo reforços urgentes para a Série B. O que não faz sentido é dar como perdida a classificação para a semifinal. O Palmeiras é tão limitado quando o Cruzeiro e na partida de volta o contra-ataque deve se oferecer mais vezes ao Atlético. E faz menos sentido ainda qualquer discussão envolvendo o Atlético descanbar para o lado político, como ocorreu mais uma vez ontem à noite. A eleição acabou em dezembro e, até onde se sabe, o Atlético continua sendo um só. E esse Atlético precisa criar condições para não viver cada minuto de um jogo em situação limítrofe.