A CBF está a ponto de oficializar um crime contra o futebol brasileiro. Para acomodar o inchado calendário de competições na estreita agenda de 2014, com uma paralisação de mais de um mês durante a Copa do Mundo, a entidade quer quebrar em duas partes as férias dos jogadores, encurtar a pré-temporada e antecipar o início dos estaduais.
Na sexta-feira, conversei com Rinaldo Martorelli, presidente da Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), que explicou a engenharia elaborada pela confederação. A ideia é dar 17 dias de férias no fim deste ano e jogar 13 para durante a Copa do Mundo. Com esse fracionamento, a temporada começaria em 12 de janeiro. Uma sucessão de absurdos que explico melhor logo abaixo.
Os jogadores estão em uma temporada extenuante. Os clubes que forem às finais da Copa do Brasil terão entrado em campo em todos os finais e meios de semana entre a última semana de julho e a última semana de novembro. Caso tenhamos um brasileiro na final da Sul-Americana, a sequência se estenderá até a segunda quarta-feira de dezembro. Mesmo para quem não for tão longe o semestre terá reservado no mínimo 33 partidas para as equipes da Série A, um a menos que a temporada inteira do Campeonato Alemão.
Os jogadores terão apenas 17 dias para se recuperar dessa maratona. Um período oficial de férias de 9 a 25 de dezembro. Sim, por essa conta, os clubes voltariam dia 26 de dezembro, um dia depois do Natal. A partir daí, são outros 17 dias corridos de pré-temporada. Que fatalmente virarão 15, com uma previsível folga no ano-novo. É o mesmo período de pré-temporada reservado para 2013 — já está provado, um período insuficiente.
Os reflexos desse calendário achatado são previsíveis. Ou os clubes fazem essa pré-temporada ridícula e arrebentam seus jogadores, ou chutam o Estadual para longe. Parece-me mais provável a segunda opção, talvez não como o Atlético fez este ano (o campeonato inteiro com o sub-23), mas pelo menos janeiro inteiro com garotos dentro de campo. E depois uma mescla, como já é feito por quem está na Libertadores. Somente quem tiver obrigação contratual nos campeonatos de usar os titulares acabará não seguindo esse caminho.
Será, sem dúvida, um golpe duro nos estaduais. Se eles já sobram em um calendário normal, fica mais evidente o exagero dos estaduais em um ano sem espaço na folhinha. Os estaduais vão inchar até explodir, como a Dona Redonda. E a data para isso acontecer está marcada.
Também segundo Martorelli, há uma conversa avançada com a tevê e a CBF para que, a partir de 2015, não tenhamos mais futebol nos meses de janeiro e dezembro. É a garantia de um mês de férias e outro de pré-temporada. E a exigência de que os estaduais — fracos de público, nível técnico e audiência — terão de ser enxugados. Um horizonte promissor para quem sobreviver à carnificina preparada para 2014.